O impacto causado na economia global com a Guerra na Ucrânia pode ser dimensionado pela baixíssima quantidade de empresas do mundo inteiro que, pela primeira vez, decidiram abrir seu capital, oferecendo ações na Bolsa de Valores ao longo de 2022.
Um levantamento da consultoria EY mostra que o número de lançamentos globais de IPO (Oferta Pública Inicial, nas iniciais em inglês) caiu 45% em 2022 em relação ao ano anterior.
Apenas 1.333 empresas começaram a negociar publicamente suas ações nesse ano. Em 2021, foram 2.436 IPOs, um recorde. Em volume de dinheiro arrecadado, a queda foi ainda maior – de 61%, para US$ 179,5 bilhões.
No Brasil, a B3, a bolsa de valores brasileira, vai fechar o ano sem nenhuma abertura de capital, o que não corria desde 1998. No ano passado foram 46 IPOs e em 2020, 28. No País, em 2022, foram realizados apenas 17 follow ons, as ofertas subsequentes de ações de empresas que já têm capital aberto.
A Guerra da Ucrânia – que elevou o preço dos combustíveis e de alimentos, alimentando a alta da inflação e das taxas de juros na maioria dos países – é apontada como o principal vetor para essa queda de IPOs.
“Um ano recorde para IPOs em 2021 deu lugar ao aumento da volatilidade devido ao aumento das tensões geopolíticas, inflação e aumentos agressivos das taxas de juros”, afirma Paul Go, líder global de IPO da EY, no relatório.
De acordo com a consultoria, as condições de mercado desfavoráveis e o "desempenho sombrio de muitos IPOs listados desde 2021" também prejudicaram o mercado de IPOs esse ano.
Os bancos centrais em todo o mundo aumentaram os custos dos empréstimos para reduzir as taxas de inflação, que estouraram bem acima de suas metas, desestimulando os investimentos no mercado acionário.
De acordo com o economista Carlos Honorato, professor da FIA Business School, o aumento da taxa de juros, com risco e startups supervalorizadas, alinha bons argumentos para explicar essa queda. “Quem faz IPO às vezes esquece que é uma dívida e vai ter que entregar resultados”, diz Honorato.
Mesmo assim, o setor de tecnologia manteve a liderança em volume em 2022, com 23% do total, com 310 IPOs. Já setor de energia, impactado pela guerra, foi o que mais cresceu em relação a 2021, respondendo por 22% das receitas – bem acima dos 6% do ano anterior, para US$ 39,9 bilhões.
Nas bolsas da América do Norte, ocorreram 130 IPOs em 2022, queda de 76%. O volume de dinheiro arrecadado foi de US$ 9 bilhões, o que representou um recuo de 95% em relação ao ano anterior. No ano, a Nasdaq teve 81 IPOs, a Bolsa de Valores de Nova York, 9 e a Bolsa de Valores de Toronto, 13.
Um dado interessante divulgado no relatório foi a queda do fluxo de empresas chinesas listadas nas bolsas dos EUA, de 61% a partir de 2021. As tensões EUA-China e as regulamentações governamentais, juntamente com uma desaceleração no mercado de capitais dos EUA, são apontadas como razões para essa queda.