De olho na crescente demanda das empresas por mecanismos de retenção de funcionários, o BTG Pactual está comprando 70% da Pris Software, companhia que atua na gestão de planos de incentivo de longo prazo (ILP,), como stock options e outros modelos de remuneração variável baseada em ações.

O fechamento da operação está sujeito a aprovações regulatórias, inclusive do Banco Central. Após a incorporação pelo BTG Pactual, cujos detalhes financeiros não foram revelados, a equipe da Pris continuará à frente da gestão e do atendimento aos clientes.

“Vemos essa operação muito complementar ao nosso ambiente de negócio”, diz Bernardo Carsalade, sócio responsável por produtos do BTG Pactual, com exclusividade ao NeoFeed. “Não tínhamos esse produto no ecossistema.”

Fundada em 2008 por Daniel Eloi como uma consultoria em finanças, a Pris passou a se dedicar à gestão de ILPs entre 2011 e 2012, quando teve uma demanda de um cliente para contabilizar seus planos de stock options

Percebendo que se tratava de um tema pouco explorado e com perspectiva de crescimento, a Pris investiu recursos próprios no desenvolvimento de uma plataforma que permite às empresas gerirem seus ILPs e aos funcionários acessarem e acompanharem as informações sobre seus planos. 

A plataforma é uma solução SaaS, com modelo de cobrança baseado no número de participantes com direito a ILP. Ela cuida de todos os aspectos de administração dos planos: desde a assinatura do contrato, passando por informações aos usuários sobre a evolução do portfólio de ações até o trabalho de backoffice que envolve questões contábeis e a preparação das informações que precisam ser divulgadas aos reguladores e ao mercado. 

A plataforma atende atualmente mais de 30 mil pessoas, representando R$ 12 bilhões em ativos geridos para mais de 70 empresas. A maioria delas é de empresas listadas na B3, como Braskem, Carrefour e Raízen

Daniel Eloi, fundador e CEO da Pris

A Pris também presta serviços para empresas de capital fechado que estão vislumbrando um IPO e companhias que não têm a expectativa de ter um evento de liquidez, mas podem ter um ILP liquidado em dinheiro. Neste caso, o pagamento de um valor em dinheiro ligado ao valuation da empresa. 

As conversas entre BTG Pactual e Pris começaram há um ano. O objetivo inicial era avaliar uma eventual colaboração entre as partes, que acabou evoluindo para um M&A. Uma vez concluída, a ideia é que a operação complemente as demandas das partes. 

Pelo lado do BTG Pactual, a compra permite agregar à sua plataforma de produtos e soluções para o segmento corporativo um serviço que ainda não possuía.

O banco também pretende aproveitar a base de empresas da Pris para vender seus produtos financeiros e de gestão, além de agregar novas funcionalidades, como recompra de ações para serem utilizadas em ILP. 

“Quando você olha o número de empresas que a Pris detém, temos um universo razoável para ir atrás”, diz Carsalade. 

Da parte da Pris, a incorporação ao BTG Pactual permitirá fechar a lacuna que faltava à plataforma: a de execução financeira. Por não ser uma instituição bancária, nem uma corretora, a Pris não consegue ter a custódia das ações, nem pode transferi-las para executar as vendas. 

Com o BTG Pactual, o processo se completa, com o beneficiário podendo monetizar as ações na plataforma da Pris. Além disso, poderá acessar os produtos do banco. “O principal benefício para os participantes dos planos é essa questão do one-stop-shop, porque ele vai conseguir ver no mesmo ambiente os detalhes de seu plano”, diz Eloi. 

Crescimento

A incorporação da Pris Software pelo BTG Pactual ocorre no momento em que o tema de ILPs vai amadurecendo no País, à medida que as companhias buscam formas de reter e incentivar a permanência de funcionários considerados talentosos e essenciais. 

Embora muito associado a companhias de capital aberto, os ILPs vêm ganhando espaço entre companhias menores, principalmente startups em fase inicial de vida, que se utilizam desse mecanismo para conseguir atrair talentos e executivos de alto escalão.

“Como as startups em early stage não têm caixa para pagar altos salários e precisam atrair pessoas de qualidade para demonstrar credibilidade ao mercado, elas recorrem a ILPs”, diz Evelyn Rolo, sócia responsável pela área de executive compensation do escritório de advocacia Bronstein Zilberberg. “Ninguém vai para uma empresa iniciante sem alto salário ou equity.”

A tendência é de uma demanda aquecida por esse tipo de mecanismo. De um total de mais 22 mil startups no Brasil registradas no ano passado, a maioria delas (32%) está em fase de operação e com um ano de vida (21,6%) e cerca de 65% delas não receberam investimentos no ano passado, segundo levantamento da Associação Brasileira de Startups (Abstartups) feito em parceria com a Deloitte.

Segundo Rolo, a demanda por ILPs tem sido alta, especialmente no atual momento em que as rodadas de captação minguaram ou se tornaram mais restritivas, obrigando muitas companhias a encontrarem soluções para contratar e reter funcionários. 

“O escritório tem um ano e sete meses de existência e, desde então, nós ultrapassamos a marca de 100 ILPs estruturados, a ponto de termos que constituir uma área específica para o tema”, afirma Rolo, destacando que atualmente a banca registra uma média de dez programas sendo estruturados por mês.

Este cenário não deve ser apenas capturado pela Pris e o BTG Pactual. A Vórtx também está atuando neste meio depois de adquirir o controle do Basement, plataforma de gestão de captables e programas de stock options, em maio deste ano. Entre as empresas clientes do Basement estão SmartFit e Oakberry.