A Rede D’Or apresentou o balanço do segundo trimestre com uma receita líquida de R$ 11,6 bilhões, alta anual de 101,4%. O grupo fechou o período com um lucro líquido de R$ 435,3 milhões, um desempenho 21,4% superior ao registrado na última linha do balanço em igual período, um ano antes. E o Ebitda foi de R$ 1,6 bilhão, um salto anual de 12,3%, com a margem Ebitda recuando de 24,8% para 13,8%.

Mesmo com o crescimento na casa dos dois dígitos, a ação do grupo de saúde abriu o pregão de quinta-feira, 10 de agosto, em forte queda. No início da tarde, o papel registrava uma das maiores perdas, com recuo de quase 4,5%. O Ibovespa subia 0,2%.

A explicação do mercado para o desempenho na bolsa é que o balanço foi, de fato, muito bom, mas esses números já estavam precificados no valor de R$ 34 que a ação vinha sendo negociada. Como a Rede D’Or não entregou nenhuma surpresa, a expectativa é de que as promessas feitas pelo CEO Paulo Moll, em conferência com analistas no fim da manhã de quinta, se concretizem.

Protagonistas na onda de aquisições de hospitais que tomou conta do setor de saúde nos últimos anos, a Rede D’Or saiu de cena e não fez mais movimentos de M&A desde janeiro de 2022, quando anunciou a compra do Hospital Santa Marina, em Campo Grande (MS).

Agora, após esse longo hiato, a perspectiva é de que as transações envolvendo esses ativos voltem a figurar no roteiro da companhia.

“Algumas dessas conversas começam mais tração agora, à medida que alguns dos vendedores estão se ajustando à realidade do mercado”, afirma Moll. “Então, estamos otimistas que podemos ter, dentro desse pipeline, uma retomada de transações interessantes para agregarmos ao nosso portfólio.”

Ao frisar que os M&As nessa frente demandam anos de negociações, Moll observou que a Rede D’Or se manteve ativa nessas conversas durante esse intervalo. Mas ressaltou que as distorções nos valuations dos ativos contribuíram para que a empresa reduzisse seu apetite no período.

“Eram expectativas que consideramos muito altas”, diz o CEO. “E nós acabamos ficando de fora de algumas grandes transações porque nunca deixamos de buscar os mesmos níveis de retorno. Sempre tivemos bastante disciplina.”

Com mais de 50 projetos em andamento, entre novas unidades e expansões em hospitais já em operação, a expansão orgânica da rede também foi alvo de comentários do executivo. Nessa frente, o grupo projeta aportar R$ 10,7 bilhões para adicionar 6,6 mil leitos até 2025.

“Todas as obras estão avançando bem e temos inaugurações importantes nos próximos trimestres”, afirmou Moll, citando projetos como o novo Barra D’Or, no Rio de Janeiro, com inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2024 e novas unidades do São Luiz em Guarulhos e Barueri (SP).

O fator SulAmérica

Anunciada em fevereiro de 2022 e avaliada em R$ 15 bilhões, uma outra aquisição, da SulAmérica, essa, além do segmento de hospitais, também ganhou destaque na conversa com os analistas e na divulgação do balanço do segundo trimestre de 2023.

Entre abril e junho, o segmento de seguros e previdência, relativo à operação da SulAmérica, registrou uma receita de R$ 6,63 bilhões no período. Na divisão de hospitais, oncologia e outros, o número ficou em R$ 5,04 bilhões.

“Na parte de seguros, houve uma recuperação rápida de margens. A sinistralidade diminuiu 2,5 pontos percentuais na comparação anual, para 87,2%, apesar da sazonalidade tipicamente negativa do segundo trimestre. Essa melhoria é resultado das iniciativas da empresa para reduzir custos médicos combinadas com aumentos de preços”, escreveram Rafael Barros e Raphael Elage, analistas de saúde e educação da XP.

Ao fim do trimestre, a empresa reportou uma dívida líquida de R$ 16,2 bilhões, um crescimento anual de 9,2%. A alavancagem da operação, medida pela relação dívida líquida/Ebitda, ficou em 2,6 vezes, contra 2,9 vezes, há um ano, e 2,7 vezes no primeiro trimestre de 2023.

Entre outros pontos, a Rede D’Or ressaltou que, desde a integração da SulAmérica, já mapeou e capturou sinergias da ordem de R$ 530 milhões em custos e despesas recorrentes. No segundo trimestre, essa estratégia trouxe uma redução de R$ 9,5 milhões em despesas não-recorrentes.

“Os resultados da Rede D'Or incluíram uma surpresa positiva na frente de seguro saúde e a operação de serviços hospitalares esteve mais ou menos em linha com as nossas expectativas”, escreveram Vinicius Figueiredo, Lucca Marquezini e Felipe Amancio, do Itaú BBA,“Pesando esses dois fatores, acreditamos que os resultados podem levar a algumas revisões de resultados positivos para a SulAmérica, o que pode levar uma reação positiva do mercado amanhã”.

O Itaú-BBA tem preço-alvo de R$ 37 e o JP Morgan, R$ 42, upsides de 14% e 30%, respectivamente, sobre o valor em torno de R$ 32,40 que o papel está sendo negociado. Já a XP tem recomendação neutra e target de R$ 28,80, abrindo espaço para uma queda de mais 11%.

O valor de mercado da Rede D’Or é de R$ 73,6 bilhões.