Empresa americana de biotecnologia, a Moderna divulgou na segunda-feira, 18 de maio, que havia obtido resultados iniciais promissores para uma vacina contra a Covid-19. Com o anúncio, suas ações subiram mais de 30% e seu valor de mercado chegou a US$ 29 bilhões.
Mas, enquanto os olhos de Wall Street e do mundo se voltavam para a empresa, impulsionando sua valorização, nos bastidores, alguns executivos da companhia, incluindo o CEO Stéphane Bancel, exerceram suas opções e venderam US$ 30 milhões em ações da empresa.
Segundo arquivos registrados na Securities and Exchange Commission (SEC), na própria segunda-feira, Lorence Kim, diretor financeiro da Moderna, exerceu o direito de compra de 241 mil ações da operação, por US$ 3 milhões, e revendeu os papéis, imediatamente, por US$ 19,8 milhões.
No dia seguinte, Tal Zaks, diretor médico da companhia, seguiu a mesma estratégia ao exercer sua opção de US$ 1,5 milhão e vender, na mesma hora, as ações por US$ 9,8 milhões. Antes mesmo do anúncio dos resultados obtidos nos testes da vacina, Kim já havia vendido 20 mil ações, no valor de US$ 1,3 milhão, em 15 de maio.
Já na quarta-feira, 20 de maio, foi a vez de Bancel vender quase 17 mil ações, a US$ 70 cada. As transações renderam US$ 1,2 milhão ao CEO, o maior acionista individual da companhia.
Além dos executivos, a própria Moderna se desfez de parte de seus papéis e captou mais de US$ 1,3 bilhão em uma oferta administrada pelo banco Morgan Stanley.
De acordo com a Moderna, as vendas foram realizadas sob a regra 10b5-1, definida pela SEC. Ela permite que executivos de uma empresa de capital aberto possam estabelecer planos de negociações futuras de ações a preços definidos ou em datas pré-determinadas.
“Essas transações estão sendo executadas automaticamente de acordo com esses planos de negociação”, afirmou a empresa, em nota.
Sob suspeita
A despeito de estarem em linha com as regras da SEC, as negociações colocam a promessa de uma vacina da Moderna sob suspeição. E na ótica de seus próprios executivos. Dentro de uma linha racional, eles não venderiam as ações logo após um anúncio desse porte. Ainda mais com a perspectiva de uma valorização ainda maior da companhia, caso a droga contra a Covid-19 vingue de fato.
Em contrapartida, a venda de uma fatia considerável das ações levanta, no mínimo, a hipótese de que o projeto não é tão consistente. E, em um escopo mais amplo, abre caminho para as especulações sobre a possibilidade desses executivos estarem operando no mercado.
O fato é que, passado o entusiasmo inicial, as ações da Moderna voltaram a cair nos dias seguintes ao anúncio. Da cotação de US$ 80 no fechamento do pregão da segunda-feira, o papel encerrou a semana passada negociado a US$ 69. A empresa está avaliada agora em US$ 25,6 bilhões, um montante ainda expressivo, especialmente para uma companhia que não tem sequer um produto lançado.
Da cotação de US$ 80 no dia do anúncio dos testes promissores para a vacina, as ações da Moderna encerraram a semana passada negociadas a US$ 69
A queda das ações na Nasdaq reflete, em parte, a cautela do mercado quanto a esse portfólio ainda carente de resultados concretos. Outro componente que reforça esse cuidado é o fato de que a empresa não publica seus trabalhos em artigos e revistas científicas.
O próprio comunicado sobre os testes da vacina para a Covid-19 não traz dados mais detalhados. A Moderna informou que os estudos contaram com a participação de 45 voluntários, na faixa etária de 18 a 55 anos. E que essas pessoas produziram respostas imunes para prevenir a infecção do coronavírus.
Ao mesmo tempo, o anúncio foi acompanhado pelo silêncio do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês), órgão ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) e parceiro da Moderna no projeto.
Desde a divulgação, a empresa ganhou, no entanto, um voto de confiança em uma declaração do dr. Anthony Fauci, médico imunologista e um dos principais assessores do presidente americano Donald Trump no combate à pandemia.
“Embora os números tenham sido limitados, foram boas notícias porque atingiram e ultrapassaram um obstáculo importante no desenvolvimento de vacinas”, disse Fauci, em entrevista ao canal CNN, sobre os testes realizados pela Moderna. “Essa é a razão pela qual estou cautelosamente otimista.”
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