Uma nova disputa corporativa começa a se desenhar no horizonte, colocando a Alpargatas de um lado e, do outro, o empresário Carlos Wizard. O tema: o acordo firmado entre as partes, em 2018, pela unidade de negócios que detém os direitos da marca Topper na Argentina e no mundo.

Segundo comunicado da companhia divulgado na terça-feira, dia 7 de março, Wizard não realizou o pagamento da primeira parcela do valor remanescente da compra da participação acionária na Alpargatas S.A.I.C., no montante de R$ 89,7 milhões, que era devida até o dia anterior, 6 de março.

Ainda de acordo com a companhia, Wizard também instaurou um procedimento arbitral no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC) para discutir os termos do acordo.

A Alpargatas, por sua vez, divulgou que declarou o vencimento antecipado das parcelas remanescentes e ingressou com um processo contra Wizard. De acordo com a companhia, a execução judicial, que tramita sob segredo de Justiça, quer a execução do montante de R$ 266 milhões.

Em comunicado ao mercado, o empresário Carlos Wizard informou que seus representantes procuraram a Alpargatas ao longo de 2022 para tratar de um ajuste no preço de aquisição. Um dos pontos que seriam levantados era a discordâncias a respeito do valor estimado do saldo remanescente da aquisição, em virtude de "inconsistências no reembolso de indenizações".

Também haviam divergências sobre a dívida liquida da companhia, demandas de terceiro de responsabilidade da Alpargatas e atos governamentais ocorridos na Argentina.

"Como a Alpargatas não mostrou interesse em discutir os valores, utilizei o foro estabelecido em contrato para divergências entre as partes e, em 24 de agosto de 2022 – portanto, há mais de seis meses – propus uma arbitragem no CAM-CCBC", diz trecho da nota assinada por Wizard.

O empresário Carlos Wizard

Em relação à ação judicial apresentada pela Alpargatas, Wizard diz que desconhece a iniciativa e que ela causa "enorme estranhamento, já que não se trata do foro eleito pelas partes em contrato".

"Considero tal ato como uma tentativa de intimidação devido à minha iniciativa de propor arbitragem para resolver as discussões em torno do ajuste do preço em relação ao contrato citado, e, também, uma tática para forçar o recebimento antecipado de valores que seriam pagos até 2025", afirma ele no comunicado.

Em setembro de 2018, a Alpargatas fechou um acordo para vender uma fatia na Alpargatas S.A.I.C., responsável pela Topper na Argentina e no mundo, para Wizard. Em dezembro de 2019, a companhia informou que o empresário exerceu antecipadamente a opção de compra da participação remanescente.

O preço da aquisição da totalidade das ações foi estabelecido em R$ 260 milhões, descontado o valor de R$ 40 milhões pagos em 2018 pela fatia inicial.

O acordo firmado em 2018 substituiu um outro acerto entre as partes, assinado em novembro de 2015, que também tratava da venda da unidade de negócios Topper na Argentina.

Em declaração à Época Negócios, em 2015, o empresário destacou que a motivação do acordo era o fato de a Topper ser líder no mercado esportivo da Argentina.

Ele também disse, na ocasião, que o investimento fazia parte de uma estratégia global em setores que combinam potencial de crescimento e resiliência.

Por volta das 11h, as ações da Alpargatas caíam 0,95%, a R$ 9,35. Em 12 meses, o papel acumula queda de 51,6%, levando o valor de mercado para R$ 6,4 bilhões.