A Disney parece ter se apropriado da frase "ao infinito e além" do personagem Buzz Lightyear, de Toy Story, franquia criada pela Pixar Studios, de propriedade da The Walt Disney Company, para anunciar, pelo quarto ano consecutivo, o aumento nos planos de assinatura do Disney+.
O grupo anunciou na terça-feira, 23 de setembro, que vai aumentar os preços do Disney+, sua principal plataforma de streaming. Os novos valores passam a vigorar no próximo dia 21 de outubro e a mudança está restrita, a princípio, aos usuários dos Estados Unidos.
Nessa nova conta, o plano mensal que inclui anúncios sairá de US$ 7,99 para US$ 11,99, enquanto o plano premium, sem anúncios, passará a ser de US$ 18,99 mensais, contra o valor anterior de US$ 13,99. Já a assinatura anual dessa modalidade saltará de US$ 30 para US$ 189,99.
Em outra ponta, o pacote mensal com anúncios que reúne o Disney+ e o Hulu terá um aumento de US$ 2. Já o que combina Disney+, Hulu e ESPN ficará US$ 3 mais caro, o mesmo aumento previsto para o plano com Disney+, Hulu e HBO Max.
Esse é o quarto ano consecutivo em que a Disney sobe os preços da plataforma, lançada no fim de 2019. O último aumento veio em outubro de 2024, quando a companhia elevou os preços do serviço em até 25%. No mesmo ano, a empresa registrou seu primeiro resultado positivo na divisão de streaming.
A estratégia de elevação dos preços não está restrita ao grupo. Após anos de investimentos pesados para escalarem suas plataformas, outros players nesse espaço, como Netflix e Amazon Prime, também têm ampliado o valor dos seus serviços ao focarem mais a lucratividade dessas operações.
Nesse contexto, a última meta traçada pela Disney é alcançar um lucro operacional de US$ 1,3 bilhão para a sua divisão de streaming no ano fiscal que será encerrado neste mês de setembro.
Nos números mais recentes dessa operação, relativos ao terceiro trimestre fiscal encerrado em 28 de junho, o Disney+ alcançou uma base de 127,8 milhões de usuários, o que representou um avanço anual de apenas 1%.
Esse crescimento foi puxado especialmente pelas operações internacionais do serviço, que somaram 69,9 milhões de usuários. Nos Estados Unidos e no Canadá, por sua vez, a base ficou estável, em 57,8 milhões de assinantes.
A divulgação do balanço veio acompanhada ainda de um guidance da Disney projetando um crescimento de mais de 10 milhões de usuários em sua base total de streaming no quarto trimestre fiscal. O grupo ressaltou, porém, que esperava um crescimento modesto especificamente no Disney+.
Sob os holofotes
Esse desempenho tímido não contemplava, porém, um roteiro polêmico que foi encenado recentemente, com a gigante de mídia e entretenimento como uma de suas protagonistas. E que acaba realçando o fato de que o anúncio de hoje talvez tenha sido feito em um momento inoportuno.
No último dia 17 de setembro, a ABC, emissora da Disney, anunciou a suspensão por um período indefinido da exibição do programa “Jimmy Kimmel Live”. A decisão veio na esteira da repercussão negativa de comentários feitos por Kimmel sobre o assassinato do ativista republicano Charlie Kirk.
Dois dias antes, durante a abertura do programa, o apresentador e comediante sugeriu que o suposto assassino de Kirk era um apoiador do presidente Donald Trump. Na sequência, redes como a Nexstar e Sinclair anunciaram que deixariam de exibir a atração em suas afiliadas.
A polêmica também alimentou as manifestações e a pressão exercida por nomes como Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC). Além de aquecer ainda mais o caldeirão político e a polarização nos Estados Unidos.
Em meio a esse clima cada vez mais acirrado, a decisão da Disney, por meio da ABC, de suspender o programa também colocou o grupo na mira dos opositores às políticas e práticas defendidas por Trump e seus partidários.
A suspensão foi classificada, por exemplo, como um “momento sombrio para liberdade de expressão” nos Estados Unidos em uma carta da União Americana pelas Liberdades Civis assinada por mais de 400 celebridades. Entre elas, os atores Tom Hanks e Meryl Streep.
Ao mesmo tempo, nomes como John Oliver, apresentador do “Last Week Tonight”, chegaram a pedir que os usuários cancelassem justamente suas assinaturas dos serviços de streaming da Disney. Em paralelo, a movimentação por um boicote às plataformas também ganhou força nas redes sociais.
Nesse cenário, a Disney anunciou no início desta semana que voltaria a exibir o “Jimmy Kimmel Live”, o que não significa que os ânimos serão apaziguados nesse front. Tanto a Sinclair quanto a Nexstar, que somam dezenas de afiliadas, ressaltaram que irão substituir a atração por uma programação de notícias.
Diante desse fogo cruzado, as ações da Disney têm queda de 3,3% desde a suspensão do programa. Os papéis fecharam o pregão dessa terça-feira com ligeira baixa de 0,28%, dando ao grupo um valor de mercado de US$ 201,8 bilhões.