No ano passado, o mercado financeiro foi pego de surpresa pela forte alta das ações da GameStop, uma varejista de jogos eletrônicos americana que estava à beira da falência. A partir de um movimento orquestrado por investidores de varejo, pejorativamente chamados de “sardinhas” pelos profissionais, os papéis reverteram a queda vista ao longo do ano e fecharam 2021 com alta acumulada de 705,6%.
O caso apresentou ao mundo o conceito de ação meme. São papéis que atraem a atenção de investidores, independente das condições da companhia, por conta de sua baixa liquidez e número significativo de operações de venda a descoberto, mecanismo que aposta na queda dos papéis. Nesses casos, os investidores se unem para pressionar quem está vendido a descoberto, movimento que resulta em altas acentuadas das ações.
O mais recente caso de ação meme foi vista nesta semana, depois que um estudante universitário de 20 anos dos Estados Unidos teve um lucro de US$ 110 milhões operando os papéis da varejista americana Bed Bath & Beyond, que passa por problemas financeiros.
Jake Freeman, um estudante de matemática aplicada e de economia da Universidade de Southern Califórnia, fez essa fortuna depois de adquirir 5 milhões de ações da companhia em meados de julho, apesar da situação da companhia.
A varejista, que vende artigos domésticos, viu seu prejuízo aumentar em sete vezes no primeiro trimestre do ano fiscal de 2022, terminado em 28 de maio, na comparação com o mesmo período do ano fiscal anterior, para US$ 358 milhões. A receita, na mesma base de comparação, caiu 25%, para US$ 1,4 bilhão.
Mesmo assim, Freeman adquiriu um volume relevante de ações a cerca de US$ 5,50 a unidade. De julho para cá, os papéis apresentaram uma valorização vertiginosa graças à organização de pequenos acionistas da Bed Bath & Beyond na plataforma Reddit, mesmo lugar em que os detentores de papéis da GameStop se juntaram para orquestrar o movimento de alta visto no ano passado.
Do momento da compra das ações até a venda, ocorrida na terça-feira, dia 16 de agosto, Freeman viu sua fatia na Bed Bath & Beyond valorizar quase 500%, resultando no lucro de centenas de milhões de dólares.
“Eu realmente não esperava um rally tão intenso”, disse Freeman em entrevista ao jornal britânico Financial Times. “Eu achava que seria um negócio que levaria mais de seis meses. Eu fiquei realmente chocado que tenha valorizado tão rapidamente.”
O estudante, que foi estagiário de um fundo de hedge no estado de Nova Jersey, chegou a deter uma fatia de 6,2% no capital social da Bed Bath & Beyond por meio do seu fundo, o Freeman Capital Management. Ele levantou os US$ 25 milhões utilizados para montar a posição com amigos e família.
A venda foi bem arquitetada por Freeman. As ações da Bed Bath & Beyond registraram queda de mais de 17% após o fechamento do mercado na quarta-feira, dia 17 de agosto, quando saiu a notícia de que o bilionário Ryan Cohen vai vender sua participação na empresa. Ele, por sinal, é entusiasta das ações memes, a ponto de ser o presidente do conselho de administração da GameStop.
A notícia continua tendo repercussão negativa para a Bed Bath & Beyond. Com valor de mercado de US$ 1,5 bilhão, as ações da empresa fecharam o dia com queda de 19,63% na Nasdaq, a US$ 18,55.
Enquanto isso, sem posição na empresa, Freeman decidiu comemorar o feito levando a família para jantar no subúrbio de Nova York, onde eles moram. Na quarta-feira, 17 de agosto, ele voltou para a Universidade, em Los Angeles.