A decisão da incorporadora chinesa Evergrande de cancelar as conversas para reestruturar mais de US$ 19 bilhões em títulos de dívida internacional pode ter consequências pesadas para a segunda maior economia do mundo, cujo mercado imobiliário enfrenta desafios significativos.
Bondholders com mais de US$ 6 bilhões em títulos de dívida da Evergrande soltaram um comunicado na segunda-feira, 9 de outubro, alertando para os “efeitos catastróficos” que o fim das conversas pode ter no mercado chinês, segundo informações do The Wall Street Journal e do South China Morning Post.
“Isso [deixar a mesa de negociação] provavelmente levará a um colapso descontrolado”, diz trecho da nota de um grupo composto por credores internacionais baseados em Nova York, Londres e Hong Kong e que está sendo assessorado pela Moelis & Company e a Kirkland & Ellis.
Após quase dois anos negociando com investidores, a Evergrande abandonou as conversas para reestruturar parte de sua dívida no final do mês passado. A companhia alegou que os reguladores impediram a emissão de novos títulos de dívida, passo crucial do processo, porque uma de suas principais subsidiárias estava sob investigação.
Na carta divulgada hoje, o grupo de credores questiona o quanto a companhia tentou obter o apoio dos reguladores, considerando o perigo do caso, e por que a Evergrande assegurou repetidas vezes que um acordo tinha sido alcançado. Eles reclamam que toda essa situação os deixou “no escuro”.
Para eles, é difícil acreditar que as autoridades chinesas “realmente impediriam uma companhia com problemas de se reestruturar”, principalmente quando os termos do acordo são “altamente favoráveis ao grupo [Evergrande] e oferecem um caminho aberto para a recuperação”.
Um “colapso descontrolado”, como sugerido pelos credores, pode ter consequências pesadas sobre a economia real, que enfrenta ainda as consequências negativas da queda das exportações e da lenta recuperação da atividade interna após a pandemia.
Quando a Evergrande deu calote em suas obrigações no final de 2021, a companhia era a incorporadora mais endividada da China. Ela devia dinheiro para milhares de fornecedores e precisava entregar outros milhares de imóveis aos clientes.
Até junho, a dívida total da Evergrande era de mais de US$ 332 milhões. No final do ano passado, a empresa tinha 720 mil apartamentos vendidos e não concluídos. Os problemas da Evergrande levaram, inclusive, à prisão de seu fundador e presidente, Hui Ka Yan, pela polícia chinesa, no início de setembro.
A situação da empresa vem sendo monitorada de perto por investidores, considerando que o mercado de construção e incorporação responde por 25% do PIB da China e um quarto dos financiamentos bancários no país.
As construtoras e incorporadoras chinesas já deram um calote de cerca de US$ 30 bilhões em suas dívidas no ano passado, segundo a agência de classificação de riscos S&P Global Ratings, com muitas delas negociando o alongamento de prazos com investidores.
Um dos principais nomes do setor de real estate da China, a Country Garden tem conseguido driblar o risco de calote, embora tenha atrasado pagamentos de títulos em dólar em agosto, precisando recorrer a uma carência de 30 dias para cumprir com as obrigações.
As ações da Evergrande terminaram o pregão de hoje com queda de 12,70% na Bolsa de Hong Kong, a 0,28 dólar de Hong Kong (US$ 0,03).