Anunciada em 30 de junho de 2022, por um valor estimado em R$ 2,5 bilhões, a fusão entre os grupos Fleury e Hermes Pardini recebeu o sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no fim de março deste ano, quando o órgão bateu o martelo sobre a transação, sem nenhum remédio.

Um dos próximos passos nesse calendário é o dia 28 de abril, quando está prevista a troca de ações para o início das negociações da operação unificada na B3. E o “novo grupo” de medicina diagnóstica chegará a essa etapa com dados mais otimistas do que aqueles divulgados na época do anúncio doo acordo.

Nesta segunda-feira, 17 de abril, Fleury e Pardini revisaram, para cima, as projeções das sinergias resultantes da combinação de negócios. A expectativa agora é capturar entre R$ 200 milhões e R$ 220 milhões anuais em Ebitda, contra uma previsão anterior na faixa de R$ 160 milhões a R$ 190 milhões.

“Cerca de 90% são relacionadas a custos e despesas”, diz Jeane Tsutsui, CEO do Fleury e que também atuará como CEO da nova operação, ao NeoFeed. “É claro que temos oportunidades de receita e de ganho de mercado, mas isso depende de diversos fatores. Focamos naquilo que está nas nossas mãos.”

Os novos números são fruto de um trabalho conjunto tocado nos últimos seis meses, a partir de oito frentes de trabalho formadas por profissionais dos dois grupos e mais de 70 pessoas envolvidas diretamente.

“A captura da maior parte dessas sinergias, 95% delas, será feita até 36 meses após a conclusão da operação”, afirma Tsutsui. “Nós temos 60 iniciativas mapeadas, com nome, sobrenome, cronograma e quem vai liderar esses processos.”

Nesse mapa extenso, duas áreas, em particular, oferecem grandes oportunidades, segundo o levantamento feito a quatro mãos. A primeira é a de procurement (compras), a partir do maior poder de barganha para buscar novas condições com fornecedores. A segunda frente é a de logística.

“Nossas equipes mapearam rota a rota, contrato a contrato, as oportunidades de unificar essa logística”, ressalta a executiva. “Em outra frente, passaremos a ter 24 áreas técnicas em todo o País. Vamos redistribuir as amostras e reduzir o custo com deslocamento e os prazos de entrega.”

O grupo também atualizou os números resultantes da nova operação. Ela nasce com uma receita bruta anual de R$ 7,1 bilhões, um Ebitda de R$ 1,6 bilhão, 20 mil funcionários e 4,3 mil médicos. Além de 520 unidades de atendimento e um volume superior a 277 milhões de exames processados por ano.

Entre tantos indicadores, um dado se sobressai e deve ganhar bastante foco a partir de agora: os mais de 7 mil clientes do Lab-to-Lab, unidade de negócios B2B do Pardini que presta serviços de análise para clínicas, laboratórios, operadoras de planos de saúde, hospitais e empresas de outros segmentos.

“Essa combinação de negócios traz como destaque essa nova avenida que estamos adicionando de medicina diagnóstica B2B”, observa Tsutsui. “Com a fusão, vamos ter uma receita de R$ 1,8 bilhão nessa área onde, até então, nossa atuação era mais tímida.”

Roberto Santoro, que até então atuava como CEO do Pardini e que, agora, irá liderar justamente a unidade de negócios de Lab-to-Lab, Suporte e Operações, acrescenta um número a essa conta, para ilustrar o potencial dessa frente.

“O B2B já tem uma fatia de cerca de 10% do mercado de medicina diagnóstica”, diz Santoro. “E o Fleury é muito voltado à pesquisa e desenvolvimento e tem um portfólio muito especializado, o que tinha o seu alcance limitado em função da infraestrutura e da logística, mas que agora só fortalece essa oferta.”

A dupla aponta outros ganhos para a operação trazidos pelo Pardini na esteira dessa presença no B2B. Um deles refere-se ao digital, em que o grupo já mantém plataformas como a My Pardini, de relacionamento com laboratórios, e o marketplace Pardis, para a venda de produtos a esse público.

A área de tecnologia e digital será comandada por João Alvarenga que, até então, exercia a mesma função no Pardini. Ele, Santoro e Alessandro Ferreira, que será diretor comercial e de marketing, são os únicos três nomes ligados ao grupo mineiro no alto escalão da nova operação.

Nessa composição, anunciada também nessa segunda-feira, o Fleury responderá por sete do total das dez vagas reservadas às lideranças. Tsutsui, escolhida para comandar a companhia após a fusão, faz questão de ressaltar, porém, que isso não significa que o Fleury foi priorizado nessa relação.

“Acho que é algo natural. Nós temos grandes líderes do Pardini que seguem, em toda a organização e não apenas nesse primeiro nível”, diz. “O mais importante não é o número, mas a combinação dessas competências.”

Enquanto não unem suas forças oficialmente, na B3, as ações do Fleury encerraram o dia com ligeira queda de 0,21%, dando a empresa um valor de mercado de R$ 5,3 bilhões. Já os papéis do Pardini, avaliado em R$ 2,5 bilhões, fecharam o pregão com um recuo de 0,1%.