Diante da pior crise de sua história, a Intel está sob novo comando. Após meses sendo liderada por dois executivos interinos, que assumiram o comando em dezembro depois da demissão de Patrick Gelsinger, a icônica fabricante de microprocessadores elegeu Lip-Bu Tan como novo CEO.

A escolha de Tan foi bem recebida por Wall Street. Por volta de 12h04, as ações da Intel subiam 15,9%, a US$ 23,98. Em 12 meses, porém, os papéis acumulam queda de 44,5%, levando o valor de mercado a US$ 103,7 bilhões.

Os analistas do Bank of America (BofA) elevaram a recomendação para a Intel de venda para neutro e o preço-alvo de US$ 19 para US$ 25, afirmando que Tan possui um “histórico robusto”, destacando sua experiência no mercado de microprocessadores e sua familiaridade com a empresa. “Nós realmente gostamos da indicação do novo CEO”, disseram os analistas.

Tan, ex-CEO da Cadence Design Systems, que produz softwares utilizados por praticamente todos os grandes fabricantes de chips, não é novo na Intel. Ele foi membro do conselho de administração até agosto do ano passado, diante de supostos desentendimentos em relação aos rumos da companhia no mandato de Gelsinger, segundo informações do jornal Financial Times.

Agora, na cadeira de CEO, Tan vai ter um longo trabalho para recuperar a Intel, que perdeu o “bonde da história”, ficando para trás em relação à concorrência no desenvolvimento de microprocessadores para inteligência artificial (IA), a ponto de se tornar alvo de outras companhias e fundos. Ele é o quarto CEO da Intel em sete anos.

Em sua primeira declaração, Tan destacou que a Intel será uma empresa “focada em engenharia”, para desenvolver os melhores produtos e atender a demanda dos clientes.

“Em áreas em que temos força, vamos dobrar a aposta e ampliar nossas vantagens”, diz ele na nota divulgada pela companhia na quarta-feira à noite, 12 de março.

“Em áreas em que estamos atrás da concorrência, nós precisamos tomar riscos calculados para realizar disrupções e dar um salto. E em áreas em que o nosso progresso tem sido mais lento que o esperado, precisamos encontrar formas de retomar o passo”, complementou.

Além da necessidade de ajustar as operações, Tan terá de lidar com uma geopolítica mais tensa, em que os microprocessadores fazem parte da disputa comercial entre Washington e Pequim, com os Estados Unidos tentando retomar a produção interna.

Atualmente, a maior parte dos principais microprocessadores são fabricados em Taiwan, um risco para as companhias americanas diante da sinalização da China de que pretende retomar a ilha, vista pelo Partido Comunista como uma província separatista, e não um país independente.

Como se não bastasse, a Intel passa por dificuldades financeiras, gastando bilhões de dólares em novas fábricas para alcançar a concorrência, mas ainda sem ver sinais concretos de uma reviravolta, levando muitos investidores a defender cortes de gastos e venda de ativos.

No ano fiscal de 2024, encerrado em 28 de dezembro, a companhia reverteu o lucro apurado no ano anterior e registrou prejuízo de US$ 18,8 bilhões. A receita caiu 2%, para US$ 53,1 bilhões, com a margem bruta caindo 7,3 pontos percentuais, a 32,7%.