Maior produtora de celulose do mundo, a Suzano deu um passo significativo em seu plano de expansão e de verticalização das atividades com o anúncio da compra das operações de papel higiênico (tissue) da americana Kimberly-Clark no Brasil, dona das marcas Neve e Kleenex. 

O movimento não foi robusto em termos financeiros, com a empresa planejando pagar os US$ 175 milhões acordados com recursos em caixa, sem afetar o índice de alavancagem, que fechou o terceiro trimestre em 2,2 vezes. 

Mas ele é importante em termos estratégicos, ao posicionar a Suzano dentro de um mercado que apresenta forte potencial de expansão no País e por ajudar a mitigar os efeitos da flutuação dos preços da celulose, indo para um mercado um pouco mais estável em termos de demanda. 

“Vemos uma migração de produtos mais básicos, de folha simples, para produtos de folha dupla ou tripla, nos últimos dez anos e a expectativa é de que essa tendência seja mantida”, afirmou Luis Bueno, diretor executivo de bens de consumo e relações corporativas em entrevista a respeito dos resultados do terceiro trimestre. 

De acordo com ele, o consumo per capita de papel no Brasil por ano ainda é muito baixo, "Estamos falando de sete quilos por pessoa”, afirmou Bueno, destacando que esse total está abaixo do Chile, que fica na casa de 14 quilos, e da Europa e EUA, entre 25 e 29 quilos.

Com a operação da Kimberly-Clark, os executivos da Suzano estimam que a participação de mercado em tissue irá dos atuais 12,8% para 22,2%, a partir de dados da consultoria Nielsen, se aproximando da Softys, um dos principais nomes do mercado, cuja parcela é de 23,5%. Os executivos disseram que não estabeleceram metas de market share para os próximos anos. 

Além disso, a compra da Kimberly-Clark vai permitir à Suzano entrar em mercados que suas operações de tissue ainda não atuam, como é o caso de away from home, que é o fornecimento de papéis higiênicos para uso institucional. 

A Suzano começou a atuar no mercado de tissue, em 2017, por meio da fábrica em Mucuri (BA). Posteriormente, ela expandiu sua atuação para a unidade de Imperatriz (MA) e avançou sua presença no mercado com a aquisição da Facepa, em 2017, proporcionando posição de liderança nas regiões Norte e Nordeste. 

Dona das marcas de papel higiênico Mimmo e Floral, a Suzano possui capacidade instalada de 150 mil toneladas anuais e com a chegada da Kimberly-Clark, que tem uma fábrica em Mogi das Cruzes (SP), ela agrega uma capacidade de produção de 130 mil toneladas por ano. E com a fábrica sendo construída em Aracruz, prevista para ser inaugurada em dois anos, a Suzano poderá acrescentar mais 60 mil toneladas anuais.

Segundo Bueno, a transação traz complementaridade de produtos e regiões, fortalecendo a posição da Suzano no mercado do Sudeste. Por conta disso, não há planos de realizar mudanças na estratégia de preço ou de marcas depois que a operação for aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “A nossa intenção é manter as marcas [da Kimberly-Clark], porque são complementares, com fortalezas diferentes por região”, afirmou. 

Resultado recorde

Os resultados da Suzano no terceiro trimestre alcançaram patamares recordes, com destaque para a linha de Ebitda, superando as expectativas dos analistas, diante dos preços elevados da celulose em meio à restrição da oferta, junto com uma demanda em patamares robustos, além de uma melhora da linha financeira. 

Os problemas de oferta de celulose foram provocados por problemas logísticos, paradas não programadas de fábricas, escassez de madeira em função de sanções à Rússia e atrasos na entrada de novas capacidades. 

No caso da divisão de papel, a empresa se beneficiou da demanda interna e dos reajustes de preços feitos ao longo do ano na divisão de papel, que levaram a um avanço de 40%, nos preços médios no terceiro trimestre, comparado com o mesmo período de 2021. 

Esta conjunção de fatores fez com que a Suzano registrasse um lucro líquido de R$ 5,4 bilhões no terceiro trimestre, revertendo o prejuízo registrado no mesmo período de 2021. 

A receita líquida cresceu 32%, na mesma comparação, para R$ 14,2 bilhões, enquanto o Ebitda ajustado subiu 36%, a R$ 8,6 bilhões. A margem do Ebitda ajustado cresceu em 2 pontos percentuais, para 61%. 

O Ebitda ajustado veio 3% acima do esperado pelos analistas do Itaú BBA e superou em 5% as estimativas da equipe do Santander. 

Por volta das 13h48, as ações da Suzano subiam 2,99%, a R$ 54,71. No ano, elas acumulam queda de 6,8%, levando o valor de mercado a R$ 71,6 bilhões.