A Ford é um entre os tantos nomes que têm patinado na corrida das montadoras em direção aos carros elétricos. E, após uma série de idas e vindas nesse percurso mais acidentado – e com menos demanda – que o previsto, a gigante americana está novamente recalculando seus planos na categoria.

Na carona de um discurso de ampliar sua estratégia de eletrificação para “alcançar mais clientes”, “melhorar sua lucratividade” e buscar mais eficiência de capital nessa divisão, a companhia fez uma série de anúncios relacionados à área nesta quarta-feira, 21 de agosto.

Um dos ajustes anunciados envolve um veículo utilitário esportivo (SUV) de três fileiras, 100% elétrico. Há cerca de cinco meses, a montadora já havia adiado em dois anos o lançamento desse modelo e, agora, está descartando completamente a linha totalmente elétrica.

Esse modelo passará agora pelo uso de tecnologias híbridas, segundo a montadora, que, em paralelo, informou que, nos próximos anos, cerca de 30% dos seus investimentos serão destinados a carros totalmente elétricos, contra um índice anterior de 40%.

Na trilha dessa decisão sobre o SUV, a Ford disse que irá registrar US$ 400 milhões para a baixa contábil de certos ativos de produção do projeto. E observou que isso pode incorrer em despesas adicionais de até US$ 1,5 bilhão, que serão registradas como um item especial em seu balanço.

“Estamos comprometidos em criar valor de longo prazo construindo um negócio competitivo e lucrativo”, afirmou, em nota, John Lawler, vice-presidente e CFO da Ford.

No comunicado, a montadora ressaltou questões como o avanço dos players chineses, a partir de estruturas de custos vantajosas, engenharia de baixo custo, tecnologia avançada de baterias e experiências digitais.

A Ford destacou ainda que os consumidores estão olhando a categoria como uma via para economizar em combustível e manutenção. E que esse viés, combinado com a crescente oferta de opções, está ampliando a pressão nos preços, o que exige uma estrutura de custos “globalmente competitiva”.

“Com a compressão de preços e margens, tomamos a decisão de ajustar nosso roteiro de produtos, tecnologia e pegada industrial para alcançar a nossa meta de um Ebit positivo nos primeiros 12 meses de lançamento de todos os novos modelos.”

Como parte dessa busca por reduzir custos, a empresa também realinhou seu plano de fornecimento de baterias nos Estados Unidos. Entre diversas iniciativas, a empresa vai transferir parte de sua produção na área, em parceria com a LG Energy Solutions, da Polônia para Michigan, de olho em benefícios fiscais.

“Um veículo elétrico acessível começa com uma bateria acessível. Se você não é competitivo em custo de bateria, você não é competitivo”, afirmou Jim Farley, CEO da Ford.

As mudanças nesse trajeto envolvem ainda a orientação da Ford de concentrar sua próxima geração de veículos elétricos onde a empresa enxerga vantagens competitivas e espaço para desenvolver linhas com preços mais baixos. Isso inclui vans comerciais, picapes médias e grandes e SUVs de longo alcance.

Entre outros lançamentos programados nesse pacote, a montadora destacou uma van comercial que começará a ser produzida, em Ohio, em 2026. E, na sequência, uma picape de médio porte e outra, totalmente elétrica, de última geração, cujo lançamento foi adiado em um ano, para 2027.

Esse pacote de anúncios chega menos de um mês depois de a Ford divulgar o seu resultado do segundo trimestre. Na época, o balanço trouxe números avaliados no mercado como decepcionantes e foi seguido por uma derrocada nas ações da montadora.

Além de uma queda, ano contra ano, de 5,2% no lucro líquido, para US$ 1,8 bilhão, o resultado foi impactado por um aumento inesperado de US$ 800 milhões nos custos, relacionado às despesas com carros defeituosos sob garantia.

No período, o prejuízo contabilizado pela divisão de carros elétricos permaneceu estável na comparação com o mesmo intervalo de 2023, em US$ 1,1 bilhão. A receita da área recuou, porém, 37%, também para US$ 1,1 bilhão. Na ocasião, a Ford projetou uma perda de US$ 5 bilhões na unidade em 2024.

As ações da Ford estavam sendo negociadas com alta de 1,31% por volta das 11h50 (horário local) na Bolsa de Nova York. Os papéis registram uma desvalorização de 11,2% em 2024 e a montadora está avaliada em US$ 43 bilhões.