Três meses após iniciar a comercialização das canetas emagrecedoras Olire (para obesidade) e Lirux (para tratar diabetes), que têm a liraglutida como princípio ativo, as primeiras produzidas no Brasil, a farmacêutica EMS já coloca em prática o plano de exportação dos medicamentos para os Estados Unidos.
A exemplo do que acontece com a distribuição nacional, as canetas que irão para os Estados Unidos também serão produzidas na fábrica de Hortolândia, em São Paulo, principal unidade no País da companhia da família Sanchez.
O processo de venda em território americano será via licenciamento de uma farmacêutica local. A autorização da agência Food and Drug Administration (FDA) para a entrada do produto brasileiro no mercado dos Estados Unidos deverá sair no segundo trimestre de 2026. O pedido de registro foi feito em outubro de 2023.
Com isso, a EMS trabalha com o cenário de começar a venda dos medicamentos brasileiros no início do segundo semestre de 2026. Até o fim do próximo ano, a perspectiva é de colocar nas farmácias americanas cerca de 500 mil unidades.
No cenário de 12 meses, a partir da entrada do medicamento, o planejamento é vender 1 milhão de canetas nacionais à base de liraglutida para o público americano, em um mercado que caminha para ser maior do que o brasileiro, neste produto, para a EMS.
“Enxergamos o mercado brasileiro abastecido, com um volume acima do que prevíamos. Por isso, nosso foco para 2026 é a exportação do produto e a entrada no mercado dos Estados Unidos”, diz Marcus Sanchez, vice-presidente da EMS, em entrevista ao NeoFeed.
Assim como no caso do Brasil, a patente da liraglutida nos Estados Unidos, que tinha como medicamentos de referência o Saxenda e Victoza, da dinamarquesa Novo Nordisk, expirou em novembro do ano passado.
Segundo relatório recente do BTG Pactual, a perspectiva é que o mercado de canetas emagrecedoras no Brasil atinja entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões, com projeção de R$ 9 bilhões para 2026. Nesse valor estão os medicamentos a base de liraglutida, de semaglutida e tirzepatida (Mounjaro), da Eli Lilly, aprovado pela Anvisa em junho, e as marcas produzidas pela Novo Nordisk.
Ainda que em grande expansão no Brasil, a prateleira desses medicamentos no mercado americano é muito mais alta. Dados da consultoria Fortune Business Insights mostram que o mercado global é de US$ 62 bilhões. Os Estados Unidos respondem por 55%. O Brasil tem cerca de 3%.
“É o mercado mais importante para remédios de obesidade no mundo. Comparando com o Brasil, o medicamento de referência da liraglutida tem uma entrada maior. E é importante para a EMS ocupar este espaço”, afirma Sanchez.
A EMS já sabe que não usará o mesmo nome das canetas nos Estados Unidos, mas ainda não definiu como irão se chamar Olire e Lirux quando estiverem nas prateleiras das drugstores americanas.
Ao contrário do mercado nacional, em que ainda não tem concorrência direta para a liraglutida (além do remédio original), a EMS deve enfrentar nos Estados Unidos uma disputa mais acirrada. A Hikma Pharmaceuticals USA começou a vender sua versão genérica da caneta em dezembro do ano passado.
A Teva Pharmaceuticals também vende a liraglutida genérica no país comandado por Donald Trump, mas, nesse caso, em um acordo realizado com a Novo Nordisk. Em junho de 2024, ela lançou sua cópia do Victoza e, em junho deste ano, a do Saxenda.
A precificação ainda não está definida, mas, segundo o vice-presidente da EMS, o produto deve ser comercializado a um preço 30% menor do que o da Novo Nordisk, que é encontrado a cerca de US$ 500.
O início da exportação da liraglutida vai representar a entrada da EMS nos Estados Unidos. O grupo NC, controlador da EMS, é dono de 70% da Vero Biotech, biofarmacêutica que fica em Atlanta e é especializada no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para o setor.
“Não temos produtos da EMS por lá ainda. Esses serão nossos primeiros e o planejamento estratégico é estar nos Estados Unidos com poucos medicamentos, com mercados muito grandes, a exemplo do GLP-1”, diz Sanchez.
Crescimento no Brasil
O plano de entrada no mercado americano ocorre justamente no momento que o desempenho dos produtos nas prateleiras das farmácias brasileiras alcança um patamar acima do esperado pela companhia.
Conforme o NeoFeed revelou com exclusividade, os produtos da EMS chegaram às farmácias no início de agosto. O plano inicial era de atingir o volume de 250 mil canetas até dezembro, mas essa previsão já foi superada. A perspectiva é que haja um crescimento de 60% sobre o planejamento anterior.
Na semana passada, a EMS distribuiu às redes varejistas 270 mil canetas, que se somam às 100 mil unidades já vendidas dos dois produtos. Com mais 30 mil que estão em fase de produção, a EMS encerra o ano com 400 mil canetas no mercado brasileiro.
“A demanda está muito acima das nossas expectativas. Por isso, decidimos fazer esse reabastecimento no mercado ainda neste ano. Com isso, a gente espera manter essa performance elevada”, diz Sanchez. "O mercado é muito grande.”
Isso significa também que a empresa deverá bater a meta de unidades vendidas em 12 meses, que era de meio milhão de canetas. O novo plano, segundo Sanchez, é agora ultrapassar a marca de 600 mil unidades dos medicamentos até agosto.
Em receita, a venda dos medicamentos está além do que estava previsto pela companhia farmacêutica. Até o fim do ano, os dois produtos vão garantir um faturamento de R$ 65 milhões. Com isso, o plano de alcançar R$ 100 milhões em receita até o primeiro ano de vendas (em agosto) será superado bem antes e deve chegar perto de R$ 150 milhões.
Ainda que a patente da liraglutida tenha expirado há pouco mais de um ano, a EMS é a única farmacêutica brasileira a produzir o medicamento, além do remédio da Novo Nordisk. Isso a coloca, na avaliação do empresário, em vantagem sobre as concorrentes que ainda pretendem entrar neste mercado.
Na prática, muitas farmacêuticas estão aguardando o fim da patente da semaglutida (princípio ativo do Ozempic), também da Novo Nordisk e que deverá perder a exclusividade no fim de março. Há pelo menos 12 registros na Agência Nacional de Vigilância Sanitária para produção da caneta, a partir do ano que vem.
Além da EMS, já anunciaram que irão produzir suas próprias versões nacionais as farmacêuticas Biomm, Prati-Donaduzzi, União Química, Hypera, entre outras.
Em entrevista ao NeoFeed em novembro, o CEO da Cimed, João Adibe Marques, revelou que a empresa mudou os planos de produção local e agora irá trazer sua versão do Ozempic a partir do licenciamento com uma farmacêutica estrangeira, que ainda não tem presença no Brasil.
Para dar suporte ao volume que viria com a entrada no mercado dos análogos ao GLP-1, a EMS entregou, no ano passado, uma unidade anexa à fábrica de Hortolândia, somente para essa demanda. Os investimentos chegaram a R$ 500 milhões. Nos próximos meses, serão aportados mais R$ 100 milhões para a chegada da semaglutida.
Segundo o vice-presidente da companhia, o parque fabril tem capacidade de produzir oito milhões de canetas ao ano. Com novos equipamentos que irão chegar em 2026 e que integram o pacote de investimentos, a previsão é de alcançar 12 milhões em 2027.
Mas, na prática, o volume produzido ainda é bem menor do que a capacidade total, o que mostra a longa janela de crescimento. Em 2026, a fábrica vai produzir, somente para o mercado brasileiro, 1,4 milhão de unidades de Olire e Lirux, e entre 500 mil e 600 mil do similar do Ozempic.
O grupo NC deve fechar o ano com faturamento de cerca de R$ 10 bilhões. Somente da EMS, que lidera o mercado de genéricos no País, deve vir R$ 7 bilhões.