(Reportagem atualizada às 18h22)

Dois meses depois do movimento que transformou a gestora Mapa Capital na sua controladora, após converter R$ 1,6 bilhão em debêntures, a varejista Casas Bahia parte, agora, para um plano de vendas de ativos, que inclui a maior loja da empresa no Brasil.

Estão no pacote sete imóveis próprios, onde hoje funcionam lojas da Casas Bahia. A mais representativa delas é a megaloja de 9 mil metros quadrados (m²) de área útil, que fica na Marginal Tietê, em São Paulo, e que é uma espécie de vitrine da empresa, com vários espaços para experiências de clientes.

Inaugurada em 2021, a unidade na Marginal é três vezes maior do que a megaloja no Brooklin, na zona Sul de São Paulo, aberta em março deste ano, com 3,3 mil m². A Casas Bahia passou a dar nome à estação Berrini da CPTM, que fica ao lado da loja.

A companhia não revela valores, mas fontes do setor imobiliário consultadas pelo NeoFeed indicam que a operação deve garantir algo em torno de R$ 250 milhões para o cofre da varejista.

A ideia é condicionar a venda a um contrato de longo prazo com a companhia para locação do imóvel, mantendo as lojas da empresa no mesmo endereço, em uma operação conhecida como sale and leaseback.

“De um lado precisamos garantir mais eficiência operacional e gerar mais dinheiro e, do outro, reduzir um pouco da dívida. A venda desses ativos é uma dessas ações, que colocam dinheiro direto na companhia”, diz Elcio Ito, CFO da Casas Bahia, em entrevista ao NeoFeed.

Os imóveis já estão na prateleira de investidores e parte dessas vendas pode ser concretizada ainda neste ano, a depender dos valores das propostas. De qualquer forma, a expectativa é de que as transações sejam efetivadas até o fim do ano que vem.

“Estamos olhando todas as alternativas e as lojas estão disponíveis para essas operações. Já há algumas ofertas, mas entendemos que não estão nas condições que a gente julga como ideais em termos de valores”, afirma Ito. “Não há pressão para fechar negócio a qualquer custo.”

O movimento de vender ativos em operações de sale and leaseback já foi feito por várias companhias no Brasil. Em dezembro do ano passado, o Carrefour Brasil concluiu a transação de venda de 15 imóveis da companhia, também atrelada à locação, para o Fundo de Investimento Imobiliário Guardian Real Estate, por R$ 725 milhões.

Em outubro do ano passado, o Fundo Patria Renda Urbana, administrado pelo Patria Investimentos, finalizou a aquisição de 22 imóveis da rede Pernambucanas por R$ 189,5 milhões, também em uma operação de sale and leaseback.

Em maio de 2024, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) vendeu sua sede administrativa, em São Paulo, para o fundo imobiliário Tellus Properties por R$ 218 milhões. No acordo, a companhia continuará a utilizar o espaço, por meio de um contrato de locação pelo período de 15 anos.

A venda de ativos pela Casas Bahia integra o plano de redução da alavancagem, em um movimento que mira ampliação da receita, com avanço operacional, e o objetivo de chegar a um Ebitda de dois dígitos até o fim de 2026. No segundo trimestre, o índice chegou a 8,3%.

No primeiro semestre de 2025, a empresa ganhou participação em boa parte das categorias em que atua, especialmente linha branca. Nas lojas físicas, que alcançaram mercado de R$ 32 bilhões no Brasil, o market share é de 27%. No online, que teve faturamento de R$ 38 bilhões, a participação da empresa é de 14%.

No total, o share da varejista nos primeiros seis meses do ano chegou a 19,7%. No período, a empresa cresceu 1 ponto percentual no varejo físico, enquanto manteve participação no digital.

“Estamos entregando resultados melhores, mas até pela atual taxa de juros [de 15% ao ano], a gente ainda tem prejuízo. Ainda não estamos satisfeitos e, por isso, vamos continuar avançando nos dois pilares, que são o operacional e a estrutura de capital”, diz o CFO.

“Hoje não há uma bala de prata e sim um conjunto de ações para alcançar esse desempenho e por isso precisamos seguir nas várias frentes”, complementa.

No auge da crise da companhia, em 2023, existia um plano na mesa que envolvia a venda de parte do crediário da empresa, que é próprio e representa 25% da receita nas lojas físicas, movimento já realizado pelo Magazine Luiza em 2001, criando a LuizaCred, joint-venture entre a empresa e o Itaú. Hoje, essa opção na Casas Bahia está descartada.

No fim de setembro, a companhia anunciou a captação de R$ 550 milhões de seu fundo de investimento em direitos creditórios (FDIC), lançado em fevereiro com uma previsão inicial de chegar a R$ 300 milhões.

O fundo conta com a garantia de recebíveis de cartão de crédito, provenientes da venda de mercadorias no canal e-commerce e de algumas lojas físicas da companhia.

No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou receita líquida de R$ 6,8 bilhões, alta de 6% sobre o mesmo período de 2024. O Ebitda ajustado foi de R$ 572 milhões, 26,5% acima da mesma base do ano anterior, com R$ 452 milhões. O prejuízo líquido alcançou R$ 423 milhões, queda de 10,1%.

No acumulado de 2025, as ações da Casas Bahia na B3 registram alta de 17,25%. No recorte dos últimos 12 meses, no entanto, o cenário é de queda de 25,3%. A companhia está avaliada em R$ 2,18 bilhões.

(Atualização: após a publicação da reportagem, a Casas Bahia retificou a informação e explicou que a companhia tem planos para vender as sete lojas, mas que ainda não as colocou à venda)