As primeiras canetas emagrecedoras fabricadas no Brasil, desenvolvidas pela farmacêutica EMS, chegam às farmácias na próxima segunda-feira, 4 de agosto, em um movimento que vai mexer no bilionário mercado dominado pela dinamarquesa Novo Nordisk e pela americana Eli Lilly.
Estarão nas prateleiras 100 mil unidades do Olire, medicamento para tratar obesidade, e mais 50 mil unidades do Lirux, que funcionará no combate à diabetes tipo 2. Os dois são produzidos com o princípio ativo liraglutida.
Na quarta-feira, 30 de julho, as primeiras unidades dos medicamentos deixaram a fábrica da companhia em Hortolândia para centros de distribuição das duas principais redes varejistas farmacêuticas do País, o grupo RD Saúde (Raia e Drogasil) e a rede DPSP (Pacheco e São Paulo), primeiras a receber os produtos.
A partir de segunda, estarão à venda nas unidades físicas e nas redes online das farmácias. Nos primeiros dias, estarão disponíveis para clientes das regiões Sul e Sudeste. Na sequência, começarão a ser comercializados nos demais estados do País. Nas demais redes, a tendência é que os remédios cheguem até o fim de agosto.
No caso do Olire, serão vendidas caixas com uma e três canetas na embalagem. Usada na dose máxima, cada caneta tem duração de seis dias. Com a caixa maior, o prazo sobe para 18 dias. O Lirux será vendido na dosagem com uma e com duas canetas na caixa. Na dose máxima, dura 10 dias.
“Olire e Lirux consolidam a presença da EMS entre os principais players globais da indústria farmacêutica em termos de inovação, de capacidade industrial e de promoção da saúde em escala global”, diz Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS, ao NeoFeed.
O objetivo da EMS é capturar parte significativa do mercado de canetas para emagrecer no Brasil, que neste ano deve alcançar a marca de R$ 5 bilhões. A previsão é da consultoria IQVIA, com base na perspectiva das varejistas em relação aos medicamentos análogos ao GLP-1. O dado integra relatório do banco BTG Pactual.
Até aqui, o mercado tem sido dominado pela Novo Nordisk, detentora das patentes do Ozempic e Wegovy, que têm a semaglutida como princípio ativo, e a americana Eli Lilly, que tem ganhado enorme projeção com as vendas do Mounjaro, caneta produzida a partir da tirzepatida.
O preço final ao consumidor já está definido. As caixas de Olire e Lirux com uma caneta vão custar R$ 307,26. O Lirux com duas canetas sairá R$ 507,7, e o Olire com três canetas, R$ 760,61. Os produtos podem ser comprados com desconto de 10% a partir do cadastro no portal EMS Saúde.
No início de junho, o NeoFeed revelou, com exclusividade, que as canetas produzidas pela farmacêutica chegariam ao mercado na primeira semana de agosto. Na prática, como são lançados com nome comercial, são considerados medicamentos similares e não genéricos.

Na ocasião, Sanchez contou que, até o fim de 2026, a perspectiva é de que os dois medicamentos alcancem receita de R$ 100 milhões. Até dezembro deste ano, o planejamento é de comercializar 250 mil unidades de Olire e Lirux e, em 12 meses, alcançar o volume de 500 mil caixas.
No caso do remédio para obesidade, o produto referência é o Saxenda, e, para o diabetes, é o Victoza, ambos produzidos pela Novo Nordisk. A patente dos medicamentos expirou no Brasil em novembro de 2024.
O preço cheio do Saxenda com três canetas na DPSP é de R$ 1.058. Isso significa que o produto da EMS chegará custando 28,1% a menos do que o principal concorrente na rede farmacêutica, sem levar em consideração os descontos aplicados.
A chegada às prateleiras ocorre oito meses após a aprovação, em dezembro de 2024, por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para o início do processo de produção.
Os produtos chegam às redes farmacêuticas sob a nova determinação da Anvisa, em vigor desde o fim de junho, em que as canetas emagrecedoras só podem ser vendidas a partir da retenção da receita médica, justamente para coibir o uso desenfreado e sem orientação.
As canetas de liraglutida são as primeiras análogas ao GLP-1 que serão produzidas pela EMS. Em junho de 2026, expira no Brasil a patente da semaglutida. A partir desse momento, diversas farmacêuticas no Brasil, como Cimed, Hypera Pharma, Biomm, além da própria EMS, irão colocar no mercado suas versões do medicamento.
Para a produção dos novos medicamentos, a EMS realizou um ciclo de investimentos de cerca de R$ 500 milhões nos últimos 10 anos, somando a construção da planta industrial no interior de São Paulo e os custos de produção e desenvolvimento das canetas. Mais R$ 100 milhões devem ser aportados para a linha de produção do similar da semaglutida, no ano que vem.
Com a produção em andamento, a companhia segue com a perspectiva de que, dois anos após o lançamento, os medicamentos similares para combater a obesidade representem 25% do faturamento da companhia. A previsão é que a EMS feche 2025 com R$ 10 bilhões de receita.
A partir da consolidação do Olire e Lirux no Brasil, a companhia já trabalha com a perspectiva de exportação para os Estados Unidos, a partir de uma parceria com uma distribuidora local. O mercado americano é considerados um dos mais relevantes do mundo na venda de canetas para emagrecer.
Mas, na hipótese de um impacto maior em medicamentos do tarifaço de 50% do presidente americano Donald Trump sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, um dos cenários que pode surgir à mesa envolve a própria produção desses medicamentos em solo americano. Essa definição, no entanto, só deve ocorrer nos próximos meses, a partir de um cenário mais claro.