No script da Covid-19, o drama das redes de cinema ainda está bem distante de um final feliz. Com os complexos fechados desde as primeiras semanas da pandemia, as receitas do setor foram zeradas. E para voltar a faturar, essas empresas terão que passar por um roteiro de desafios.
Principal nome do setor no País, com 640 salas, em 88 complexos instalados em 50 cidades, o Cinemark é um exemplo desse contexto. A rede projeta reabrir suas primeiras unidades entre o fim de agosto e o início de setembro. Mas para consolidar esse retorno, terá que superar algumas barreiras.
“Essa história da retomada é o nosso terror diário”, disse Marcelo Bertini, CEO do Cinemark no Brasil, em live no fim da tarde hoje, promovida pelo Mercado Eletrônico. “É um caminho árduo. Temos que conectar duas variáveis que não estão sob nosso controle.”
A primeira delas envolve a diversidade de estágios da pandemia no País e os diferentes protocolos de segurança e higienização em cada região. “O governo federal não tem liderança, cada estado decide de um jeito e cada cidade interpreta de outro”, afirmou. “Estamos lidando com 50 protocolos diferentes e tentando, de alguma maneira, unificá-los.”
Em outro plano, o executivo também ressaltou a dependência das definições das datas de lançamentos dos filmes por parte das distribuidoras. “E essas empresas só vão definir essas questões quando tiverem uma perspectiva mais definida sobre a reabertura”, observou. “É um ciclo que não se fecha nunca.”
Enquanto tenta equacionar esses problemas, o Cinemark trabalha no modelo que será adotado nesse retorno. Inicialmente, as primeiras salas serão reabertas nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. À parte dos critérios diversos em cada município, a rede já tem alguns parâmetros próprios definidos.
“Estamos focando na revisão completa da jornada do cliente, que será praticamente toda digital, com pouco contato físico”, afirmou. “E teremos menos pessoas nos pontos de venda e muito mais gente trabalhando na sanitização de todas as áreas”, disse o executivo, citando ainda critérios como o distanciamento de 1,5 metro entre os frequentadores.
Ao mesmo tempo, a rede busca alternativas para se manter antes de reabrir suas portas. Entre as iniciativas, estão as ofertas no modelo de drive-in, com ações realizadas no Iguatemi Shopping e Taguatinga Shopping, em Brasília (DF). Nesse último caso, o Cinemark respondeu apenas pelos alimentos e bebidas.
Nesse pacote, o principal projeto envolve o drive-in no estacionamento do Shopping Eldorado, em São Paulo, previsto até 5 de agosto e que conta com um painel de LED de 127 metros quadrados. Os ingressos custam de R$ 60, nas sessões diurnas, a R$ 90, nas noturnas, e são válidos para quatro pessoas por veículo. A capacidade é de até 90 carros.
Apesar de ressaltar que o formato preenche uma lacuna importante nesse momento, Bertini não enxerga oportunidade para investir nesse modelo no pós-crise. “Ainda não acredito que, do ponto de vista econômico, seja possível escalar esse tipo de negócio de forma rentável e perene.”
“Estamos focando na revisão completa da jornada do cliente, que será praticamente toda digital, com pouco contato físico”
Outra fonte de receita do Cinemark é a venda de sua linha de pipocas em parceiros do varejo. O Brasil é o único país no qual a rede mantém esse modelo. Hoje, os produtos estão disponíveis em mais de 1,2 mil pontos de venda no País, de 12 redes varejistas.
Além dessas alternativas, o Cinemark adotou outras medidas para estancar os efeitos da Covid-19. Logo no início da crise, a companhia devolveu estoques de produtos e renegociou condições com fornecedores.
Na sequência, a rede aderiu a Medida Provisória 936, que permite a redução de jornada e de salários. O grupo tem três mil funcionários no País. “Não demitimos ninguém”, disse Bertini, que ressaltou outro foco da companhia. “Todo mês, nosso time está revisitando a renegociação dos aluguéis.”
O Brasil é uma operação relevante no mapa do grupo americano. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, no início do ano, Valmir Fernandes, presidente da Cinemark International afirmou que o faturamento anual da rede no País, nos doze meses anteriores a setembro de 2019, foi de US$ 305 milhões, com uma base de 42,5 milhões de ingressos vendidos. Já a receita bruta local no período foi de US$ 2,5 bilhões.
Globalmente, a rede contabilizou os primeiros efeitos da pandemia em seus resultados já no primeiro trimestre. Entre janeiro e março, o grupo reportou um prejuízo líquido de US$ 59,4 milhões, contra um lucro líquido de US$ 33,1 milhões, um ano antes. Já a receita foi de US$ 543,6 milhões, comparada aos US$ 714,7 milhões de igual período, em 2018.
Apesar de todos esses desafios, Bertini mantém a confiança. “Estamos cinco meses sem faturar nenhum real e nossa indústria será uma das últimas a retomar a atividade”, disse. “Mas estamos mostrando resiliência e tenho certeza que vamos sair fortalecidos dessa crise.”
Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.