Quando anunciou a aquisição da Gillette, em 2005, numa operação na casa dos US$ 57 bilhões, a Procter & Gamble (P&G) tinha como objetivo criar a maior empresa de produtos ao consumidor do mundo. O que ela não imaginava é que teria de ficar “pagando” pela transação quase duas décadas após o deal.

Em razão de uma reavaliação do valor da fabricante de baterias e lâminas de barbear, a companhia anunciou uma baixa contábil de US$ 1,3 bilhão.

Em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM dos Estados Unidos) na terça-feira, 5 de dezembro, a P&G informou que a baixa contábil foi feita por conta de uma taxa de desconto mais elevada que a estimada anteriormente, do enfraquecimento do dólar em relação a outras moedas e dos custos oriundos de uma programa de reestruturação que vem conduzido.

A reestruturação da P&G refere-se a ajustes em alguns mercados, especialmente Argentina e Nigéria, para lidar com “condições macroeconômicas e fiscais desafiadoras”. Segundo a companhia, esta frente deve ter um impacto de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão, que serão reconhecidos ao longo dos anos fiscais encerrados em 30 de junho de 2024 e 2025.

Não é a primeira vez que a P&G realiza uma baixa contábil na Gillette. Em 2019, ela registrou uma despesa de cerca de US$ 8 bilhões, segundo o The Wall Street Journal (WSJ), citando a desvalorização cambial e a contração do mercado de lâminas de barbear em alguns países desenvolvidos.

Quando adquiriu a Gillette, a P&G abriu caminho para aumentar suas vendas ao público masculino, além de incorporar cerca de US$ 10 bilhões em receitas. À época, o portfólio da empresa, que contava com produtos como Pampers e Ariel, estava voltado mais para o público feminino.

Na ocasião, o bilionário Warren Buffett, que por anos foi um grande investidor na Gillette, chamou a compra como o “negócio dos sonhos”.

Por anos, a P&G conseguiu colher os frutos da incorporação da Gillette, que foi desenvolvendo produtos mais sofisticados e com preços maiores. Mas com a chegada de marcas mais baratas a partir dos anos 2010 – como a Dollar Shave Club, adquirida pela Unilever em 2016, por US$ 1 bilhão – e com muitos homens passando a cultivar barba, a Gillette precisou rever seu modelo de negócio e apostar em produtos mais baratos.

No ano fiscal de 2023, encerrado em junho deste ano, a divisão de grooming, que inclui as lâminas de barbear da Gillette para homens, a marca Venus, voltada para mulheres, e os barbeadores elétricos Braun, registrou uma queda de 3% nas receitas, para US$ 6,4 bilhões. Já a receita total da P&G avançou 2%, para US$ 82 bilhões.

No documento em que informa sobre a baixa contábil na Gillette, a P&G diz que as bases da Gillette permanecem robustas, mas destaca que pode realizar novas baixas contábeis em função do ambiente macroeconômico ou desenvolvimentos adversos na própria divisão.

Por volta das 17h, as ações da P&G recuavam 3,74% na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), a US$ 146,38. No ano, elas acumulam queda de 0,2%, levando o valor de mercado da companhia para US$ 344,7 bilhões.