O CEO e fundador da IWG, Mark Dixon é um típico exemplo de self-made man. Filho de um mecânico, o empresário britânico de 59 anos começou a mostrar sua vocação para os negócios desde cedo.

Ainda adolescente, sua experiência como empreendedor foi a entrega de lanches por bicicleta. A trajetória, em seguida, incluiu ainda passagens como barman e vendedor de enciclopédias, entre outras empreitadas.

Mais tarde, aos 29 anos, ele fundou a IWG, na época, batizada como Regus. A primeira unidade foi inaugurada em Bruxelas, na Bélgica. Os anos seguintes marcaram o início da expansão do grupo, no qual o empresário detém hoje uma fatia de 27%. Em 1994, por exemplo, a companhia chegou à América Latina e à China.

Depois de abrir capital no ano 2000, na Bolsa de Londres, a empresa viveu maus bocados e chegou a pedir proteção contra falência para a sua operação americana, em 2003. A crise teve como origem o crescimento acelerado na esteira da demanda alimentada pelas empresas pontocom.

Recuperada, a empresa seguiu em sua trilha de expansão. E um dos caminhos escolhidos foi a consolidação. Em 2004, a companhia comprou a americana HQ Global Holdings, sua maior rival na época. A estratégia passou ainda pelas compras da holandesa Spaces, em 2014, e da sueca N⁰18, em 2018.

Em entrevista exclusiva ao NeoFeed, o empresário falou sobre a companhia e sobre os possíveis reflexos para o setor diante da crise vivida pela WeWork, seu maior concorrente. Confira:

O WeWork foi muito badalado nos últimos anos. Como você avalia os problemas enfrentados pela empresa nos últimos meses?
A WeWork vem fazendo um bom trabalho de divulgação do setor nos últimos anos. Não cabe a mim julgar o que lhes aconteceu nas últimas semanas. Desejo o melhor para a empresa e seus funcionários.

Como essa situação pode beneficiar outros concorrentes, como a IWG?
Os clientes querem um parceiro confiável. Sempre há uma procura pela qualidade em momentos como este. E como uma empresa sustentável há muito tempo no mercado, somos uma escolha estável para as empresas de todos os tamanhos.

Por outro lado, esse contexto pode trazer algum risco para o setor?
Acho que o setor segue em uma posição muito forte. Existem vários ventos estruturais que impulsionam o seu crescimento: empresas que desejam retirar o custo do espaço de escritório de seus balanços; trabalhadores que querem mais flexibilidade e proximidade de casa; e pessoas que buscam alternativas mais ambientalmente amigáveis, já que o coworking reduz significativamente os tempos de deslocamento.

"Somos o player que mais cresce em quase todos os mercados existentes e estamos abrindo mais novos mercados do que qualquer outro rival"

A IWG é um contraponto no setor por ser uma operação lucrativa. Qual é o segredo por trás desses números?
Somos os líderes desse mercado com alguma distância há 30 anos. De fato, apesar do nosso tamanho, somos o player que mais cresce em quase todos os mercados existentes e estamos abrindo mais novos mercados do que qualquer outro rival. Cerca de 300 por ano, o que representa 850 mil metros quadrados de escritórios. Um fator importante é que somos multimarcas. Operamos cinco marcas diferentes, cada uma delas direcionada a diferentes segmentos do mercado. Isso significa que podemos oferecer mais variedade de estilos e locais de espaço de trabalho do que qualquer provedor. Além disso, estamos estabelecendo mais parcerias do que os concorrentes e acelerando o nosso crescimento por meio de franquias.

Qual é o peso desse modelo de franquias na estratégia da empresa?
Nesse setor, você precisa de escala para ter sucesso. O formato de franquias nos permite alcançar essa escala, mas com o risco e o custo compartilhados.

Como você enxerga as perspectivas da IWG no mercado brasileiro? Qual é a relevância do País no mapa global de operações do grupo?
O Brasil é o maior mercado do setor na América Latina e também para a IWG. No ano passado, o segmento de coworking cresceu mais de 50% no País, com mais de uma estrutura aberta todos os dias. Nós enxergamos esse contexto como uma oportunidade de expansão em duas áreas diferentes: crescimento orgânico, nos principais mercados, e acordos de franquias, para os mercados secundários. Os últimos três anos foram um período de forte crescimento no Brasil e, agora, nós operamos mais de 66 centros e mais de 100 mil metros quadrados em todo o País.

Quais são as metas de expansão no País?
Nós, certamente, vemos potencial para muitos outros centros nos próximos anos e sempre vamos considerar investimentos onde houver uma forte demanda. Globalmente, já investimos centenas de milhões na expansão da nossa rede neste ano e nosso modelo de parceria nos ajudará a aumentar ainda mais a nossa presença.

Quais são as prioridades na estratégia local?
Um dos focos é aumentar nosso modelo de franquias no Brasil. Lançamos o modelo no País em dezembro do ano passado e tivemos uma reação muito positiva de possíveis franqueados. O mais importante para o sucesso desse modelo é encontrar os parceiros certos, com experiência e capital.

O grupo pretende ampliar sua oferta no País?
Estamos trabalhando para trazer nossas outras três marcas ao Brasil: Signature by Regus, HQ e Nº 18. O mercado brasileiro vem tendo um bom desempenho e realmente adotou o conceito de espaço de trabalho flexível. Com o lançamento dessas marcas e a diversificação de nossa oferta, vamos poder atender à variedade de demandas, dos empreendedores e pequenas e médias empresas até grandes corporações brasileiras, em diversos setores.

"No ano passado, o segmento de coworking cresceu mais de 50% no Brasil, com mais de uma estrutura aberta todos os dias"

Quais as lições que a IWG tirou do pedido de proteção contra a falência da operação americana da Regus, em 2003?
Nós aprendemos que, nessa indústria, é preciso sempre se planejar para o pior resultado. E não o melhor. A falência das nossas operações americanas veio em meio a uma profunda recessão. Hoje, nós operamos em mais de 110 países e vemos recessões o tempo todo. No momento, estamos lidando com quedas significativas na Venezuela e em outros mercados. Nós nos tornamos muito bons em gerenciar recessões e transformá-las em oportunidades. Os anos de 2009 e 2010, por exemplo, foram dois dos nossos períodos mais fortes de todos os tempos. Nosso negócio nos Estados Unidos é agora o mercado que mais cresce. Ainda temos muitas oportunidades para explorar.

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