Passados quase 18 meses de execução do seu plano de recuperação judicial, a Americanas entende que está prestes a colocar um ponto final em uma saga turbulenta, cujo estopim foi a descoberta, no início de 2023, de uma fraude contábil de R$ 25 bilhões em sua operação.
“A nossa recuperação judicial foi executada, essencialmente, em 2024”, disse Camille Faria, CFO da Americanas, em call com investidores e analistas sobre o balanço da varejista no segundo trimestre de 2025, na manhã de quarta-feira, 13 de agosto.
“Hoje, apesar do selo de companhia sob supervisão judicial, nós vivemos, essencialmente, uma vida normal, com 99% do dia focado em nossa recuperação operacional”, afirmou ela. “E esperamos ansiosamente pelo prazo de dois anos para podermos pleitear o fim desse capítulo.”
Aprovado por credores em dezembro de 2023, o plano de recuperação judicial da Americanas foi homologado e colocado em prática, de fato, em fevereiro 2024. Na época, a empresa contabilizava um total de R$ 42 bilhões em dívida com credores, sem considerar dívidas intercompany.
No segundo trimestre de 2025, a rede reportou uma dívida bruta de R$ 1,9 bilhão, composta por R$ 1,8 bilhão em debêntures e R$ 54 milhões em empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos. E uma posição de caixa e equivalentes, incluindo recebíveis, líquida, de R$ 103 milhões.
Levando-se em conta, porém, os passivos remanescentes do plano de recuperação judicial, o saldo da dívida líquida no fim do trimestre foi de R$ 372 milhões. Entre outras frentes, esses passivos incluem dívidas com fornecedores que, trazidas a valor presente, somam R$ 459 milhões.
Apesar da visão interna de que a luz no fim do túnel está se aproximando, ainda existem algumas questões pendentes para completar esse percurso. E o balanço foi acompanhado de uma atualização sobre um desses compromissos, ainda não entregue: a venda da rede de hortifrutis Natural da Terra.
Em comunicado divulgado na noite da terça-feira, 12 de agosto, a Americanas informou que voltou a sondar o mercado em busca de interessados no ativo, um processo que havia sido interrompido no fim de 2023.
“É um ativo valioso, com uma marca importante no Rio de Janeiro, pontos estratégicos em São Paulo, e que pode ser atrativo para diversos players”, disse Faria. “Por outro lado, estamos bem realistas, pois sabemos que o cenário macro mais desafiador afeta o valuation.”
No saldo desse contexto, ela ressaltou que a expectativa é receber uma proposta que reflita o valor que a Americanas enxerga na rede em questão. E que os recursos levantados serão aplicados, obrigatoriamente, para reduzir ainda mais a alavancagem da varejista.
Páscoa tardia
Em paralelo a essa movimentação, a Americanas reportou seus dados em comparação com o segundo trimestre e também o segundo semestre de 2024. Para a companhia, esse último formato traz um retrato mais fiel da operação, em função do descasamento da data da Páscoa em 2025 e ano passado.
A rede encerrou o período om um prejuízo líquido de R$ 98 milhões, queda de 94,7% na comparação com o segundo trimestre de 2024. Já em base semestral, a perda de R$ 594 milhões representou uma redução de 57,9% em relação à primeira metade do ano passado.
Entre abril e junho, a varejista reportou uma receita líquida de R$ 3,8 bilhões, alta de 24,7%. No semestre, o indicador ficou em R$ 6,9 bilhões, um avanço de 1,7%. Já o volume bruto de mercadorias (GMV) cresceu 15,6%, para R$ 5,2 bilhões, no trimestre, e teve uma retração semestral de 6,6%, para R$ 9,3 bilhões.
No detalhe dessa linha, o GMV das lojas físicas avançou 35,7%, para R$ 4,3 bilhões, no trimestre, e, 4,3% no semestre, para R$ 7,4 bilhões. No digital, houve quedas, respectivamente, de 68,7%, para R$ 213 milhões, e de 64,2%, para R$ 573 milhões.
O Ebitda ajustado trimestral, por sua vez, saltou de R$ 25 milhões, para R$ 329 milhões, e o semestral, 15,3%, para R$ 309 milhões. Enquanto a margem bruta do trimestre caiu 6,5 pontos percentuais, para 28,3%, e 5,2 pontos percentuais na primeira metade do ano, para 28,7%.
Após registrar alta de mais de 6% pela manhã, as ações AMER3, da Americanas, recuavam 3,17% por volta das 13h15 na B3, cotadas a R$ 5,49. No ano, os papéis têm queda acumulada de 11,4%. A varejista está avaliada em R$ 1,09 bilhão.