Computação em nuvem, inteligência artificial, meios de pagamentos digitais... Os bilionários da tecnologia estão voltando seus olhos (e carteiras) para algo bem diferente disso. Nos últimos anos, Bill Gates, Jeff Bezos, Sam Altman, Peter Thiel e Marc Benioff se envolveram na criação de uma nova forma de obter energia limpa e sem limites.

Sam Altman, por exemplo, divide seu tempo entre comandar as operações da startup de inteligência artificial OpenAI, responsável pelo ChatGPT, e investir em outros empreendimentos de tecnologia. Um deles é a Helion Energy, empresa que trabalha com reatores de fusão nuclear para a geração de energia limpa.

Fundada em 2013, a companhia já levantou US$ 577 milhões em aportes, segundo dados do Crunchbase. Deste montante, Altman foi responsável por US$ 375 milhões, uma vez que ele liderou a última rodada, de US$ 500 milhões, recebida pela startup no fim de 2021.

Outros apoiadores do negócio também são bem conhecidos no mercado de tecnologia. Dustin Moskovitz, por exemplo, liderou o round anterior, de US$ 40 milhões. Já Peter Thiel, através da gestora Mithril Capital Management, também é sócio do negócio desde a rodada seed, levantada em 2014.

O dinheiro levantado pela Helion está sendo utilizado para a construção do Polaris, seu sétimo protótipo de um gerador de fusão nuclear e na criação da primeira unidade de energia de fusão do mundo. A expectativa é de que este seja o primeiro reator de fusão nuclear a conseguir transformar a energia em eletricidade. A previsão é fazer isso no ano que vem.

O que é energia de fusão

Para entender melhor os planos da Helion, é preciso explicar o que é energia de fusão. Trata-se de uma forma de geração de energia para gerar eletricidade usando o calor das reações de fusão nuclear. Neste processo, dois núcleos atômicos são combinados para gerar um novo núcleo. Enquanto isso é feito, há a liberação de energia sem emissão de carbono com radioatividade controlada.

A ideia é capturar essa energia com reatores de fusão. O problema é como fazer isso, porque é necessário ter um ambiente confinado com temperatura, pressão e tempo de confinamento controlado. A temperatura necessária para gerar a fusão é de cerca de 100 milhões de graus celsius – o que torna o projeto complicado.

No fim do ano passado, dirigentes do Departamento de Energia dos Estados Unidos divulgaram à imprensa que, pela primeira vez na história, haviam conseguido realizar um processo que gerou mais energia do que consumiu através da reação de fusão nuclear, o que foi classificado pelos cientistas como "um dos feitos científicos mais impressionantes do século".

O Santo Graal da energia

Por conta disso, muitos passaram a acreditar que um avanço nesta área é iminente. Além da Helion, outras empresas também estão tentando superar esse desafio.

A Commonwealth Fusion Systems, uma startup que surgiu de um projeto desenvolvido no Massachusetts Institute of Technology, e que trabalha para criar usinas de energia compactas, é a principal aposta neste setor de Marc Benioff, CEO da Salesforce, e de Bill Gates, da Microsoft.

“É o Santo Graal. É o unicórnio mítico”, afirmou Benioff sobre o uso de energia de fusão para a geração de eletricidade ao jornal The Wall Street Journal. De acordo com ele, uma vez que a tecnologia mostrar resultados, “não há limites para o que será possível de ser feito".

Com US$ 322 milhões levantados em aportes, a General Fusion é a aposta de Jeff Bezos neste mercado – e também de fundos como Temasek Holdings e GIC. A startup canadense não foca no processo de fusão, mas na construção de uma cadeia de suprimentos de ponta a ponta para fazer a distribuição da energia quando ela estiver disponível.

Tudo isso, no entanto, ainda deve levar pelo menos alguns anos para ser feito. Enquanto isso não acontece, é preciso financiar essas operações. De acordo com a Fusion Industry Association, mais de US$ 5 bilhões em financiamento privado já foram feitos direcionados para este setor. Ao menos sete gestoras já levantaram pelo menos US$ 200 milhões para investirem em energytechs com essa missão.

Uma dessas gestoras é a Lowercarbon Capital – que no Brasil apostou na operação da Lemon. A gestora é fundada por Chris Sacca, que também foi um early investor de Twitter e Uber. Uma das apostas da empresa de capital de risco é a Avalanche Energy, que também trabalha no desenvolvimento de reatores de fusão compactos.

A tendência é de que nos próximos anos as startups que operam com energia gerada através de processos de fusão sejam ainda mais cobiçadas pelos investidores a partir dos avanços que a tecnologia vem obtendo.