Ainda que o mundo caminhe na direção de transição energética, com diferentes indústrias investindo no uso de combustíveis limpos e na redução das emissões de gases do efeito estufa, há uma necessidade urgente de se investir em combustíveis fósseis. Isso, pelo menos, é o que acredita Bernard Looney, CEO da BP, gigante britânica do setor petrolífero.
Nesta segunda-feira, 31 de outubro, Looney afirmou durante uma conferência em Abu Dhabi que parte da estratégia da companhia passa por investir em combustíveis compostos por hidrocarbonetos – moléculas encontradas em combustíveis fósseis derivados do petróleo. “O sistema de energia de hoje é um sistema de hidrocarbonetos”, disse.
O pronunciamento de Looney chama a atenção uma vez que a BP é uma das empresas que já firmaram compromisso para reduzir suas emissões de gases poluentes e se tornar neutra em carbono até 2050. “O mundo precisa, mais do que nunca, de uma conversa e de uma série de ações que estão envolvidas nas práticas e nas realidades de hoje e de amanhã”, afirmou.
Para concretizar essas duas frentes, Looney afirmou que a companhia vem “tentando produzir hidrocarbonetos com as menores taxas de emissões possíveis”, além de investir na transição energética, dando prioridade ao uso de combustíveis limpos – como energia eólica.
Do outro lado, a justificativa do executivo para a exploração de combustíveis fósseis é a necessidade de variar a fonte energética. Ele cita como exemplo a crise de energia na Europa causada pelos efeitos da guerra na Ucrânia.
"Se alguém perguntasse na Europa há dois ou três anos o que eles queriam de energia, eles teriam quase exclusivamente dito net-zero”, afirma. “Se eu perguntar hoje o que querem da energia, eles inevitavelmente dirão que querem um sistema de energia que funcione.”
O que chama atenção é o timing da declaração. O pronunciamento ocorre num momento acalorado do debate sobre o uso de fontes de energia fóssil. Vale lembrar os recentes protestos de grupos ativistas – como o Just Stop Oil, com atos em museus no Reino Unido e na Holanda.
Avaliada em US$ 103,5 bilhões – 22% a mais do que no começo do ano, a BP é uma das maiores empresas do setor petrolífero do mundo. Suas concorrentes são gigantes como Exxon Mobil, Chevron, Shell, Total Energies, entre outras. As duas primeiras são as líderes de mercado e estão avaliadas em US$ 461,8 bilhões e US$ 354 bilhões, respectivamente.
De acordo com dados da empresa de pesquisa Rystad Energy, as gigantes do petróleo devem investir mais de US$ 932 bilhões em infraestrutura de combustíveis fósseis até 2030.
Buffet de olho
Com status de lenda entre os investidores, o bilionário Warren Buffet também é uma figura presente neste setor. Em agosto, a Associated Press relatou que, somente em 2022, sua gestora, a Berkshire Hathaway, aumentou sua exposição no mercado de petróleo de gás ao investir mais de US$ 11 bilhões em ações da petrolífera americana Occidental Petroleum.
O setor de energia é um dos mercados que Buffet olha com atenção há anos, sem restringir suas apostas apenas ao petróleo e gás. Um exemplo é o investimento na fabricante chinesa de automóveis BYD. Em setembro, a gestora do bilionário vendeu 8% das ações que detinha na empresa e lucrou US$ 600 milhões – 35 vezes o valor investido.
No caso da Occidental Petroleum, no entanto, os valores envolvidos são bem maiores. A Berkshire Hathaway, que agora detém quase 20% do negócio, já foi autorizada por órgãos dos Estados Unidos a adquirir até 50% das ações da petrolífera. Para alguns investidores, isso seria um passo rumo a uma aquisição completa da empresa, o que custaria algo em torno de US$ 50 bilhões.