Desde 2021, quando abriu capital, os M&As foram a principal via percorrida pela Orizon para ampliar seu mapa de operações e consolidar seu nome no mercado de gestão de resíduos. Em termos de magnitude, nenhum desses acordos se compara, porém, ao seu mais novo passo nessa avenida.
A companhia anunciou na manhã desta quarta-feira, 17 de dezembro, a incorporação da Vital Engenharia Ambiental, empresa de gestão de resíduos que pertence ao grupo Queiroz Galvão. Fruto de uma negociação que teve início há cerca de um ano, a transação foi avaliada em R$ 3 bilhões.
O acordo será baseado na troca de ações. Nesses termos, a família Queiroz Galvão se une aos atuais controladores da operação – a gestora eB Capital e os acionistas de referência Milton Pilão e Ismar Assaly, respectivamente, CEO e chairman da Orizon, que também permanecerão em seus cargos.
Na materialização do negócio, serão emitidas 41.197.230 ações ordinárias da Orizon. E, com esse arranjo, todos esses acionistas passarão a compor o novo bloco de controle da companhia, com uma fatia de 60% do capital. Os 40% restantes serão o percentual do free float da empresa.
“Essa transação é transformacional e é o maior acordo da nossa história”, diz Pilão, em entrevista ao NeoFeed. “O mercado de resíduos é a próxima grande fronteira de investimentos em infraestrutura no Brasil e, com esse passo, nos tornamos a maior companhia de resíduos na América Latina.”
Alguns números traduzem a empresa resultante desse acordo. A Orizon está chegando a um total de 30 ecoparques, em 15 estados, ao incorporar 12 ativos da Vital. Ou seja, em apenas uma transação, a empresa traz um volume muito próximo das 13 operações que adicionou a esse mapa desde 2021.
Em outro dado, a “nova” companhia salta de um volume anual de 8,7 milhões de toneladas de resíduos “dentro de casa” para 14 milhões de toneladas. E nasce com uma receita combinada de mais de R$ 3 bilhões, um Ebitda próximo de R$ 1 bilhão e um lucro líquido superior a R$ 350 milhões.
Para se ter uma dimensão, no acumulado dos nove primeiros meses de 2025, a Orizon reportou uma receita de R$ 786 milhões, alta de 16,7% sobre o mesmo período de 2024. Já o Ebitda avançou 8,9%, para R$ 366,4 milhões, enquanto o lucro líquido recuou 33,7%, para R$ 50,5 milhões.
Pilão chama a atenção para os efeitos da incorporação da Vital em outro indicador, que costuma ser um ponto de atenção dos investidores em acordos desse porte: a alavancagem da nova operação. A Orizon encerrou o terceiro trimestre com um índice de 2,20 vezes nessa linha.
“A Vital tem praticamente quase zero de dívida e quando for incorporada, vai derrubar a nossa alavancagem”, diz Pilão. “Então, vamos ter balanço para seguir investindo fortemente nas plantas de biometano, biogás e em todas as nossas vertentes de crescimento.”
Complementaridade e estreia na coleta
Sob essa orientação, a Orizon tem um mapa extenso para turbinar ainda mais esses indicadores ao escalar sua tese de rentabilizar os aterros com o desenvolvimento de novos negócios nesses ativos – das plantas de biogás e biometano às operações de reciclagem, fertilizantes e créditos de carbono.
Nesse pacote, um dos pontos ressaltados é a complementaridade geográfica dos ativos das duas operações. Pilão cita, por exemplo, o reforço dos aterros que a Vital mantém em grandes capitais como São Paulo e Belo Horizonte.
“Nós não estávamos, até então, em São Paulo, e, em Minas Gerais, nossa participação era pífia”, diz. “A Vital amplia nosso posicionamento nacional. E todos esses aterros ainda estão em ramp up. Vamos ter a possibilidade de colocar biometano, reciclagem e crédito de carbono em todos eles.”

O exemplo do biometano ilustra bem os avanços embutido nessa combinação. Com a adição dos ativos da Vital, o potencial de geração de biometano da Orizon salta do patamar atual de 1,3 milhão de metros cúbicos por dia para 2 milhões de metros cúbicos diários.
“Isso sem falar nos pontos básicos de uma transação desse tamanho, que são os ganhos de eficiência operacional, SG&A e redução de custo”, afirma. “Mas os ganhos estratégicos são tão grandes que acabam se sobrepondo.”
Sob essa ótica, a transação abre as portas para que a Orizon faça sua estreia em um ponta da cadeia, na qual, até então, não atuava: a coleta de resíduos. Hoje, a Vital mantém 8 contratos de concessões de gestão integrada, que incluem da coleta à destinação final. Um deles, na cidade de São Paulo.
“Quando você tem uma concessão em que o aterro é o pilar de vários serviços, a coleta é o principal deles”, diz Pilão. “Então, além de multiplicar nossa receita com esses novos ativos, vamos poder começar a montar esse mesmo modelo nos meus outros 18 ecoparques.”
Ele observa que esse olhar para o formato de gestão integrada já era um questionamento de diversos investidores da Orizon. E que esse modelo tem um horizonte de pelo menos duas dezenas de projetos em desenvolvimento para se tornarem concessões ou parcerias público-privadas no País.
Mudanças no conselho e foco na integração
Enquanto mira esse pipeline, a Orizon projeta que a transação, que ainda depende do aval de órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), seja aprovada sem sobressaltos no prazo de três a seis meses.
O acordo prevê ainda uma nova disposição no conselho de administração da Orizon, que passará de oito integrantes para 11 membros. Quatro desses assentos serão reservados à família Queiroz Galvão, outros quatro ao bloco dos atuais controladores e, os três restantes, para conselheiros independentes.
Com a obtenção do sinal verde para a transação, Pilão diz que o foco será a integração da Vital. Nesse contexto, ele não descarta novos M&As, mas ressalta que a tendência é de que essa agenda seja menos movimentada e restrita a eventuais acordos de menor porte.
A Orizon voltou a se movimentar nessa arena em outubro desse ano, com a compra de um aterro em Presidente Prudente, depois de passar mais de um ano focada em crescimento orgânico e sem anunciar nenhuma aquisição.
O que abriu as portas para o retorno a essa avenida foi um follow on de R$ 635 milhões, em maio. A oferta foi ancorada por um cheque de R$ 400 milhões de Pilão, Assaly e da eB Capital, que passou a dividir o controle com a dupla. O CEO ressalta um ganho, em particular, dessa associação.
“Nós privilegiamos muito mais o lado estratégico do que o financeiro. Queríamos um sócio que trouxesse adicionalidade de pensamento, de gestão, de networking internacional”, diz Pilão. “E a eB Capital se encaixou perfeitamente. Hoje, eles são quase como um sócio original da Orizon.”
Fundador e CEO da eB Capital, Eduardo Sirotsky Melzer, que tem tido uma participação estratégica nessa parceria, destaca, em nota, os frutos dessa associação e o novo movimento da Orizon:
“Desde a nossa entrada, enxergamos na Orizon uma combinação rara de capacidade de execução, qualidade do management e uma clara oportunidade de consolidação em um setor estruturalmente atrativo e com forte potencial de crescimento. A incorporação da Vital confirma essa leitura”.
As ações da Orizon fecharam o pregão da terça-feira, 16 de dezembro, com queda de 1,35%, cotadas a R$ 68,18. No acumulado de 2025, no entanto, os papéis têm uma valorização de 80,1%, dando à empresa um valor de mercado de R$ 6,5 bilhões.