Após a proposta de capitalização de R$ 10 bilhões da Cosan, liderada por BTG Pactual, Perfin e o Aguassanta, o family office de Rubens Ometto, o mercado se pergunta quais são as alternativas para a solução do endividamento da Raízen, a joint venture que a Cosan mantém com a britânica Shell.

Com uma dívida de R$ 49,2 bilhões, o que significa uma alavancagem de 4,5 vezes no primeiro trimestre da safra 2024/2025 (encerrado em junho), o mercado acreditava que a Raízen conseguiria um sócio antes da Cosan – e os sinais emitidos por fontes próximas à empresa iam nessa direção.

Mas a capitalização da Cosan estreitou as opções da Raízen e, neste momento, não há muitas alternativas na mesa. “A capitalização da Cosan é um recado para a Shell se movimentar”, diz uma fonte.

Na teleconferência sobre a capitalização, na segunda-feira, 22 de setembro, a Cosan deixou claro que "não há previsão de uso de recursos para capitalização da Raízen". Fontes com as quais o NeoFeed conversou acreditam que a Shell não tem interesse em capitalizar sozinha a Raízen, pois teria de consolidar a dívida em seu balanço.

A alternativa é buscar um sócio. Os nomes da Mitsubishi e da Mitsui estavam em negociação antes da capitalização da Cosan. O CEO da Cosan, Marcelo Martins, chegou a ir a Londres, no começo de setembro, para apresentar à Shell as propostas de capitalização para a Raízen.

Mas, desde então, o que se viu foi que a opção foi resolver a Cosan primeiro. “A proposta do BTG foi uma alternativa rápida. O negócio estava piorando e havia propostas na mesa. Não dava para esperar”, afirma uma fonte que conhece os corredores da Cosan.

O preço que o BTG está pagando, de R$ 5 por ação, de acordo com essa fonte, é uma foto do risco que o banco de André Esteves está correndo para entrar na Cosan. Ao mesmo tempo, já incorpora o fato de tudo dar errado na Raízen.

De acordo com outra fonte, sempre foi mais fácil buscar dinheiro para a Cosan do que para a Raízen. “Ela tem bons ativos, como a Rumo, a Moove e Compass”, afirma. “A Raízen mal consegue gerar caixa suficiente para pagar o capex de manutenção.” E prossegue: “Não vejo como estancar a queima de caixa da empresa nos próximos um ou dois anos.”

Por conta disso, a Raízen embarcou em uma estratégia de redução de custos e de desinvestimentos que já somam mais de R$ 4,2 bilhões. Encerrou também a joint venture com a Femsa, que envolvia lojas de conveniência e proximidade criada pelas duas companhias em 2019.

O ativo da Argentina, que gera caixa, está à venda. A expectativa é conseguir entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões. Mas mesmo esse valor talvez não seja suficiente para resolver o problema no curto e médio prazo. “A Argentina não paga um ano de juro da dívida”, diz essa fonte.

Com as opções mais estreitas, uma recuperação judicial (RJ) ou extrajudicial (RE) não pode ser considerada uma carta fora do baralho, segundo as fontes ouvidas pelo NeoFeed. "Creio que eles vão encontrar um caminho do meio", diz uma fonte.

Não há uma conversa sobre o tema neste momento, segundo apurou o NeoFeed. A entrada do BTG, segundo uma fonte, deve ajudar a acessar bolsos internacionais, o que pode beneficiar a Raízen. Mas uma RJ ou RE é hipótese que não pode ser descartada.

Enquanto isso, o tempo está correndo. Procurada, a Raízen informou que não iria comentar.