O Morgan Stanley voltou a elevar o otimismo em relação à Nvidia. Em relatório, o banco americano aumentou o preço-alvo das ações para US$ 250, sugerindo um potencial de valorização de até 41% em relação ao fechamento do papel em novembro.

Para o analista Joseph Moore, a companhia segue na liderança de um mercado que ainda está no início de uma nova onda de transformação impulsionada pela inteligência artificial. E, por isso, mesmo após fortes altas nos últimos trimestres, ainda não atingiu seu teto.

Essa aposta renovada acontece em um momento em que o protagonismo da Nvidia começa a ser desafiado por um novo competidor de peso: o Google. A gigante da tecnologia está ampliando a oferta das suas próprias TPUs (Tensor Processing Units) para o mercado.

"Quando falamos de inteligência artificial, muita gente trata como um produto, algo fechado, mas IA não é um objeto: é um conjunto de técnicas", diz Marcio Aguiar, diretor da divisão enterprise da Nvidia para América Latina, ao NeoFeed.

Nas últimas semanas, rumores de que empresas como a Meta estariam avaliando usar os chips TPU do Google em seus data centers em 2027 fizeram as ações da Nvidia caírem e reacenderam o debate sobre uma eventual mudança no equilíbrio de poder do setor.

“Somos a única empresa do mundo que consegue entregar todos os componentes necessários para que qualquer empresa monte o seu data center. Tem outras empresas vindo? Não tem problema. Vamos sempre estar seis meses à frente porque esse é o tempo de qualquer pioneiro em relação à concorrência" afirma Aguiar.

Se durante anos a Nvidia surfou quase sem concorrência relevante, analistas e investidores observam agora se o padrão seguirá absoluto ou se o mercado passará a conviver com múltiplas opções.

Mesmo se isso ocorrer, segundo o Morgan Stanley, a transformação do mercado pode demorar anos, pois clientes corporativos dependem do ecossistema de programação CUDA, desenvolvido pela Nvidia ao longo de mais de uma década.

Marcio Aguiar Nvidia
Marcio Aguiar, diretor da divisão enterprise da Nvidia para América Latina

Os números ajudam a dimensionar esse argumento. Em 2020, a companhia movimentava cerca de US$ 3 bilhões com soluções para data centers. No trimestre trimestre deste ano, a Nvidia reportou que a receita do segmento de data centers atingiu a marca de US$ 51,2 bilhões e deve continuar crescendo em ritmo acelerado. A corrida global por terrenos e energia para a construção de data centers reforça essa percepção.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Alguns analistas falam em uma possível “bolha de inteligência artificial”, com valuations exagerados. Estamos diante de uma valorização acima do devido das companhias?
Vejo que estamos vivendo uma transformação tecnológica que ainda está no início. Quando falamos de inteligência artificial, muita gente trata como um produto, algo fechado, mas IA não é um objeto: é um conjunto de técnicas. Temos visão computacional, análise preditiva, machine learning, deep learning, IA perceptiva, cognitiva e até robótica começando a ganhar tração. Cada uma dessas frentes está evoluindo, e estamos apenas no começo dessa curva. Então, ainda há muito espaço. Não existe teto no curto ou médio prazo.

Na última semana de novembro, as ações da Nvidia caíram após rumores de que Google e Alphabet poderiam ampliar participação no mercado com seus chips. Haverá revisão da estratégia da empresa com a concorrência crescente?
O mercado é enorme, e nosso foco sempre foi em General Purpose Computing com GPUs capazes de atuar em múltiplos ambientes, usando nosso ecossistema CUDA - uma linguagem proprietária desenvolvida há 15 anos. E é importante lembrar: Google, Microsoft, Oracle e Amazon são grandes clientes nossos. Existe uma relação de cooperação e competição. Nós ajudamos a criar esse mercado. Por isso, não vemos essa movimentação como ameaça, mas como resultado natural de um mercado em expansão.

Qual é o impacto da decisão da China de restringir o uso dos chips da Nvidia em novos data centers e como isso influencia a estratégia global?
Zero impacto imediato. No último resultado (terceiro trimestre de 2025), nossa projeção já considerava zero vendas para a China. Há tensões políticas entre Estados Unidos e China, e não cabe à Nvidia resolver isso. Enquanto governos não se alinharem, não incluímos a China em projeções. Ao mesmo tempo, novos mercados estão emergindo: países da América Latina, África e Europa têm aumentado investimentos em IA e infraestrutura.

E como o Brasil se posiciona nessa agenda, visto que a maturidade de IA ainda é baixa comparada a outros mercados?
O Brasil está num momento interessante. Um país pequeno ou uma empresa com poucas pessoas pode ser tão relevante quanto um gigante global se entender como usar IA para transformar processos. Existe ainda uma expectativa sobre incentivos fiscais para data centers, previstos para início de 2026. Muitos investidores estão esperando essa definição para acelerar projetos no País.