O CEO da BlackRock, Larry Fink, advertiu que os governos e o setor privado precisam se coordenar para garantir que as pessoas tenham dinheiro suficiente para se aposentar, à medida que os avanços médicos aumentam a longevidade da população.

Em sua carta anual aos investidores, divulgada na manhã de terça-feira, 26 de março, o principal executivo da BlackRock, que detém mais de US$ 10 trilhões sob gestão, afirmou que o mundo enfrenta uma iminente “crise de reformas” que exige uma reavaliação das aposentadorias e dos padrões de trabalho.

“Concentramos uma quantidade enorme de energia em ajudar as pessoas a viverem vidas mais longas, mas nem uma fração desse esforço é gasta ajudando as pessoas a pagar esses anos extras”, escreveu Fink.

O CEO da gestora surpreendeu os investidores, que costumam aguardar com expectativa sua mensagem anual, ao abordar o tema da aposentadoria – nas cartas anteriores, Fink deu grande atenção às mudanças climáticas e à responsabilidade das empresas para combatê-las, defendendo os fundos ESG da BlackRock.

Fink citou projeções da ONU de que uma em cada seis pessoas que vivem no planeta terá mais de 65 anos em 2050, contra uma em 11 em 2019. Por isso, fez um apelo visando ao aumento da utilização global dos mercados de capitais para ajudar os trabalhadores a poupar para a velhice.

“Embora a reforma da aposentadoria seja principalmente um desafio de poupança, os dados são claros: é também um desafio de gastos”, advertiu em um trecho da carta. “Construir uma reforma segura é uma proposta muito mais difícil do que era há 30 anos e será ainda mais difícil daqui a 30 anos.”

Ele citou dois países cujos modelos de aposentadoria devem ser estudados. O Japão, segundo ele, encontrou maneiras de encorajar as pessoas a permanecerem no trabalho por mais tempo. E também elogiou a solução australiana.

“O sistema nacional de poupança-reforma da Austrália, conhecido como garantia de aposentadoria, também foi eficaz na criação de maiores fundos de pensão para mais trabalhadores”, acrescentou Fink, que não escondeu o principal alvo de sua advertência: os Estados Unidos.

Americanos despreparados

O aumento da contribuição definida dos planos de pensões  combinado com a crescente pressão sobre o programa de reformas de seguridade social do governo deixaram os EUA particularmente despreparados para um enorme aumento na população aposentada, alertou.

Fink descreveu o fosso entre o que os americanos estavam economizando e o que eles precisariam - de acordo com levantamento independente, cerca de US$ 4 trilhões -, como “um problema tão grande e urgente” que os líderes políticos e corporativos precisam sentar-se à mesma mesa para achar uma solução.

“Hoje, na América, a mensagem de aposentadoria que o governo e as empresas transmitem aos seus trabalhadores é efetivamente: ‘Você está por conta própria’”, escreveu.

Como avô e como americano, Fink disse que é preciso fazer mais para enfrentar os elevados níveis de desespero entre os jovens. “Se as gerações futuras não sentirem esperança neste país e no seu futuro nele, então os EUA não perderão apenas a força que faz as pessoas quererem investir. A América perderá o que a torna América”, escreveu ele.

A mensagem de Fink não foi aleatória. Mais de metade dos ativos sob gestão da BlackRock são de fundos de pensões, incluindo fundos institucionais, planos individuais e os corporativos de contribuição definida, conhecidos nos EUA pela sigla 401(k).

Com o novo foco num tema de importância para o planejamento individual de investidores a longo prazo, Fink conseguiu se afastar da polêmica criada nos últimos anos ao defender investimentos pesados das empresas na descarbonização e transição energética.

A BlackRock chegou a perder carteiras de investimentos de estados americanos liderados pelos republicanos pelo fato de a gestora alegadamente ser “hostil” aos combustíveis fósseis.

Fink, porém, citou o “pragmatismo energético” em sua carta aos investidores deste ano. Citando suas viagens a 17 países no ano passado, constatou que os políticos e empresários globais planejam cada vez mais investir em petróleo e gás para a segurança energética e em energia verde para a transição energética.

“Esses líderes acreditam que o mundo ainda precisa de ambos, eles eram muito mais pragmáticos em relação à energia do que dogmáticos”, escreveu Fink. “Ninguém apoiará a descarbonização se isso significar desistir de aquecer a sua casa no inverno ou de refrescá-la no verão. Ou se o custo de fazer isso for proibitivo.”