Em abril de 2022, Marcelo Pimentel foi nomeado CEO do GPA em mais um episódio da reestruturação da empresa após a cisão com o Assaí e a saída do formato de hipermercados. Na época, o executivo assumiu com o discurso de resgatar o perfil premium e a rentabilidade do grupo.

Prestes a completar um ano sob o comando do executivo, a empresa apresentou o mais novo capítulo dessa história na noite da segunda-feira, 27 de fevereiro, ao divulgar seu balanço referente ao quarto trimestre e ao ano consolidado de 2022. E a reação inicial aos indicadores não foi nada positiva.

Na manhã desta terça-feira, 28 de fevereiro, em conferência com analistas, a gestão foi bastante questionada sobre os números aquém do esperado e a respeito da percepção de que o turnaround não está andando na velocidade esperada.

Um dos pontos mais abordados foi a margem bruta que, na operação brasileira, ficou em 22,3%, o que traduziu uma perda de 4,5 pontos percentuais na comparação com o quarto trimestre de 2021. E foi justamente esse indicador usado pelo executivo para reforçar a expectativa de dias melhores à frente.

“Nossa margem foi fortemente impactada, mas é importante ressaltar que atingimos esse vale no quarto trimestre”, afirmou Pimentel. “Agora, já vemos sinais de melhora no primeiro trimestre e nossa expectativa é de uma retomada gradual em 2023.”

O executivo complementou dizendo que houve frutos do trabalho que está sendo feito em frentes como o ajuste de sortimento após a saída de hipermercados e o redirecionamento do foco, priorizando os formatos de supermercados e lojas de proximidade.

“Estamos desligando algumas categorias e fornecedores, o que impactou um pouco mais o nosso mark down”, explicou. “Em outra consequência, tivemos um nível de quebra maior que o esperado, o que afetou a margem comercial.”

Para realçar seu tom de otimismo, ele ressaltou que, nesse processo, a varejista já vem reduzindo tanto o volume como a limpeza dos estoques. O que, por consequência, vai diminuir o impacto de questões como o custo logístico e a pressão inflacionária, beneficiando a margem bruta.

Pimentel também destacou outros pilares em execução na operação. O primeiro deles, o processo de renegociação com fornecedores para readequar o mix e as condições comerciais ao modelo agora centrado basicamente em supermercados e na bandeira Minuto Pão de Açúcar.

“Outro ponto é o aumento da penetração dos produtos perecíveis, que ajudam a melhorar a recorrência e a fidelização do cliente, mas também, a margem bruta”, disse o CEO do GPA. “A categoria já tem uma participação de 48% nas vendas e o objetivo é chegar a 53% até o fim do próximo ano.”

Entre outros componentes, Pimentel também ressaltou como sinais de melhora os avanços nas vendas mesmas lojas, de 7,3% no quarto trimestre, excluindo postos, a partir do crescimento nesse indicador em todas as bandeiras. No Pão de Açúcar, de 6,7%, e no Mercado Extra e no Compre Bem, de 4,1%.

Apesar do esforço de Pimentel e de seus pares, a reação inicial do mercado veio em linha com a percepção dos analistas. Por volta das 12h27, as ações do GPA operavam com forte queda de 9,26%. No ano, os papéis registram um recuo de mais de 8%. O grupo está avaliado em R$ 4 bilhões.

Balanço

No quarto trimestre, o GPA reportou um prejuízo líquido de R$ 1,1 bilhão, contra um lucro de R$ 777 milhões, em igual período de 2021. No ano consolidado, a perda foi de R$ 172 milhões, revertendo um lucro líquido de R$ 802 milhões.

A varejista atribuiu o resultado na última linha do balanço trimestral a efeitos não recorrentes que totalizaram R$ 956 milhões. Entre eles, R$ 288 milhões referentes à provisão de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Excluindo esses efeitos, o prejuízo no período foi de R$ 146 milhões.

Entre outubro e dezembro, o grupo registrou uma receita líquida de R$ 11,8 bilhões, o que representou uma ligeira queda de 0,9%. Em 2022, a receita líquida avançou 4,5%, para R$ 42,4 bilhões. A receita da operação no Brasil cresceu 10,9% no trimestre, para R$ 4,9 bilhões, e 6,3% no ano, para R$ 17,2 bilhões.

Já a receita líquida da bandeira Éxito, com operações na Colômbia, Uruguai e Argentina, ficou em R$ 6,9 bilhões no quarto trimestre de 2022, um recuo anual de 7,7%. No ano, o indicador mostrou um crescimento de 3,4%, para R$ 25,1 bilhões.

Em outros números, o GPA reportou um Ebtida ajustado de R$ 835 milhões no quarto trimestre de 2022, o que equivaleu a uma queda anual de 25,3%. No ano consolidado, o recuo foi de 13,9%, para R$ 2,8 bilhões.

A empresa encerrou o período com uma dívida líquida de R$ 2 bilhões e uma alavancagem, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, de 2,3 vezes. No fim do trimestre, a posição de caixa da operação foi de R$ 3,8 bilhões.