A indústria global de private equity enfrenta dificuldades para captar novos recursos, mesmo diante de uma série de incentivos oferecidos pelas gestoras. O cenário desafiador para negócios tem ofuscado os esforços de atração de investidores.
De acordo com dados da Preqin, obtidos pelo Financial Times (FT), os grupos de private equity arrecadaram cerca de US$ 592 bilhões nos 12 meses até junho — o menor volume em sete anos.
Isso ocorreu mesmo com muitas gestoras oferecendo uma série de vantagens, como corte nas taxas de administração para quem compromete recursos rapidamente para novos fundos, além de outros benefícios.
O resultado evidencia as dificuldades enfrentadas pelo setor, que viu o volume de novos aportes encolher quase um terço em relação aos recordes de 2021.
A manutenção dos juros em níveis elevados e o ambiente desfavorável para fusões e aquisições levaram muitas firmas a adiar a venda de trilhões de dólares em ativos, frustrando investidores — muitos dos quais não pretendem investir em novos fundos tão cedo.
Em 2024, as gestoras devolveram apenas 11% dos ativos aos investidores, o menor índice desde 2009, segundo a Bain & Co.
Havia expectativa de melhora neste ano com a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, baseada na visão de que sua administração republicana seria pró-negócios, com promessas de desregulamentação.
A política de tarifas de importação adotada pelo governo Trump, no entanto, pesou sobre o mercado, especialmente no primeiro trimestre deste ano.
Uma pesquisa feita em abril pela consultoria Campbell Lutneys, citada pelo FT, revelou que 33% dos limited partners pretendiam desacelerar seus investimentos em mercados privados após a imposição das tarifas. Outros 8% afirmaram ter paralisado completamente os aportes.
A dificuldade de levantar recursos também é agravada pelo fato de o mercado ter ganhado novas gestoras de private equity, gerando uma intensa disputa por recursos. Essa é a situação vivida na Europa, em que a Advent International, a Permira e a Bridgepoint buscam cerca de US$ 25 bilhões, € 17 bilhões e € 8 bilhões, respectivamente, segundo apuração do FT.
Para contornar o cenário, algumas gestoras têm recorrido a estratégias vistas como controversas. Além dos cortes nas taxas de administração, algumas casas passaram a vender ativos para si mesmas — prática que bateu recorde no primeiro semestre, segundo o banco Jefferies.
Essas operações envolvem a transferência de ativos de fundos antigos para veículos mais novos, também sob gestão das mesmas empresas. O volume dessas transações somou US$ 41 bilhões na primeira metade do ano.