Aos 39 anos, Kevin Systrom está desapontado. Sócio do paulistano Mike Krieger na criação do Instagram, ele diz que a rede social “perdeu a alma”.

Quando os dois lançaram o aplicativo em 2010, a ideia era oferecer uma ferramenta para o compartilhamento de fotos, conta ele, em um episódio recente do podcast On with Kara Swisher.

Nos últimos anos, porém, a plataforma se transformou em um balcão de negócios. “Meu maior arrependimento no Instagram é o quão comercial ele se tornou”, revela Systrom. “Os incentivos são direcionados para mais comerciais, mais criadores, mais dólares em publicidade.”

Em sua opinião, as consequências da nova filosofia da empresa podem ser desastrosas – “aterrorizantes”, como ele próprio define. Focados em chamar mais e mais a atenção e assim fazer mais e mais dinheiro, muitos dos 2 bilhões de usuários ativos da rede social compartilham cenas de um cotidiano irreal.

“Isso concentrou a energia nas pessoas que vivem vidas aparentemente incríveis, que fazem as coisas mais espetaculares, que vestem as roupas mais extravagantes”, afirma Systrom. “Uma corrida até o limite de quem é o mais perfeito.”

Os outros usuários acabam, segundo o empreendedor, acreditando que aquelas fachadas são a vida real dos influenciadores. A preocupação de Systrom faz sentido. Um sem número de estudos científicos já relacionou o uso excessivos das redes sociais, em especial o Instagram, ao aumento nos riscos de distúrbios psiquiátricos, como depressão e ansiedade. Uma ameaça sobretudo aos mais jovens.

Como conta, ele acompanhou a mudança de rumo do Instagram em seu próprio feed. Amigos seus que costumavam postar fotos de seu dia a dia, agora só publicam com a hashtag “#ads” – no Brasil, “#publi”. “Esse não é o Instagram que criamos”, lamenta Systrom.

Se ele tivesse de indicar uma rede social hoje, na qual as pessoas podem ser elas mesmas e compartilhar momentos reais, o empreendedor citaria o aplicativo francês BeReal. Criado por Alexis Barreyant e lançado em 2020, a plataforma tem despertado a atenção dos mais jovens, sobretudo os da geração Z.

Entre dezembro de 2021 e março de 2022, o número de usuários foi de 480 mil para 2 milhões. Diferentemente do que acontece com o Instagram, nem todos acessam a rede social francesa todos os dias.

O aplicativo desenvolvido por Systrom e Krieger foi um sucesso estrondoso. Depois de uma série de tentativas fracassadas, finalmente, em 6 de outubro de 2010, os amigos lançaram a plataforma. Eles estavam imaginando que algumas pessoas entrariam.

Qual não foi a surpresa deles quando, naquele primeiro dia, 25 mil pessoas baixaram o Instagram. Em um ano e meio, o número de usuários bateu os 30 milhões. Os fundadores então passaram a receber ofertas para vender a empresa. Em 2012, aceitaram a de Mark Zuckerberg – US$ 1 bilhão. Como sócio majoritário, Systrom ficou com 40% do dinheiro. E Krieger, com 10%.

Amigos da Universidade Stanford, na Califórnia, os dois ainda trabalharam para o então Facebook, hoje Meta, até 2018. Mas as tensão entre eles e o dono da companhia, controladora, além do Facebook e do Instagram, do WhatsApp, se tornou insustentável e Systrom e Krieger foram tocar outros negócios.

Systrom é hoje um dos cofundadores do Artifact, um aplicativo de notícias, à base de inteligência artificial, em funcionamento desde o início do ano.

Sob o comando de Zuckerberg, o Instagram, em 2016, copiou o Snapchat, a rede de mensagens e imagens que se autodeletam depois de 24 horas no ar, e lançou o Stories. Quatro anos mais tarde, o dono da Meta recorreria ao modelo desenvolvido pelo aplicativo chinês de vídeos TikTok para criar o Reels.

Todos os esses recursos são usados pelos influenciadores digitais e uma vasta gama de empresas para vender não apenas produtos, mas um estilo de vida inalcançável para a imensa maior dos usuários. Os anúncios renderam ao Instagram, só em 2019, US$ 20 bilhões em receitas.