Nos últimos anos, as fintechs ganharam fama e popularidade entre clientes e investidores. Na contramão dessa tendência, a Vórtx escolheu ficar longe dos holofotes, ao centrar sua atuação em serviços de back office para as operações de acesso ao mercado de capitais.

Nesta terça-feira, 23 de fevereiro, porém, a startup está deixando os bastidores para ganhar os holofotes e anunciar a captação de um aporte Série B de R$ 190 milhões, do fundo de private equity americano FTV Capital.

Até então, a fintech havia atraído um aporte de R$ 7 milhões, em 2018, de Pedro Englert, Marcelo Maisonnave e Eduardo Glitz, ex-sócios da XP. O trio não participou da nova rodada, mas segue como acionista da operação.

“Nós estamos bem posicionados no atendimento das empresas voltadas aos investidores profissionais”, diz Juliano Cornacchia, cofundador e CEO da Vórtx, ao NeoFeed. “E decidimos buscar essa rodada para atacar os clientes B2B, que atendem os investidores do varejo.”

Dona de um portfólio nas áreas de Corporate Trust e de Funds Trust, a Vórtx oferece serviços como custódia, estruturação, controladoria e liquidação de fundos e títulos para gestoras, bancos e empresas emissoras.

O modelo é fortemente baseado em tecnologia e as receitas envolvem duas formas de cobrança: um percentual sobre o patrimônio administrado, no caso dos fundos; e uma taxa sobre o número de transações e serviços contratados, nas demais ofertas.

“Nós prestamos todos os serviços de acesso ao mercado de capitais nos segmentos de fundos e de dívidas”, explica Cornacchia. “Fornecemos toda a informação sobre os investimentos, a que velocidade estão andando, mas quem toma as decisões são os gestores dos nossos clientes.”

Hoje, a startup tem mais de R$ 125 bilhões em custódia e uma base de cerca de 50 clientes, cujas carteiras somam mais de 1 milhão de investidores. Entre as empresas que contam com o apoio da Vórtx no back office estão a XP, o Credit Suisse e todos os grandes bancos de investimentos.

Com esses indicadores, Cornacchia diz que a fintech atraiu o interesse de mais de um fundo. Algumas questões pesaram, porém, na escolha pelo FTV Capital. A primeira delas, o fato de a gestora americana ter em seu portfólio e no seu histórico empresas com modelos similares ao da startup.

Hoje, a fintech tem uma base de cerca de 50 clientes, cujas carteiras somam mais de 1 milhão de investidores

A lista inclui, por exemplo, a americana Strata e o Apex Group, empresa que comprou, em outubro, a divisão de fundos alternativos do banco brasileiro Modal. No País, o FTV Capital também tem investimentos na Ebanx, que se tornou unicórnio no fim de 2019, justamente com um aporte do fundo.

“Eles são um dos poucos fundos que conhecem do setor e falam nossa língua”, diz Cornacchia. Ele cita outro elemento nessa equação. “Temos o plano de abrir capital lá fora daqui três ou quatro anos. E entendemos que um investidor estrangeiro poderia ancorar essa trajetória.”

Inspiração na AWS e consolidação

Com o aporte, um dos focos será ampliar as contratações para 2021. A fintech vai dobrar o volume inicialmente previsto de pouco mais de 100 vagas, especialmente na área de tecnologia. Hoje, a startup tem um quadro de 160 funcionários.

O reforço da equipe integra outra ambição. “Queremos criar uma plataforma nos moldes da Amazon Web Services”, conta Cornacchia. “Onde gestores, corretores e emissores, com poucos cliques, consigam estruturar seus fundos e ofertas.”

A Vórtx também vai reservar parte do aporte milionário para aquisições, sob duas orientações em particular. A primeira é justamente encorpar o arsenal de tecnologia e a equipe da fintech. Já no segundo critério, a empresa está olhando para concorrentes tradicionais, com pouco apelo tecnológico em suas ofertas.

“Queremos ser o maior player independente do setor e temos um bom plano de aquisições já em andamento”, diz Cornacchia. Dois acordos estão em estágio avançado, com previsão de fechamento ainda neste semestre. “E temos outras duas negociações que devemos concluir no segundo semestre.”

A empresa não é novata nesses acordos. Em fevereiro de 2020, a Vórtx comprou a BCInf, também de serviços de back office para o mercado financeiro. E, nos últimos meses, investiu na Parfin, fintech de criptomoedas, e na Preparo, startup de contratações e recrutamento.

Antes de fundar a Vórtx, Cornacchia e Alexandre Assolini, seu sócio na empreitada e também advogado de formação, atuaram por quase duas décadas assessorando e preparando contratos de operações no mercado de capitais.

“Tínhamos muito acesso a dados dos clientes, mas não queríamos montar uma gestora para concorrer com eles”, diz. A dupla identificou outra oportunidade no back office dessas operações, que não havia se atualizado como as demais etapas desses processos.

“Ninguém via valor nesse negócio, que era o patinho feio da Faria Lima”, afirma. “Nenhum concorrente entrava no setor há 15 anos. E, mesmo hoje, não temos um competidor direto, mas sim players que fazem só corporate ou apenas fundos.”

No primeiro grupo, ele inclui empresas como Pentágono e Pavarini. E, no segundo, nomes como Oliveira Trust e BNP Paribas. Além desses rivais, disputam espaço no segmento os grandes bancos que, em boa parte das vezes, atendem suas próprias demandas.

“Ninguém via valor nesse negócio, que era o patinho feio da Faria Lima”, Juliano Cornacchia, cofundador e CEO da Vórtx

Sócio da consultoria Boanerges & Cia, Fabricio Winter destaca o fato de a fintech estar conectada com a onda crescente de investidores do varejo no País. E, ao mesmo tempo, atuar em um filão pouco explorado desse mercado, diferentemente da disputa cada vez mais acirrada entre as plataformas de investimento.

“E eles se diferenciam de seus poucos concorrentes por se especializarem no back office e não competirem com seus clientes finais”, opina. “Além do fato de trazerem um olhar tecnológico para uma etapa que, no fim das contas, ainda é muito baseada em papel.”