Na trilha do Ozempic, da dinamarquesa Novo Nordisk, os medicamentos para tratar a obesidade vêm alimentando investimentos bilionários por parte da indústria farmacêutica. Em paralelo a esse boom, há outra corrente, porém, despertando o apetite dos aportes bilionários no setor: o tratamento do câncer.
Na terça-feira, 19 de março, quem reforçou essa conta foi a AstraZeneca. O grupo anglo-sueco anunciou a compra da biotech canadense Fusion Pharmaceuticals, em uma transação que pode chegar a um valor total de US$ 2,4 bilhões.
Fundada em 2014, a empresa pesquisa e desenvolve radioconjugados de próxima geração para o tratamento do câncer. E, depois de captar US$ 230 milhões junto a investidores como o Canada Pension Plan Investment Board, abriu capital na Nasdaq em 2020, onde está avaliada em US$ 770 milhões.
Em comunicado, a AstraZeneca ressaltou que a aquisição marca um grande passo na concretização do seu objetivo de oferecer novas alternativas para substituir métodos tradicionais como a quimioterapia e a radioterapia.
“Hoje, entre 30 e 50% dos pacientes com câncer recebem radioterapia em algum momento durante o tratamento. A aquisição da Fusion reforça a nossa ambição de transformar esse aspecto do cuidado com a próxima geração de radioconjugados”, disse, em nota, Susan Galbraith, vice-presidente executiva de pesquisa e desenvolvimento em oncologia da AstraZeneca.
CEO da Fusion, John Valliant acrescentou: “Essa aquisição combina a experiência e as capacidades da Fusion em radioconjugados com a liderança da AstraZeneca em pequenas moléculas e engenharia biológica para desenvolver novos radioconjugados”.
Tendência recente no setor, os radioconjugados permitem atuar diretamente no combate às células cancerígenas. Entre outras vantagens em relação aos tratamentos tradicionais, esse método minimiza os danos às células saudáveis e possibilita tratar tumores não acessíveis por meio de radiação externa.
Com o acordo, além de reforçar o seu portfólio de oncologia com pesquisas avançadas da Fusion no segmento, a AstraZeneca quer acelerar um potencial novo tratamento para o câncer de próstata da biotech, que já está em sua fase dois de testes, entre outras frentes.
A expectativa é de que a transação seja concluída no segundo trimestre de 2024. A AstraZeneca irá adquirir todas as ações em circulação da Fusion e pagará US$ 21 por cada papel, além de um valor contingente intransferível de US$ 3 por ação em dinheiro, atrelado a determinadas condições.
Caso o valor total seja alcançado, o preço pago por cada papel representa um prêmio de 126% sobre o patamar da ação da Fusion no fechamento do pregão de ontem, 18 de março, na casa de US$ 10,64.
A AstraZeneca já tinha feito outro movimento recente em oncologia, área que representou 40% da sua receita total de US$ 45,8 bilhões em 2023. Em dezembro, o grupo comprou a biotech chinesa Gracell, de terapias celulares para o tratamento do câncer e de doenças autoimunes, por US$ 1,2 bilhão.
Em novembro do mesmo ano, antes dessa aquisição, a AstraZeneca já havia anunciado uma parceria na China, com a biotech local Eccogene, justamente para avançar no segmento de tratamento contra a obesidade.
No espaço de novas alternativas para o tratamento contra o câncer, a empresa também não está sozinha em seu apetite inorgânico. Quem também vem se mostrando ativa nessa frente é a farmacêutica suíça Novartis.
Em fevereiro desse ano, sob a mesma orientação de desenvolver alternativas no combate à doença, a Novartis desembolsou € 2,7 bilhões na aquisição da MorphoSys, empresa com sede na Alemanha e que tem projetos avançados em terapias como o tratamento do câncer de medula óssea.
Por volta das 12h10 (horário local), as ações da AstraZeneca estavam sendo negociadas com queda de 0,93% na Bolsa de Londres. Em 2024, os papéis da companhia, avaliada em 158 bilhões de libras esterlinas, acumulam uma desvalorização de 4,2%.