A Casas Bahia fechou um importante acordo de reperfilamento de sua dívida bancária e vai proteger R$ 1,5 bilhão de seu caixa neste ano. O modelo inédito de recuperação extrajudicial pré-aprovada renegocia um endividamento financeiro total de R$ 4,1 bilhões da rede varejista.

Com isso, o prazo médio de amortização passou de 22 meses para 72 meses. Na negociação, o custo médio de CDI + 2,7% foi reduzido em 1,5 ponto percentual, para CDI + 1,2%. A economia com esse reperfilamento é de R$ 400 milhões no período.

A solução passa a ser definitiva para o problema de desembolso anual da Casas Bahia. Em fevereiro deste ano, a Casas Bahia anunciou uma renegociação de R$ 1,5 bilhão de dívidas que venciam em 2024 e 2025, e ganhou, naquele momento e de modo paliativo, um fôlego extra para tocar o seu plano de reestruturação.

A partir de agora, o plano é definitivo e o próximo pagamento de pouco mais de R$ 250 milhões acontece somente em 2026. E como a negociação foi de alongamento e não de corte da dívida, a alavancagem permanece a mesma, de 0,9 vez.

“Todo ano tínhamos um muro de cerca de R$ 1 bilhão. Era apertado e tirava o foco da parte operacional. A preocupação era o próximo vencimento. Agora, vamos focar na operação”, afirma Renato Franklin, CEO da Casas Bahia, ao NeoFeed.

A operação de reperfilamento da dívida está restrita apenas às séries 6, 7, 8 e 9 de debêntures e às Cédulas de Crédito Bancário (CCB) de Bradesco e Banco do Brasil. Esse endividamento todo será empacotado em uma debênture de duas séries, em um total de R$ 4,1 bilhões.

Nessas quatro debêntures, a Casas Bahia tinha um total de R$ 1,3 bilhão emitidos. Os credores desses títulos serão alocados nas duas séries. A cada R$ 100, 37% ficarão dentro da série 1, que vai pagar CDI + 1,5%, e 63% na série 2, que vai pagar CDI + 1%. A diferença vai além do prêmio: juros e principal da segunda série serão pagos no vencimento em novembro de 2030.

Bradesco e Banco do Brasil tinham R$ 2,2 bilhões em crédito corporativo e R$ 500 milhões com as assets. Os bancos também entrarão como credores dessa nova debênture, mas poderão converter a dívida em equity em um prazo de 18 a 36 meses com um desconto de 20% no preço médio de uma janela de negociação de 90 dias da ação.

Essa condição ao credor parceiro pode ser estendida a qualquer um que abra uma linha de crédito para a Casas Bahia com “dinheiro novo” nas condições semelhantes às acertadas com os bancos.

“Essa renegociação não impacta fornecedores e seguradoras. São apenas os credores financeiros. A companhia passa a ter mais caixa e ganha flexibilidade”, diz Franklin. “Colocamos 80% da dívida para 2030.”

O instrumento que será usado nesse reperfilamento da dívida da Casas Bahia é um modelo inédito de recuperação extrajudicial pré-aprovada. Isso só foi possível porque Banco do Brasil e Bradesco detêm, juntos, quase 67% do endividamento.

A concordância dos principais credores, o modelo simplificado (sem haircut) não devem impedir a aprovação da Justiça no prazo de sete dias. Mas a emissão da nova debênture tem um prazo de 30 dias como proteção contra pedidos de impugnação.

“Mesmo se o cenário macroeconômico ficar desafiador, teremos tranquilidade para colocar o nosso plano de transformação em prática e gerar resultados a partir do ano que vem”, afirma o CEO da Casas Bahia.

Varejista em reestruturação

No ano passado, a Casas Bahia apresentou um plano de reestruturação sob o comando de Renato Franklin que se dividia em duas frentes. A primeira delas era a reestruturação do capital, algo que se concretiza com o reperfilamento da dívida.

Agora, a gestão da rede varejista passa a se debruçar sobre a frente operacional. Alguns avanços já foram mostrados no balanço referente ao quarto trimestre do ano passado (a divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2024 está marcada para 8 de maio).

No fim de 2023, a Casas Bahia conseguiu uma redução de R$ 1,2 bilhão nos estoques e fechou 55 lojas. Outras 45 que seriam fechadas conseguiram ser recuperadas, atingiram o breakeven e seguem no grupo. Dos 10 centros de distribuição, quatro foram ajustados e os outros seis serão revistos neste ano.

Nos próximos dias, a rede varejista anunciará algumas novidades na sua vertical de retail media com um novo modelo em uma loja offline. O canal Casas Bahia Ads, onde fornecedores anunciam e a rede varejista recebe uma receita de mídia, será testado na loja da rede no shopping Aricanduva.

Atualmente, os fornecedores fazem algo semelhante na megaloja da rede varejista que fica na Marginal Tietê, em São Paulo. Mas o modelo não é replicável, ao contrário da loja no shopping Aricanduva, que tem cerca de 4.000 m². Nesse modelo, a Casas Bahia tem outras 150 lojas.

Na bolsa de valores, a ação da Casas Bahia acumula queda de 87,7% em 12 meses e de 52,2% em 2024. O valor de mercado da empresa é de R$ 516 milhões.