Em fato relevante divulgado na manhã de quinta-feira, 23 de novembro, o Bradesco anunciou que seu Conselho de Administração, acatando uma recomendação do Comitê de Nomeação e Sucessão da instituição, decidiu trocar o comando do banco.
Quem assume como novo presidente, em substituição a Octavio de Lazari Junior, é Marcelo de Araújo Noronha. O executivo de 58 anos também terá seu nome submetido ao board do Bradesco para integrar o colegiado.
“Tenho visão plena das decisões relevantes que me aguardam e o tamanho da carga das expectativas dos clientes, colaboradores e acionistas do Bradesco”, afirmou, em comunicado, o novo CEO do Bradesco.
O banco ressaltou a “vasta experiência” de Noronha em mais de 38 anos no mercado financeiro. O executivo acumula passagens pela diretoria do Banco Bilbao Vizcaya, além de comandar, entre 2013 e 2017, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (ABECS), e de integrar os conselhos da Cielo, Alelo, Livelo e Elopar.
Já no Bradesco, onde está há 20 anos, Noronha passou por todos os cargos da diretoria e, nos últimos 8 anos, vinha exercendo o cargo de vice-presidente, juntamente com outras funções que ocupa e seguirá acumulando em outras empresas do grupo.
Recentemente, o executivo já havia sido transferido do comando da operação de atacado para liderar a área de varejo, o principal motor do banco. O movimento já era um sinal de que o Bradesco vinha preparando seu nome para assumir a posição.
Lazari, por sua vez, seguirá compondo os principais comitês de assessoramento do board do banco e, segundo o comunicado, terá sua nomeação como membro do conselho “tempestivamente” divulgada ao mercado e submetida à homologação do Banco Central.
Lazari construiu toda a sua carreira no Bradesco, onde ingressou em 1978. E vinha comandando a instituição desde 2018, quando foi o nome escolhido pelo banco para suceder Luiz Carlos Trabuco.
“Marcelo Noronha apresenta carreira consistente, sólida e acreditamos que suas prerrogativas serão adequadas e compatíveis à conjuntura econômica e às exigências do mercado”, afirmou Trabuco, na nota sobre o anúncio, que hoje ocupa o posto de presidente do conselho do banco.
Trabuco observou ainda que o contexto do mercado é “absolutamente desafiador”, do ponto de vista da eficiência operacional, do aumento da competitividade e do ambiente regulatório. E acrescentou que o momento é propício para trazer uma visão renovada aos movimentos necessários em direção aos objetivos propostos pelo board do banco.
Cenário desafiador
A troca no comando do Bradesco acontece justamente sob um panorama no qual o banco vem reportando resultados aquém das expectativas do mercado, diante desse cenário mais restrito. Ao mesmo tempo, os números recentes mostram uma recuperação mais lenta em relação aos seus pares.
Esse foi, mais uma vez, o saldo do balanço do terceiro trimestre, divulgado há pouco mais de uma semana. No período, o Bradesco ainda trouxe impactos na linha de inadimplência, associados a efeitos da menor originação de crédito e da aposta em um mix de clientes de menor risco nessas operações.
Entre outros reflexos, o banco registrou uma queda de 11,5% no lucro líquido recorrente, para R$ 4,6 bilhões. Já as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) foram de R$ 9,1 bilhões, o que representou uma alta anual de 26,4%, apesar da queda de 10,9% em relação ao segundo trimestre de 2023.
No mesmo período, o Itaú Unibanco, por exemplo, reportou um lucro líquido recorrente de R$ 9 bilhões, um salto de 12% na comparação anual, acumulando R$ 24,2 bilhões nessa linha de janeiro a outubro desse ano, o maior lucro contábil da história em nove meses entre os bancos listados na B3.
Em outro dado, o Itaú registrou um retorno sobre patrimônio (ROE) de 21,1%, contra 11,3% do Bradesco no mesmo intervalo. Nesse mesmo indicador, o banco da Cidade de Deus também ficou atrás do Santander, que divulgou um ROE de 13,1%.
Já no campo da inadimplência de longo prazo, o Bradesco reportou um índice acima de 90 dias de 6,1%, o que representou um avanço de 2,2 pontos percentuais ante o terceiro trimestre de 2022. E que veio acima dos 3% registrados pelo Itaú e do patamar de 4% do Santander.
Na ponta do crédito, enquanto o Bradesco se mostrou mais cauteloso, com sua carteira recuando 0,1%, em base anual, para R$ 877,5 bilhões, Itaú e Santander anunciaram crescimentos na mesma base de comparação de 4,7% e de 8%, respectivamente, para R$ 1,16 trilhão e R$ 625,5 bilhões.
O Bradesco tem sofrido, inclusive, na comparação dos seu desempenho com a performance de players de menor porte e há muito menos tempo no mercado. Esse é o caso do Nubank, que, hoje, está avaliado em US$ 38,5 bilhões na Bolsa de Nova York, ante US$ 34,2 bilhões do banco agora liderado por Noronha.
A reação inicial à nomeação do executivo indica, no entanto, que o mercado enxerga o movimento como positivo. Por volta das 10h30, as ações preferenciais do Bradesco registravam alta de 2,99% na B3, cotadas a R$ 16,20.
Com essa resposta, no ano, os papéis acumulam alta de 6,9%, acima dos 3,8% registrados até ontem, quando as ações fecharam o pregão na bolsa de valores brasileira em R$ 15,73.