Vice-líder do mercado brasileiro de cachaça, com 28% de market share, a Indústria de Bebidas Tatuzinho 3 Fazendas, dona da Velho Barreiro, já sente no bolso a “ressaca financeira” da crise provocada pela contaminação por metanol em bebidas destiladas no País, que teve início há pelo menos duas semanas e que causou cinco mortes por intoxicação até aqui.

Por mês, a empresa vende 8,5 milhões de garrafas de Velho Barreiro (mais de 100 milhões por ano). E, desse volume, 60% são retornáveis, já que são consumidas em bares e adegas. Os outros 40% estão em locais como lojas de conveniências e mercados, em que o cliente leva a garrafa fechada.

O primeiro impacto tem sido justamente nos vasilhames que deveriam retornar para a fábrica da empresa, que fica na cidade paulista de Rio Claro, onde têm de passar pelo processo de esterilização para serem reutilizadas. Dessa parcela, a queda das vendas na última semana foi de 35%, o que representa uma redução de pelo menos 750 mil garrafas em apenas sete dias.

E, ainda que não tenham sido registrados, por ora, casos de contaminação em garrafas de cachaça - até aqui foi detectada a presença do combustível em vasilhames de gin, uísque e vodca -, todo o setor de destilados foi diretamente afetado.

“Essa é a maior crise do setor de bebidas destiladas no Brasil. Está todo mundo no mesmo balaio. Não acho que seja um caso pontual. A situação passou a ficar muito mais séria nos últimos dias”, diz César Rosa, CEO da Velho Barreiro, em entrevista ao NeoFeed.

Para tentar frear essa queda no volume das garrafas que retornam para a fábrica, a empresa deve, a partir dos próximos dias, passar a recolher esses vasilhames nos pontos de venda onde a Velho Barreiro é comercializada. Segundo o Rosa, são quase 1 milhão de pontos em que a bebida é vendida.

Até então, era responsabilidade desses grandes compradores fazer a logística reversa e enviar os vasilhames para a empresa - o que garantia uma redução do valor, sem o repasse dos impostos da embalagem e com o pagamento apenas pelo líquido.

O custo, a partir desta logística emergencial, deve aumentar entre 6,5% e 7%, montante que deverá ser absorvido pela companhia.

“Não queremos que o distribuidor corra o risco de ser acusado de estar vendendo vasilhames que possam ser adulterados”, afirma Rosa. “Vamos buscar essas garrafas, que também são nossos ativos.”

Uma reunião entre a diretoria executiva da companhia está marcada para segunda-feira, 13 de outubro, para definir os próximos passos e entender o impacto do último fim de semana.

A destilaria também está concluindo a implementação de um novo contrarrótulo, que trará informações importantes. A ideia é que esse material comece a ser impresso no início da semana, para, em seguida, ir para a linha de produção.

Além disso, a empresa pretende orientar aqueles funcionários que estão na ponta final da venda e que atendem diretamente os clientes nos balcões dos estabelecimentos, para informar sobre a procedência das garrafas.

“Falamos diretamente com o público C, D e E. Se você for em um bar na periferia de Manaus, vai encontrar uma garrafa de Velho Barreiro. Então é muito importante que a gente possa explicar de uma forma fácil para essas pessoas e dar a tranquilidade para o consumo da bebida”, diz o CEO.

Fábrica da Velho Barreiro, em Rio Claro (SP), onde são produzidos 86 milhões de litros de cachaça por ano

Rosa critica a recomendação dada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) para que consumidores e distribuidores quebrem as garrafas, para, em tese, evitar a falsificação dos produtos.

“Esse não é o caminho. O certo é identificar a origem deste problema e a garrafa pode ajudar a rastrear. Seria como destruir uma prova. Além disso, não é fácil a logística de um vidro quebrado, ainda mais em larga escala. Não dá para largar em qualquer lugar. Isso é complexo”, diz ele.

Segundo o CEO da empresa, não há utilização de etanol no processo de limpeza das garrafas na fábrica. “Os vasilhames entram em um equipamento gigante, e passam por um ciclo que inclui a lavagem com água, o uso de soda cáustica, enfrentam um calor de mais de 100 graus, e terminam com um banho de cachaça bruta, que garante a esterilização”, afirma.

Há diversos casos de contaminações de destilados ao longo das últimas décadas, mas segundo ele, o que difere desse caso é que os episódios envolveram a classe média, que normalmente consome bebidas mais caras do que a cachaça tradicional.

“Eu acredito que esses casos estão ligados à falsificação amadora, a partir da mistura com o combustível direto do posto, que já tem o etanol. Mas é necessário que haja uma apuração mais consistente por parte das autoridades”, diz Rosa.

“Temos visto muitas adegas e distribuidoras sendo rigorosamente fiscalizadas. E isso é importante, está correto. Mas precisa haver o equilíbrio para separar as marcas de prestígio dos aventureiros que estão por aí”, completa o CEO da Velho Barreiro.

A destilaria produz anualmente 86 milhões de litros de aguardente, sendo 85% de Velho Barreiro (73 milhões). Além dela, a empresa também fabrica a Tatuzinho e a 3 Fazendas. Para 2025, a depender do período do impacto a partir da crise do metanol, a perspectiva é que o volume seja mantido e a receita tenha alta de 8%, por causa do aumento dos preços no início do ano.

Além da perda atual de receita a partir do episódio da contaminação, Rosa também já vem detectando, nos últimos anos, a perda de clientes justamente dessa renda mais baixa a partir da concorrência de gastos com as chamadas bets.

A empresa não revela o faturamento, mas há uma pista: como a garrafa de 910 mililitros é vendida em média a R$ 15, descontando uma média de 30% da margem do distribuidor, e quase 50% de impostos do valor restante, é possível chegar a uma receita aproximada de R$ 450 milhões para a dona da Velho Barreiro.