Após dois adiamentos, a Americanas anunciou na segunda-feira, 26 de fevereiro, os números de 2023 referentes ao terceiro trimestre. Nos nove primeiros meses de 2023, as receitas da Americanas caíram 45,1% em relação ao mesmo intervalo de 2022, para R$ 10,293 bilhões.

Essa queda foi puxada pelos canais online da companhia, que viram a receita encolher 79,2% no mesmo período, para R$ 1,898 bilhão, numa mostra da perda de confiança dos consumidores.

Os números da Americanas eram aguardados desde o início do ano passado, quando a empresa anunciou uma fraude bilionária em suas demonstrações financeiras, o que acabaria levando a varejista a um processo de recuperação judicial.

A rede varejista registrou prejuízo de R$ 1,621 bilhão no terceiro trimestre de 2023, valor 17,8% menor do que a perda de R$ 1,972 bilhão de um ano antes - número já corrigido em relação aos R$ 212 milhões de prejuízo que a empresa tinha anunciado anteriormente.

A Americanas encerrou os nove primeiros meses de 2023 com um patrimônio líquido negativo em R$ 31,2 bilhões, uma piora de 16,8% sobre os R$ 26,7 bilhões de passivos a descoberto que a empresa tinha anunciado no final de 2022, quando divulgou números corrigidos.

De acordo com a empresa, o prejuízo reflete a forte queda nas vendas online e a elevação das despesas financeiras. Mas, no comunicado, a Americanas ressalta que o endividamento tem tendência de “relevante redução” com a execução do Plano de Recuperação Judicial, no qual a empresa reportou dívidas R$ 42,5 bilhões.

No comunicado, a rede varejista informa que as  dívidas líquidas somaram R$ 33,4 bilhões,  aumento de 10,6% na comparação com setembro de 2022. A dívida bruta somou 38 bilhões de reais.

Já o Volume Bruto de Mercadorias (GVM), por sua vez, recuou 51,1% de janeiro a setembro do ano passado em comparação ao mesmo período de 2022. Ao longo do ano, a Americanas fechou 99 lojas físicas no País, encerrando setembro com 1.764 unidades.

O Ebitda (Resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Americanas entre janeiro e setembro de 2023 ficou em R$ 1,55 bilhão, em alta de 21,3% sobre o Ebitda de R$ 1,28 bilhão de um ano antes - ambos os dados corrigidos.

"O ano de 2023 foi, sem dúvida, o mais desafiador da história da Americanas, não só pela magnitude da fraude revelada, mas pela necessidade de reconstrução que se apresentou”, disse a empresa em nota.

Próximos passos

No comunicado, a Americanas afirma ter criado um plano de comunicação para mostrar que a operação segue correndo normalmente, com ações em duas direções: redução do prazo de repasse para os vendedores e esforço para manter estoques e o prazo das entregas para os clientes.

Por outro lado, em reação à queda de quase 80% da receita dos canais online, a rede também anunciou mudanças na estratégia do digital, passando algumas categorias de produto do estoque próprio (o chamado 1P) para os dos parceiros do marketplace (o chamado 3P), visando a melhorar a  rentabilidade.

De acordo com a varejista, as vendas com estoques de terceiros subiram de 51% do total do e-commerce nos nove primeiros meses de 2022 para 65% do total no mesmo intervalo do ano passado.

Em relação ao plano de recuperação judicial, a varejista anunciou uma estratégia de ação em três etapas. Na primeira delas, até 15 de março, a varejista prevê o recebimento de termos de adesão dos chamados credores fornecedores colaboradores, que inclui credores de até R$ 12 mil e credores que dão quitação por R$ 12 mil.

A segunda etapa, prevista para ocorrer até 1º de abril, prevê desembolso dos recursos destinados aos credores fornecedores colaboradores; pagamento de Classe I e IV (remanescente), de credores até R$ 12 mil e de credores que dão quitação por R$ 12 mil; e recebimento de termos de adesão de demais fornecedores, incluindo os de Tecnologia, Opção de Reestruturação I e II e credores com valores retidos.

A última etapa, até 15 de abril, terá desembolso dos recursos destinados aos credores fornecedores de tecnologia, além de  convocação da Assembleia Geral para discutir aumento de capital e a reestruturação da empresa.