Aos 95 anos, Warren Buffett ainda tem dois meses antes de deixar o cargo de CEO da Berkshire Hathaway. Mas a perspectiva de sua saída já começa a gerar reflexos na companhia e entre seus admiradores - desde saudade de seus insights e comentários mordazes até preocupações com o futuro da empresa.

As ações da holding multinacional liderada pelo “Oráculo de Omaha” estão perdendo o chamado “prêmio Buffett”, valor adicional que investidores estavam dispostos a pagar pela presença de Buffett no comando.

Segundo o Wall Street Journal (WSJ), as ações classe B da Berkshire Hathaway acumulam queda de 12% desde o encontro anual de investidores em maio, quando Buffett confirmou sua aposentadoria. No mesmo período, o S&P 500 subiu 21%.

A Berkshire divulgará os resultados do terceiro trimestre no sábado, 1º de outubro. Mas alguns analistas já olham para o futuro, preocupados com a gestão sob Greg Abel, escolhido por Buffett como seu sucessor.

A casa de research KBW rebaixou recentemente o rating da Berkshire para “venda”, uma das poucas vezes que a empresa recebeu essa recomendação. A maioria dos rebaixamentos ocorreu durante a crise financeira de 2008, segundo a consultoria FactSet.

Entre os motivos está a saída de Buffett do cargo de CEO, considerada um fator que pode pesar sobre as ações. “Há pessoas que desenvolveram enorme confiança em Warren Buffett”, diz trecho do relatório. “Para elas, é aí que a tese de investimento começa e termina.”

A reputação de Buffett como investidor deu à Berkshire liberdade para operar com pouca contestação dos acionistas. Recentemente, enquanto o mercado se voltava para ações de tecnologia e inteligência artificial (IA), a companhia reduziu sua participação na Apple e acumulou US$ 344 bilhões em caixa.

A Berkshire também não realiza teleconferências de resultados nem emite projeções. Muitas das informações divulgadas ao mercado são baseadas em estimativas e julgamentos subjetivos, com premissas consideradas opacas por alguns investidores.

Analistas acreditam que os investidores podem se tornar menos tolerantes a esse estilo de gestão após a saída de Buffett. Em carta publicada no ano passado, Buffett indicou que Abel deve manter essa abordagem quando assumir o cargo de CEO.

“Greg compartilha do princípio da Berkshire de que um ‘relatório’ é o que um CEO da Berkshire deve anualmente aos acionistas”, diz trecho da carta.

Esses relatórios e a carta anual aos investidores são eventos aguardados por acionistas ao redor do mundo, que tratam os escritos de Buffett como verdadeiros ensinamentos e sua filosofia de investimento como referência absoluta.

Abel assumirá a redação da próxima carta anual aos acionistas da Berkshire, segundo confirmou o assistente de Buffett ao WSJ, e liderará a assembleia anual da empresa em Omaha, no Nebraska. A partir do próximo ano, Buffett, ainda presidente do conselho, sentar-se-á junto aos demais diretores na plateia.

Alguns analistas ponderam que a queda das ações da Berkshire ocorreu em um momento de valuation elevado. O múltiplo P/B estava em 1,7 vez antes do anúncio da aposentadoria de Buffett, acima da média de 1,3 vez dos últimos dez anos.