Em meio ao movimento global de descarbonização, o Brasil está muito bem posicionado para se tornar exportador de “energia”, puxado pelo etanol. Mas para ganhar o mundo, o País precisa avançar na regulação e no apoio ao segmento, considerando o apoio que outras matrizes energéticas vem ganhando ao redor do globo.
“Precisamos nos preparar bem, porque tem muitas distorções de subsídios, nos Estados Unidos, na Europa. E nós precisamos criar as condições no Brasil para exportar não só o etanol”, disse Ricardo Mussa, CEO da Raízen, nesta terça-feira, 30 de janeiro, durante painel na 11ª edição Latin America Investment Conference (Laic), organizado pelo UBS.
A necessidade fica particularmente evidente quando se trata das possibilidades para o setor aéreo. Segundo Mussa, por mais que o segmento responda por apenas 3% das emissões globais, a aviação é o setor mais avançado no tema da descarbonização. E diferentemente dos automóveis, não será um setor capaz de se descarbonizar através de baterias elétricas.
“O SAF (bioquerosene de aviação) parece como o carro flex foi há 20 anos. (Esse) é novo mercado que vai acontecer, porque existe mandatos para fazer acontecer”, afirmou Mussa. “Vai ter uma demanda muito maior do que conseguimos atender neste momento.”
A necessidade de apoio governamental também foi ressaltada por Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Destacando que o governo retomou as políticas de incentivo ao setor apresentadas pelo ex-presidente Michel Temer, caso da apresentação do Projeto de Lei do Programa Combustível do Futuro, que traz um conjunto de iniciativas para promover a mobilidade sustentável de baixo carbono, Nastari entende que o País ainda precisa avançar em temas mais básicos.
Ele cita o caso do seguro rural, dizendo que ainda falta uma visão da importância do mecanismo no governo, diante da perspectiva do mundo conviver com cada vez mais eventos climáticos extremos. “Precisamos ter também atenção à dependência de importação de fertilizantes e também para a infraestrutura, incentivando os investimentos nesta frente, reduzindo a tributação”, afirmou Nastari.
Mussa e Nastari entendem que o apoio governamental também pode transformar o Brasil em um grande exportador de hidrogênio renovável, considerando que a molécula de etanol tem seis átomos de hidrogênio e é mais fácil de transportar por navio.
“O hidrogênio puro é denso em energia, mas difícil de transportar, exigindo alta pressão e temperatura baixa”, afirmou Mussa. “O etanol, em sua fórmula, tem muito hidrogênio. Então, é mais fácil levar o hidrogênio por meio do etanol, depois transformá-lo no fim da cadeia. Você consegue usar a infraestrutura atual de líquidos.”
Além das oportunidades no mercado externo, Mussa destacou as oportunidades para o etanol e o hidrogênio para o mercado interno. Afirmando que cada país vai ter uma solução própria para descarbonizar a frota, ele destacou que não faz sentido ao Brasil subsidiar carros elétricos, considerando a tecnologia que desenvolveu na frente de biocombustíveis.