A Ambipar foi ao mercado no primeiro semestre do ano passado com apetite de captação. Foram duas emissões - uma para a própria empresa e outra para a Environmental ESG Participações, que integra o grupo, que totalizaram R$ 2,2 bilhões. Mas, com a dificuldade da multinacional de gestão ambiental honrar suas dívidas, seus títulos estão virando pó.
No mercado secundário dos títulos privados, o valor de negociação desses papéis tem um deságio acima de 90%. Eles despencaram a partir de 25 de setembro, quando a Ambipar entrou no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com o pedido de proteção contra credores - o risco é o vencimento antecipado de dívidas de quase R$ 11 bilhões.
O NeoFeed conversou com um gestor, que pediu para não ser identificado, que tinha em carteira pouco mais de R$ 350 mil da debênture AMBP16. O papel dessa debênture gira, neste momento, em torno de R$ 400.
“Esse é um golpe tão grave como foi o da Lojas Americanas. A diferença é que uma era a rede varejista que todo mundo conhecia e a outra tem lixeiras espalhadas na rua”, diz esse gestor, que pediu para não ser identificado.
Ele, porém, está longe de carregar a maior posição. Segundo levantamento do NeoFeed com a base de dados da Anbima e da CVM, existiam 36 fundos diretamente expostos à Ambipar no início de outubro e mais de 365 fundos indiretamente. Ao todo, foram identificados pouco mais de R$ 350 milhões nesses portfólios.
Entre as gestoras com maior exposição, a BB Gestão de Recursos detinha pouco mais de R$ 145 milhões de AMBP16 em cinco fundos de investimento - hoje esses títulos não chegam a R$ 200 mil.
A maior posição é a do BB Top RF Arrojado Fundo de Investimento Financeiro RF LP, com R$ 70,6 milhões. Para esse fundo de fundos, que detém 79 cotistas, mais de R$ 105 bilhões sob gestão e entrega 13,5% de rentabilidade em 12 meses, a participação no resultado é marginal.
Também geridos pela BB Gestão de Recursos, quatro fundos da Brasilprev detinham quase R$ 100 milhões de AMBP16.
Com R$ 48,3 milhões, o Brasilprev Top TP II Fundo de Investimento Financeiro RF CP é o que apresenta a maior posição. Esse fundo de fundos detém 52 cotistas, R$ 14,45 bilhões de patrimônio líquido e retorno de 13,4% em 12 meses.
Procurados, Banco do Brasil não se manifestou. A Brasilprev informou que "não comenta temas de clientes por questões de confidencialidade.”
Por pouco, uma nova emissão
Dois dias antes de ingressar na Justiça com o pedido da cautelar, a Ambipar informou ao mercado em 23 de setembro que seu Conselho de Administração havia aprovado a sétima emissão de debêntures simples no montante de R$ 3 bilhões.
A ideia era antecipar o pagamento dos dois títulos emitidos no ano passado, com o prêmio de resgate, e reforçar sua estrutura de capital.
Em abril de 2024, a multinacional de gestão ambiental fez a sua sexta emissão de dívida, no valor de R$ 1 bilhão, que oferecia uma remuneração de CDI+2,75% para uma classificação de risco pela Fitch Ratings de alta qualidade de crédito para o mercado brasileiro.
Dois meses depois, a Environmental ESG Participações, que integra o Grupo Ambipar, em sua terceira emissão, captou R$ 1,2 bilhão com a mesma remuneração de CDI+2,75%, assim como o rating da agência de classificação de risco.
Com estrutura de emissão robusta, atraiu a atenção de importantes fundos de investimento, principalmente pelo alinhamento à agenda ESG. Na debênture EESG13, por exemplo, foram 53 subscritores, sendo 51 fundos de investimento que subscreveram R$ 725 milhões.
As debêntures AMBP16 e EESG13 eram vistas como de “capacidade muito forte do emissor de cumprir suas obrigações financeiras”.
"Desses mais de R$ 2 bilhões emitidos, o que se consegue mapear é o que está na carteira dos fundos na CVM. Mas foi feita uma emissão lá fora e as plataformas distribuíram essas debêntures para o investidor pessoa física”, diz o CEO de uma gestora que não tem o papel, mas tem tido reuniões com clientes desde que o caso Ambipar estourou.
“Há perto de R$ 1,7 bilhão com pessoas físicas, fundos de pensão, RPPSs e seguradoras que estão com esses papéis mas ainda não é possível saber”, complementa.