Na noite da quinta-feira, 3 de agosto, ao divulgar seu balanço do segundo trimestre, o Bradesco reportou um lucro líquido recorrente de R$ 4,5 bilhões. A última linha do balanço teve uma queda de 35,8% sobre igual período, um ano antes, mas veio levemente acima das estimativas de analistas.

À parte os indicadores do período, boa parte em linha com o esperado, o que saltou aos olhos do mercado foi a revisão do guidance para 2023. Em especial, o recuo agressivo na projeção de crescimento da carteira de crédito, de uma faixa inicial de 6,5% a 9,5%, para o patamar de 1% a 5%.

“Dado o crescimento da carteira no primeiro semestre, não seria razoável manter o guidance”, disse Octavio de Lazari Júnior, em conversa com jornalistas na manhã de sexta, 4 de agosto. “Mas com a melhora que já observamos em julho, um avanço entre 1% a 5% nos parece bastante razoável e factível.”

O mercado, a princípio, parece não compartilhar essa visão. As ações preferenciais do Bradesco, que haviam fechado o pregão da quinta-feira com ligeira queda de 0,72%, abriram as negociações do dia seguinte caindo 3,6%, cotadas a R$ 15,95.

Na contramão dessa reação inicial no mercado de capitais, Lazari buscou reforçar uma mensagem mais otimista com base em alguns componentes do cenário para o segundo semestre. A começar pelo anúncio, em 2 de agosto, da queda de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros.

“Não há dúvida que a redução da taxa de juros está contratada, o que gera um novo ânimo no mercado e nos agentes econômicos”, afirmou. “Então, há todo um cenário que mostra um quadro de melhoria substancial ao longo do segundo semestre e também para 2024.”

Nesse contexto de perspectiva de ciclo de queda da Selic, o CEO do Bradesco observou que o banco está revisando todas as suas linhas de crédito. E que, onde houver abertura, o banco certamente promoverá reduções nas taxas.

A despeito desse viés mais positivo, o executivo ressaltou que, por prudência, ainda é difícil dizer se a inadimplência chegou ao seu pico. No segundo trimestre, a inadimplência de 15 a 90 dias foi de 4,4%, contra 3,6%, há um ano, e 4,6%, no primeiro trimestre de 2023. Acima de 90 dias, ela ficou em 5,9%, ante 3,5% e 5,1%, na mesma base de comparação.

Entre abril e junho, as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) tiveram um salto de 94,2% em relação ao mesmo período de 2022, para R$ 10,3 bilhões e cresceram 8,4% comparadas ao montante divulgado entre janeiro e março desse ano.

“As novas safras têm mostrado um desempenho bem melhor”, observou Lazari. “Os créditos originados a partir de 2022 já representam 53% da carteira e são, em sua grande maioria, com perfil de risco menor. Em pessoas físicas, por exemplo, os créditos com garantia representam hoje 68% das novas safras.”

O Bradesco também decidiu reportar a evolução dos níveis mensais de inadimplência, para ressaltar essa melhora. Em junho, um dos pontos destacados foi a redução no índice de curto prazo, de até 90 dias, de 5,7% para 5,3%.

“O índice de inadimplência curta melhora em todos os segmentos e, acima de 90 dias, já é possível observar uma inflexão das curvas”, afirmou. “Isso nos dá conforto para começar a elevar a originação de crédito.”

De olho na ampliação dessa oferta e na perseguição do alcance do novo guidance, ele destacou o maior foco no crescimento em médias e grandes empresas. Por outro lado, Lazari frisou que as micro e pequenas empresas, bem como os clientes pessoa física da baixa renda, seguem mais afetados.

No trimestre, a carteira de crédito do Bradesco somou R$ 868,6 bilhões, um crescimento de 1,6% sobre um ano antes e uma queda de 1,2% em relação ao primeiro trimestre de 2023.

Em pessoa física, o avanço anual foi de 5,7%, para R$ 361 bilhões, com um recuo de 1,2% frente a janeiro a março desse ano. Já em pessoa jurídica, houve uma retração de 1,2%, para R$ 507,6 bilhões, nas duas bases de comparação.

Octavio de Lazari Júnior, CEO do Bradesco

Lazari também ressaltou que o panorama de melhora a partir do segundo semestre de 2023 abriga as perspectivas de uma retomada no mercado de capitais. Essa percepção, disse ele, é reforçada por operações recentes de follow on na bolsa brasileira.

“O próprio time do banco tem conversas. Muitas empresas já tiraram seus IPOs da gaveta e estão prontas”, observou. “Esse cenário de reformas estruturais, de queda de juros contratada traz uma boa expectativa para que tenhamos algumas operações ainda nesse ano.”

O retorno sobre o patrimônio (ROAE), outro tema que vem chamando a atenção do mercado, também foi abordado pelo executivo. No trimestre, o indicador ficou em 11,2%, contra 18,1%, há um ano, e 10,6%, no primeiro trimestre.

Nessa mesma base de comparação, o índice de eficiência operacional, variável que mensura o custo de um banco para gerar receita, foi de 46,1%  entre abril e junho, ante 42,4%, um ano antes, e 47,1%, no primeiro trimestre.

Lazari reconheceu o desafio à frente para que o ROAE retome o patamar na faixa de 18%. “Nós, obviamente, temos como objetivo voltar aos retornos históricos do Bradesco”, disse. “Mas, por questão de cautela, entendemos que esse retorno será gradual, ao longo dos próximos trimestres.”

Seguros como contraponto

No trimestre, um dos destaques positivos no balanço do Bradesco foi o resultado das operações de seguros, previdência e capitalização, que cresceu 30,6%, para R$ 4,8 bilhões. Assim como a margem financeira do banco, de R$ 16,5 bilhões, alta anual de 1,2%.

Entre abril e junho, a margem com clientes caiu 1,7%, para R$ 16,5 bilhões, refletindo o menor volume de originação de crédito. Já a margem com mercado ficou negativa em R$ 96 milhões, contra um saldo negativo de R$ 312 milhões reportado de janeiro a março de 2023.

O banco também reportou queda anual nas receitas de prestação de serviços, de 2,5%, para R$ 8,7 bilhões. Já as despesas operacionais avançaram 13,4%, para R$ 13 bilhões.

Em outros pontos da revisão do guidance, a nova estimativa para a margem financeira gira entre 2% e 6%, contra a projeção anterior de 7% a 11%. As despesas operacionais por sua vez passaram de 9% a 13% para 7% a 11%, enquanto o resultado de seguros, previdência e capitalização evoluiu de 6% a 10% para 21% a 25%.

As ações preferenciais do Bradesco operavam com queda de 4,05%, por volta das 11h45, e lideram as perdas do dia na B3. No ano, os papéis acumulam alta de 4,8%. O banco está avaliado em R$ 158 bilhões.