A economia da China passou no primeiro grande teste imposto pela política tarifária do presidente americano Donald Trump. De acordo com dados divulgados na terça-feira, 15 de julho, pelo Departamento Nacional de Estatísticas da China, o Produto Interno Bruto (PIB) do país asiático fechou o primeiro semestre com crescimento de 5,3% relação ao mesmo período do ano anterior.

Mas, por uma série de fatores, advertem analistas, essa resiliência chinesa tende a refluir no segundo semestre, em especial se Trump mantiver uma política tarifária elevada contra o país asiático por mais tempo.

O resultado robusto do primeiro semestre - acima do nível necessário para atingir a meta oficial do governo chinês para o ano inteiro, de 5% - foi impulsionado em grande parte pelo setor exportador, um surpreendente motor de crescimento durante um ano sob pressão desde o retorno de Trump ao poder e sua abordagem radical de aumentar as tarifas, muitas vezes sem aviso prévio.

Desde abril, quando Trump deu início à sua política tarifária, o presidente chegou a elevar as tarifas de alguns produtos chineses para 145%, na prática, inviabilizando as exportações para os EUA. As fábricas chinesas, porém, mantiveram suas linhas de produção em pleno funcionamento.

Na segunda-feira, um dia antes da divulgação dos dados do PIB, a agência alfandegária da China relatou um aumento de 5,9% nas remessas para o exterior nos primeiros seis meses de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior. Esse resultado superou as expectativas, destacando a solidez e a flexibilidade do setor manufatureiro e exportador do país.

Os dados consolidados do semestre foram divulgados juntamente com o resultado obtido pela economia chinesa no segundo trimestre de 2025 – com crescimento de 5,2% em comparação ao ano anterior, desacelerando um pouco em relação ao ritmo de 5,4% estabelecido nos primeiros três meses do ano e em linha com as expectativas dos economistas.

Há duas explicações para esse desempenho acima das expectativas. A primeira delas foi o recuo de Trump em maio, quando os governos dos EUA e da China concordaram com uma pausa de 90 dias na guerra tarifária. Nesses termos, os EUA reduziram as tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, enquanto a China reduziu suas tarifas sobre importações americanas de 125% para 10%.

Foi nessa ocasião que o governo chinês mostrou seu trunfo para obrigar Trump a recuar, ao passar a exigir licenças especiais para exportações de sete tipos de ímãs de terras raras para os EUA, colocando pressão na indústria dos EUA - que depende desses minerais para fabricação de telas de smartphones, turbinas eólicas, baterias recarregáveis de carros elétricos e até mísseis.

Em troca do fornecimento antecipado chinês de ímãs e terras raras, os EUA fizeram concessões, incluindo o acesso de estudantes chineses às universidades americanas.

Uma análise da composição das exportações chinesas também ajuda a explicar como os fabricantes do país asiático conseguiram evitar uma queda mais generalizada nas exportações.

Embora os EUA sejam a maior economia do mundo e o maior destino individual de produtos fabricados na China, os exportadores chineses conseguiram compensar o impacto de 10,9% nas exportações com destino aos EUA nesse período, aumentando as remessas para o Sudeste Asiático em 13%, para a África em 22%, para a América Latina em 7,2% e para a União Europeia em 6,6%.

Trump contra-ataca

Há razões de sobra, no entanto, para questionar a capacidade chinesa de continuar produzindo e exportando seus produtos no longo prazo, para fazer frente à política tarifária de Trump.

A primeira delas é a fraca demanda interna, apesar de várias medidas recentes baixadas pelo governo chinês para estimular o consumo da população.

Uma delas foi privilegiar indústrias emergentes, como de veículos elétricos, baterias de lítio e inteligência artificial, oferecendo financiamento especial, o mesmo para áreas de consumo prioritárias, como carros e eletrodomésticos.

As vendas no varejo, um indicador do consumo, porém, subiram apenas 4,8% em junho em relação ao mesmo período do ano passado. Esse número ficou muito abaixo da taxa de crescimento de 6,4% registrada em maio e do crescimento de 5,6% esperado pelos economistas pesquisados. O consumo doméstico representa cerca de 55% do PIB atualmente. A meta oficial é elevar essa participação para 70% até 2035.

Trump, por sua vez, delineou no início do mês sua nova estratégia comercial para pressionar a China. Ao assinar um acordo comercial com o Vietnã, pelo qual os EUA aplicarão uma taxa de 20% sobre as importações vietnamitas, o governo americano impôs uma taxa de 40% sobre quaisquer produtos que originalmente viessem de outro país, mas fossem enviados ao Vietnã para embarque final aos EUA.

A medida tem destino certo: a China tem recorrido repetidamente a essa prática, conhecida como transbordo, para evitar barreiras comerciais americanas.

Por isso, o segundo semestre pode ser desafiador para o governo chinês. O crescimento do primeiro semestre foi impulsionado, em parte, pela antecipação do comércio, antes das tarifas americanas e do aumento dos gastos fiscais.

“Tarifas mais altas por mais tempo certamente afetarão as exportações da China”, disse ao jornal britânico Financial Times Shuang Ding, economista-chefe para a Grande China e Norte da Ásia no Standard Chartered, banco multinacional sediado no Reino Unido.

Por enquanto, porém, a máquina exportadora do país segue firme e forte, ajudando a impulsionar a produção industrial da China em 6,8% em junho, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso representou um ganho significativo em relação ao aumento de 5,8% registrado em maio, em relação ao mesmo período do ano anterior, e muito melhor do que a taxa de 5,6% prevista por analistas.

Mas economistas temem que a superprodução em muitos setores, aliada à fraca demanda, esteja gerando pressões deflacionárias. Nas últimas semanas, a mídia do Partido Comunista Chinês criticou o excesso de capacidade industrial por desencadear uma guerra de preços feroz no mercado interno.

“A China provavelmente precisará de mais estímulos políticos, bem como medidas de reforma estrutural no segundo semestre de 2025 para impulsionar o desempenho da economia, tornar o crescimento mais equilibrado e evitar pressões deflacionárias”, advertiu Eswar Prasad, professor de economia na Universidade Cornell.

A política tarifária de Trump daqui para frente deve engordar esse combo e colocar mais pressão sobre o governo chinês.