Um cenário global marcado por questões como o novo mandato de Donald Trump, conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, e variações nos preços das commodities. Já no plano da América Latina e do Brasil, fatores como a depreciação cambial, a pressão inflacionária e o ciclo de aumento da taxa de juros.

Esse roteiro de perspectivas traçado para 2025 é o ponto de partida para um novo relatório do Santander, focado no segmento de transportes, que o NeoFeed teve acesso com exclusividade. E é o fio condutor para que o banco escolha a quatro principais empresas do setor com mais “combustível” para atravessar esse contexto de incertezas.

Em ordem de preferência, o quarteto que compõe o que o Santander classifica como as suas “principais ideias” para o próximo ano traz, no topo do ranking, a Rumo, seguida por GPS, Latam e CCR. E, no caso do mercado brasileiro, toma como base algumas barreiras adicionais nesse trajeto.

“Embora ainda mantenhamos uma postura fundamentalmente otimista em relação a muitas das empresas em nossa cobertura, também reconhecemos que a deterioração do ambiente fiscal do Brasil pode se traduzir em uma perspectiva mais pessimista em relação ao cenário de ações do País”, ressaltam os analistas.

Nessa direção, quatro são os argumentos que colocam a Rumo como principal escolha no relatório. Começando pela projeção de uma alta de 5% acima do consenso para o Ebitda da empresa em 2025, com um potencial aumento adicional se as negociações de preços forem mais fortes que o esperado.

“Em poucas palavras, esperamos um Ebitda de cerca de R$ 8,9 bilhões para 2025 (+14% em base anual), implicando um múltiplo EV/Ebitda de 6 vezes em nosso cenário base”, ressaltam os analistas, que mantêm a recomendação neutra, mas reduzem o preço-alvo da ação, de R$ 34 para R$ 27,50.

Além da “avaliação barata” do papel da Rumo, o banco enxerga um panorama favorável para a semeadura da soja na região Centro-Oeste, o que compensaria o tempo perdido e as chuvas intensas de novembro, ainda não refletidas no preço das ações.

O pacote tem ainda a perspectiva de uma oferta/demanda favorável, apoiada pela estimativa de que o déficit de capacidade logística de grãos no Mato Grosso crescerá substancialmente nos próximos 10 anos, o que coloca a Rumo em boa posição para sustentar uma dinâmica de preços sólida.

No caso da GPS, o Santander observa que a manutenção da sua visão construtiva se baseia em indicadores como o histórico recente de um ROE acima de 20%, combinado com projeções de um Ebitda 5% acima do consenso em 2025 e um crescimento composto anual de 20% no lucro por ação até 2033.

O banco também destaca a aquisição da GRSA, concluída em maio de 2024, acompanhada da expectativa de conclusão da integração dessa operação em 1º de janeiro de 2025, o que pode tornar mais evidente a entrega de sinergias no próximo biênio.

“A conclusão dessa integração também pode permitir que a GPS retome sua agenda de M&As menores, o que acreditamos que pode ser um gatilho para as ações”, escrevem os analistas, mantendo a recomendação de compra e mudando o preço-alvo de R$ 27,50 para R$ 25.

Nesse sentido, eles acrescentam que, embora as taxas de juros mais altas possam ser vistas como negativas levando-se em conta esse apetite inorgânico, a estimativa é de que a alavancagem da GPS recue para 1,0 vez em 2025, o que abre espaço para que o grupo busque novos M&As.

Já para a Latam, a visão de “céu de brigadeiro” é embalada por fatores como as perspectivas favoráveis de oferta e demanda; os custos estruturalmente mais baixos, turbinando a competitividade e a lucratividade; e um balanço patrimonial saudável, ainda com espaço para melhorar o custo da dívida.

Entre outros números que traduzem os ventos favoráveis para a operação, os analistas mantêm a recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 50 para o papel em 2025. E projetam crescimentos, respectivamente, de 9,8% na receita e de 20,8% no Ebitda da companhia aérea.

Completando o quarteto, o Santander destaca que a visão positiva sobre a CCR encontra um eixo na agenda atual da gestão da companhia, por meio de duas vias: a busca de eficiência e a resolução de reequilíbrios contratuais pendentes, o que o banco entende como principais impulsionadores de valor.

“Estimamos que as alterações e reequilíbrios contratuais em discussão (incluindo a otimização do contrato da MSVia), juntamente com os programas de redução de custos e receita incremental, podem, no total, adicionar R$ 3,7 por ação ao valor patrimonial”, escrevem os analistas.

Com recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 15,70 para a ação, contra o patamar anterior de R$ 18, eles ressaltam ainda que a participação em novos leilões e a reciclagem de ativos, como uma transação estratégica no negócio de aeroportos ou a venda de participação em ativos maduros, pode gerar um valor adicional à operação.