Diante das dificuldades de viabilizar um plano de reestruturação capaz de atender a demanda de uma série de stakeholders, a Gol anunciou na quinta-feira, 25 de janeiro, que entrou com um pedido de reestruturação financeira na Justiça americana.

A companhia informou que acionou o Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial) no Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York.

Em fato relevante, a Gol também ressaltou que iniciou o processo com um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões, na modalidade debtor in possession (“DIP”) com um grupo de bondholders ligados à Abra, holding controladora da companhia e da Avianca.

Segundo a empresa, a busca pelo acesso a esse financiamento fará parte da audiência do primeiro dia com o Tribunal, prevista para os próximos dias. A companhia disse ainda que o financiamento, juntamente com o caixa gerado pelas operações, "fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações".

"A decisão de entrar no Chapter 11 é para que possamos termos uma estrutura de capital correta", disse o CEO da companhia, Celso Ferrer, em entrevista após a divulgação do pedido de reestruturação. "A Gol vem em negociações com diversos credores durante os últimos meses até que chegasse na decisão de hoje."

No documento, a Gol destacou que seguirá oferecendo seus serviços de transporte aéreo. "Todos os voos estão operando conforme programado e todas as passagens aéreas e reservas permanecem em vigor", diz um trecho do comunicado.

A decisão da Gol de entrar com um pedido de recuperação judicial veio na esteira das dificuldades que a empresa enfrentou para viabilizar um plano que atendesse as demandas de arrendadores de aeronaves, credores financeiros e detentores de títulos de dívida.

A busca por acordos com arrendadores de aeronaves vinha sendo uma das prioridades nesse processo. De acordo com projeções feitas pelo Itaú BBA, o passivo nessa esfera é de aproximadamente US$ 650 milhões.

No fim do ano passado, a Gol contratou a consultoria Seabury Capital para auxiliar seu processo de reestruturação financeira. No terceiro trimestre, a aérea acumulava dívidas de R$ 20,2 bilhões. A maior parte desse endividamento está relacionada ao aluguel de aeronaves e a contratos de leasing.

Dessa dívida total, cerca de R$ 2,9 bilhões vencem no curto prazo. Nessa conta, pelos cálculos da Fitch Ratings, a empresa tinha um caixa prontamente disponível de R$ 905 milhões.

A possibilidade de a Gol entrar com um pedido de recuperação judicial vinha sendo cogitada desde o último dia 14 de janeiro, quando o jornal Folha de S.Paulo informou que a companhia avaliava tomar o mesmo caminho da Latam, que entrou com um pedido para ingressar no Chapter 11 em maio de 2020. A empresa deixou a recuperação em novembro de 2022.

A notícia sobre a possibilidade de um pedido de recuperação judicial derrubou as ações da Gol no dia seguinte, 15 de janeiro. Os papéis fecharam o pregão com queda de 6,05%, a R$ 7,14, fazendo o valor de mercado da companhia cair de R$ 3,18 bilhões para R$ 2,98 bilhões.

Até o pedido registrado nesta quinta-feira, a empresa alimentava a esperança de seguir o mesmo roteiro de uma outra rival, a Azul, que, em outubro, concluiu a reestruturação de suas pendências com parte dos seus arrendadores de aeronaves e fabricantes de equipamentos.

No processo, a Azul informou que vai reduzir os passivos de arrendamento, com a diminuição dos pagamentos de arrendamento futuros em mais de R$ 1 bilhão por ano.