Uma série de componentes levou o BTG Pactual a  “recalcular o roteiro” da Localiza, reduzindo o preço-alvo da ação da locadora de veículos, de R$ 90 para R$ 70, embora mantenha a recomendação de compra para o papel.

“Cortamos o preço-alvo em resposta a trimestres mais fracos do que o esperado, atribuídos, principalmente, ao longo período que será necessário para a normalização da indústria automotiva”, escrevem os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Marcelo Arazi.

O trio cita que esse cenário está gerando um patamar de depreciação das frotas acima do esperado e acrescenta em seu pacote de justificativas para reduzir o preço-alvo da Localiza a perspectiva de um ciclo mais extenso para o corte da taxa básica de juros.

No que diz respeito ao primeiro tópico, o BTG ressaltou que o preço médio de veículos novos continuou crescendo em maio, embora em um ritmo mais lento, de 1,3%, do que em abril. Em contrapartida, os preços dos carros usados seguiram em queda, o que ampliou a depreciação.

“Embora esperemos que a tendência de depreciação diminua à medida que a Localiza renova sua frota - impulsionada por preços de aquisição mais baixos -, adotamos uma abordagem conservadora e modelamos uma redução na depreciação a partir do ano que vem”, traz outro trecho do relatório.

O BTG destaca outros dois pontos de atenção para a Localiza e seus pares no setor: o crescimento da participação das montadoras chinesas no mercado local, impulsionado, em boa medida, pela expansão nas vendas de veículos elétricos.

“O mercado também está se perguntando se as locadoras de veículos conseguirão replicar suas condições de compra vantajosas com fabricantes chineses. Em última análise, todas essas dúvidas giram em torno da apreensão sobre as tendências de depreciação nessas empresas”, afirmam os analistas.

O banco pontua que ainda não tem dados suficientes para medir a extensão desse impacto. Mas adota uma postura conservadora ao projetar que o cenário mais provável é de que esses players lidem com taxas de depreciação mais elevadas e por um prazo mais extenso.

Como parte desse contexto, o BTG Pactual também está revisando algumas projeções de resultado da operação. O banco prevê agora uma receita líquida de R$ 37,1 bilhões e de R$ 37,7 bilhões, respectivamente, para 2024 e 2025, contra a estimativa anterior de R$ 41,3 bilhões e R$ 42,3 bilhões.

“O corte foi impulsionado principalmente por um desempenho mais fraco no segmento de seminovos, em função da deterioração macro, apesar da dinâmica resiliente das divisões de locação e de frotas”, observam os analistas.

O banco também reduziu as estimativas de Ebitda para R$ 12,3 bilhões e R$ 14,5 bilhões, em 2024 e 2025, da previsão anterior de R$ 13,3 bilhões e R$ 15,3 bilhões. Na mesma base, a projeção de lucro líquido recuou 22% e 17%, para R$ 3 bilhões e R$ 3,8 bilhões.

Nessa frente, além da questão da depreciação, a abordagem mais conservadora do BTG reflete fatores como a expectativa de despesas financeiras mais elevadas, e função do ciclo mais demorado na queda da taxa de juros.

As ações da Localiza estavam sendo negociadas com queda de 1,56% por volta das 10h40 na B3, cotadas a R$ 39,79. No ano, os papéis registram uma desvalorização de 37,4%. A empresa está avaliada em R$ 42,2 bilhões.