Depois de estabelecer no Brasil uma das principais plataformas de investimentos para o varejo, o BTG Pactual parte agora em busca do pequeno e médio investidor na América Latina. E a primeira parada é o Chile. 

O banco de investimentos anuncia nesta quinta-feira, 17 de novembro, o lançamento de uma plataforma de investimentos voltada ao mercado chileno, a primeira fora do Brasil, criada a partir da adaptação do Mercados en Línea, portal local de informações financeiras. 

O site, que pertence ao BTG Pactual desde 2012, por conta da aquisição da corretora Celfin Capital, foi transformado em um ambiente digital aberto, com uma plataforma que dá acesso a diversos tipos de investimentos, como ações, dólar e fundos.

“Do ponto de vista de escala, o Chile é um mercado muito menor", diz Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual responsável pela parte de plataformas digitais, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. "Mas é um bom teste para que a gente possa, eventualmente, expandir as operações de plataformas digitais para outros países da América Latina.”

O novo serviço é voltado ao público em geral. Após o cadastro, o usuário poderá investir a partir de 5 mil pesos chilenos (R$ 29,60), em ativos nacionais, e US$ 30, em fundos internacionais. O portal também conta com notícias em tempo real de cotações, além de conteúdos sobre economia e mercado financeiro.

Segundo Flora, a decisão de começar a expansão pela América Latina a partir do Chile foi tomada justamente por conta da Mercados en Línea, plataforma bastante conhecida pelo público local, com mais de 300 mil acessos diários, o que deve facilitar a atração de investidores.

“Ela naturalmente acaba sendo uma vantagem competitiva, algo que não tínhamos aqui no Brasil e que sempre olhávamos como algo que poderia reduzir o custo de aquisição de cliente”, diz. 

O BTG Pactual vislumbra a possibilidade de replicar no Chile a mesma evolução que experimentou quando lançou sua plataforma no Brasil, em 2015, permitindo que investidores de varejo tenham acesso aos mesmos investimentos que estavam restritos aos clientes de alta renda e de patrimônio. 

O banco não abre os dados sobre a evolução do número de clientes no Brasil desde o lançamento da plataforma digital no País, mas estimativas de mercado apontam que o projeto nasceu com cerca de 5 mil investidores e, atualmente, tem mais de 1 milhão de clientes. Embora não confirme esses números, Flora espera que o ritmo de adesão no Chile seja similar ao registrado no Brasil. 

Marcelo Flora, sócio do BTG Pactual responsável pela parte de plataformas digitais

Um dos desafios que o banco enxerga no mercado chileno é o baixo desenvolvimento do mercado de assessores de investimentos, para ajudar e acelerar na distribuição de produtos e na utilização da plataforma. Segundo o sócio do BTG, não há dados sobre quantos profissionais existem no Chile. 

Ainda assim, ele volta ao exemplo do Brasil, que até o movimento de financial deepning e a popularização de plataformas de investimentos, provocado pelos juros extremamente baixos nos últimos anos, contava com poucos escritórios de agentes autônomos.

Em 2017, o número de profissionais credenciados era de 5,5 mil. No final do ano passado, o total alcançou 17 mil, segundo dados da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord).

“O mercado chileno, sem dúvida alguma, é menos desenvolvido, em certa medida, que o mercado de capitais brasileiro”, diz Flora. “Mas, ao mesmo tempo que é um desafio, é também uma oportunidade de a gente contribuir para o desenvolvimento desse mercado.”

Da mesma forma que o BTG Pactual iniciou sua incursão no mundo do varejo com a plataforma de investimentos para depois começar a oferecer serviços bancários, as operações no Chile podem seguir pelo mesmo caminho. 

“Eu acho que pode ser um desdobramento natural, mas o timing disso depende da escala que vamos conseguir alcançar”, diz Flora. 

Se tudo der certo no Chile, a próxima parada do BTG Pactual deve ser a Colômbia, onde o banco adquiriu a corretora Bolsa y Renta, também em 2012. Nos outros países da América Latina em que mantém operações, casos de Argentina e México, além da Colômbia, o lançamento de plataformas digitais de investimentos deve ocorrer num “horizonte mais distante”, observa Flora. 

O BTG Pactual não é o único que está se estabelecendo na região. O Nubank já conta com operações no México desde 2019 e chegou à Colômbia em 2020. Nos resultados do terceiro trimestre, o banco digital informou que a base de clientes no México aumentou mais de 4 vezes em relação ao mesmo período de 2021, atingindo 3 milhões. Na Colômbia, são 439 mil clientes. 

Entre os grandes bancos, o Bradesco anunciou em agosto a aquisição da Ictineo Plataforma, uma instituição financeira popular voltada a pessoas físicas no México, reforçando sua primeira e única operação internacional de varejo. No ano passado, o Itaú  Unibanco, por sua vez, aumentou sua participação no CorpBanca, sua subsidiária no Chile.