Na terça-feira, 14 de maio, um dia depois de rejeitar, pela segunda vez, uma oferta de aquisição feita pela rival BHP, que ampliou seu “lance” de £ 31 bilhões (US$ 39 bilhões) para £ 34 bilhões (US$ 43 bilhões), a Anglo American divulgou uma ampla reorganização das suas operações.
Em comunicado, a mineradora anunciou que, após concluir uma revisão de ativos iniciada em 2023, estruturou um plano “claro, convincente e decisivo” para desbloquear um valor significativo em seu portfólio e entregar retornos “consistentemente mais fortes” para seus acionistas.
Nessa direção, o grupo irá se concentrar em seus negócios de cobre, minério de ferro e insumos agrícolas. A estratégia inclui a venda ou a cisão de ativos como a De Beers, de produção de diamantes; da Anglo American Platinun, com sede na África do Sul; e das operações de níquel e carvão metalúrgico.
“Essas ações representam as mudanças mais radicais para a Anglo American em décadas”, afirmou, na nota, Duncan Wanblad, CEO da mineradora, sobre os novos planos para a companhia fundada há 107 anos.
“Esperamos que um negócio radicalmente mais simples proporcione a criação de um valor incremental sustentável através de uma mudança radical no desempenho operacional e na redução de custos”, disse o executivo.
Em conferência realizada após a divulgação do plano, o CEO acrescentou que a companhia será “extremamente valorizada” até o fim de 2025, quando essa reestruturação estiver concluída. “Se alguém quiser nos comprar naquele momento, terá que pagar uma quantia enorme por isso”, afirmou.
Como parte dessa reestruturação, a Anglo American também informou que pretende reduzir os gastos com o projeto de Woodsmith, no Reino Unido, que envolve uma mina subterrânea para a produção de um fertilizante mineral natural.
Com as mudanças sugeridas, a projeção da companhia é alcançar uma redução de custos de US$ 1,7 bilhão até o fim de 2025. Nesse período, a estimativa é chegar a um patamar de alavancagem inferior a 1,5 vez e manter o volume atual de distribuição de dividendos.
O anúncio acontece em um momento em que Wanblad tem enfrentado uma forte pressão dos acionistas sobre os rumos da empresa como um grupo independente, após a rejeição das ofertas da BHP, que incluíam a exigência de separação das unidades da Anglo American na África do Sul.
Nesse cenário, parte dos acionistas entende que os negócios de cobre da companhia têm sido ofuscados justamente por operações como os ativos de produção de diamantes. Em entrevista ao Financial Times, um dos principais investidores do grupo, cujo nome não foi revelado, comentou sobre o novo plano.
“É uma proposta muito equilibrada e faz muito sentido”, afirmou. “É uma tentativa clara da gestão de preparar o negócio para o sucesso ao se concentrar em um número de negócios onde a empresa claramente tem uma vantagem competitiva com seus ativos.”
Quem também se mostrou favorável ao plano apresentado pela Anglo American foi Gwede Mantashe, ministro de recursos minerais da África do Sul. No fim de abril, ele havia deixado clara a sua posição contra um acordo com a BHP.
“Estou feliz com a rejeição do acordo com a BHP e espero que isso tenha sequência. Assim, a Anglo pode se reestruturar para destravar valor para os seus acionistas”, afirmou o ministro, também em entrevista ao jornal britânico.
Na bolsa de Londres, porém, a reação inicial ao plano, ao que tudo indica, não foi favorável. Por volta das 13h30 (horário local), as ações da Anglo American registravam queda de 3,28%. Já em 2024, os papéis acumulam uma valorização próxima de 33%. O grupo está avaliado em £ 35 bilhões.