A CVC Corp registrou no segundo trimestre alta de 16% na receita líquida, para R$ 281,4 milhões, e avanço de 31,3% no Ebitda ajustado, que atingiu R$ 92,3 milhões, sustentados pelo desempenho do B2B e pela operação na Argentina.
Apesar da melhora operacional, o prejuízo líquido aumentou para R$ 15,9 milhões ante o prejuízo de R$ 4,8 milhões registrado no mesmo período do ano passado. Entre o Ebitda e a linha final do resultado, o que atrapalhou o desempenho foi a dívida da companhia.
Considerando também os recebíveis antecipados, o endividamento geral da CVC ficou em R$ 984 milhões ao fim do segundo trimestre, R$ 118 milhões a menos que no trimestre anterior. Parte dessa dívida é de CDI + 4,5%, enquanto o custo de uma fatia relevante da antecipação de recebíveis é de 17% ao ano.
"O início da geração de caixa mais forte e redução da dívida era algo que o mercado aguardava ansiosamente", afirma Fábio Godinho, CEO da CVC Corp, em entrevista ao NeoFeed.
Com a alta da Selic pressionando a dívida, que é atrelada ao CDI, reduzir esse efeito no balanço tem sido uma prioridade. Para isso, a companhia tem buscado abater a dívida com a geração de caixa, além de negociar taxas mais atrativas nas antecipações de recebíveis.
“No início de 2024, vinha rodando a 124%. Agora, está em 109%. Estamos fazendo isso. A questão é que o ponto de largada dos 15% é muito alto”, diz Felipe Gomes, Vice-Presidente de Gente, Finanças, Jurídico e Estratégia da CVC Corp. “Isso é puro pagamento de juros.”
Os juros elevados também têm afetado as operações B2C da companhia no Brasil. Mais de 90% das vendas da CVC são financiadas e o tíquete médio dos pacotes é de R$ 4 mil a R$ 5 mil, o que torna o negócio sensível ao custo do crédito.
Além da maior dificuldade de financiamento, o que dificulta a recuperação do B2C no Brasil, Godinho ressalta que as operações B2B seguem firmes, responsáveis pelo aumento de 16% da receita da companhia no País.
“Temos investido muito em tecnologia. Portanto, o nosso sistema de distribuição, tanto de hotelaria quanto de serviço aéreo, é muito superior ao dos concorrentes. Temos ganhado muito market share tanto na distribuição de passagens aéreas domésticas quanto internacionais”, afirma o CEO.
Godinho conta que uma das estratégias em B2B também tem sido ampliar a carteira de clientes estrangeiros. “No B2B, vendíamos hotel e aéreo para agências de viagem independentes do Brasil. Mas cada vez mais estamos virando um global content distributor. Hoje, o maior cliente da Rextur Advance [uma das marcas da companhia] é um cliente chinês.”
No B2C, fatores pontuais pesaram no trimestre, como a guerra em Israel (que afeta o turismo religioso), incertezas em relação à emissão de vistos para os Estados Unidos e queda de 30% na capacidade de cruzeiros no Brasil, com a saída de três navios.
Segundo o CEO da CVC, há a possibilidade de a companhia fretar navios futuramente para atender a essa demanda. “Em função do custo elevadíssimo portuário no Brasil, essas empresas vão para outros países, como o Caribe, onde têm boa demanda em moeda estrangeira e um custo operacional portuário menor”, conta Godinho. “Já fretamos navios anteriormente. É uma opção que estamos estudando para os próximos anos.”
Argentina e figital
O executivo destaca também o bom momento na Argentina. Lá, o Ebitda cresceu 41,2% no período para R$ 13,4 milhões, com ganhos tanto no B2C quanto no B2B, onde Godinho vê um ambiente competitivo fragmentado. “Temos ganhado market share.”
Depois de ter aumentado o número de lojas na Argentina em 35% no ano passado, a CVC segue ampliando sua presença no país vizinho. No segundo trimestre, foram mais nove lojas, encerrando o período com 172 lojas por meio de franqueados. No Brasil, são 1.338 lojas em operação, sendo que 41 abriram no trimestre.
Godinho explica que o aumento do número de lojas está atrelado ao novo modelo adotado pela companhia, de estruturas mais enxutas e abordagem figital, que reúne lojas físicas e o digital. “Geramos 30 a 40 mil leads por dia para as lojas. Fazemos isso por canais da Meta, como WhatsApp e Instagram.”
Além da abordagem digital aumentar a demanda para essas lojas, o CEO conta que o valor mais baixo para se abrir e manter uma loja da CVC tem facilitado a expansão. “Antes, precisava de R$ 350 mil para abrir uma loja. Hoje, com R$ 50 mil, abre. Tem loja no Mato Grosso que paga R$ 800 de aluguel e que 70% das vendas vêm do figital. O franqueado não depende mais de o cliente entrar fisicamente pela porta.”
O executivo defende que esse é um modelo que deve ter vida longa, especialmente para o planejamento de viagens de férias. “O cliente compra diretamente uma passagem para amanhã para o Rio de Janeiro. Mas não vai comprar uma viagem para ir com a família para a África do Sul pelo telefone.”
Uma inspiração, revela, é a empresa chinesa Trip.com, avaliada em US$ 39 bilhões. “Eles têm 6 mil agências, sendo que a metade foi aberta depois da pandemia. O transporte e acomodação eles vendem digital, mas férias é no omnichannel. Eles geram lead para as lojas, que são pequenas, com baixo capex, como as nossas”, diz Godinho. "O agente de viagens está presente no futuro do turismo da China."
As ações da CVC acumulam 66,6% de valorização desde o início do ano e encerraram o último pregão cotadas a R$ 2,30, a um valor de mercado de R$ 1,21 bilhão.