A abertura de capital da ClearSale, a empresa de tecnologia de soluções antifraude e score de crédito, aconteceu em julho de 2021. A oferta inicial de ações de pouco mais de R$ 1 bilhão colocou cerca de R$ 600 milhões no caixa da companhia. Com cada ação valendo R$ 25 no lançamento, tudo parecia caminhar para uma história de sucesso. Mas uma espiral de problemas tragou a empresa.
Desde então, as ações perderam quase 80% do valor (estavam sendo negociadas a R$ 5,14 no fechamento de segunda-feira, 27 de março). Por quatro trimestre consecutivos, tanto a receita líquida como o Ebtida da companhia foram negativos.
Internamente, a ClearSale trata esse período como a tempestade perfeita, que teve início já no terceiro trimestre de 2021. Com a alta acelerada da taxa básica de juros para conter a inflação, as vendas no e-commerce despencaram. No modelo de negócios da companhia, a receita é gerada pela taxa de sucesso.
De um lado, parte da receita da empresa vem da quantidade de transações analisadas. Quanto mais, melhor. Mas existe um redutor importante: o número de fraudes. Quando as barreiras nos golpes aos operadores financeiros não funcionam, a ClearSale sofre uma queda no faturamento. É como se ela dividisse o prejuízo com os clientes.
“Investimos muito desde o quarto trimestre de 2021, apesar da baixa nos resultados. Sem dúvida, é uma curva de recuperação”, diz ao NeoFeed Eduardo Monaco, presidente da ClearSale. “Foi um trimestre que consolidou o plano de equilíbrio para um balanço de crescimento no longo prazo.”
Antes COO da companhia, Monaco assumiu a posição em novembro do ano passado e tem a missão de tocar o dia a dia do negócio. O sócio Bernardo Lustosa continua como CEO, mas exercendo uma função menos operacional e mais estratégica.
Para Monaco, durante cinco anos a ClearSale foi conhecida como a empresa de um produto no mercado. Por mais que a solução antifraude seja bem-sucedida, a única maneira de crescer de forma sustentável é jogando luz sobre outras linhas de negócio.
Nesses últimos meses, a companhia promoveu uma reestruturação organizacional criando três unidades de negócio independentes: e-commerce, application fraud e new ventures. Cada uma delas tem independência e agilidade para gerir e desenvolver os próprios produtos e a tecnologia, com líderes específicos para cada uma das verticais.
Na plataforma de dados, a empresa passa a destacar o potencial das funcionalidades. Além do indicador de fraudes e score de crédito, há outros componentes como biometria, comportamento do consumidor e documentoscopia.
“Começamos o ano em um nível de preparação, estruturação e coordenação para destravar o valor da companhia”, afirma Monaco. “E aprendendo a vender melhor e mostrar o que temos.”
No quarto trimestre, a receita líquida da ClearSale foi de R$ 151 milhões, 16% acima do mesmo período de 2022. O Ebitda de R$ 5,9 milhões reverte o resultado negativo de R$ 49 milhões do quarto trimestre do ano passado.
“Faço uma comparação que a ClearSale foi para a academia, melhorou os números e está fit em todos os aspectos”, afirma Alexandre Mafra, CFO da companhia. “Se for o caso, temos mais tempo pra ficar debaixo da linha d’água.”
Em decisão semelhante à de bancos como Itaú e Bradesco, a ClearSale decidiu provisionar 100% das perdas com Americanas. O impacto no balanço foi de R$ 5,9 milhões.