No maior IPO do mundo em 2025 até aqui, a gigante chinesa Contemporary Amperex Technology (CATL), maior fornecedora global de baterias para veículos elétricos, incluindo os da montadora Tesla e Volkswagen, viu suas ações terminarem o primeiro pregão em Hong Kong em alta de 16%.
Na abertura de capital, concretizada nesta terça-feira, 20 de maio, a companhia levantou US$ 4,6 bilhões, com uma avaliação de mercado de US$ 166 bilhões.
O fundador da CATL, Robin Zeng, já havia realizado abertura de capital em 2018 na Bolsa de Shenzen, mas ampliou a listagem para Hong Kong à medida que a empresa registra uma expansão agressiva global, que inclui uma fábrica de US$ 7,3 bilhões na Hungria.
Ao realizar a batida de gongo nesta terça-feira, que marcou o início da operação, Zeng disse que não estava satisfeito em ser “apenas um fabricante de componentes de bateria”, segundo informou o Financial Times. O empresário também revelou sua intenção de assumir a liderança na economia de carbono zero.
O sucesso do IPO da CATL, empresa fundada em 2011, é visto como um momento fora da curva para os mercados de capitais no mundo, que, de uma forma geral, têm enfrentado dificuldades para ganhar impulso neste ano, principalmente pela turbulência provocada a partir do tarifaço global implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de abril.
Para analistas, a alta das ações já no primeiro dia também refletia o grande apetite global por empresas chinesas de alta performance, justamente no período em que muitos investidores passaram a revisar suas atuações no mercado de ações dos Estados Unidos.
Com sede em Ningde, na província de Fujian, no sudeste da China, a CATL pode levantar até US$ 5,3 bilhões, se os bancos que subscrevem a venda, que incluem J.P. Morgan Chase e Bank of America, exercerem a opção de vender mais ações.
Para Jason Lui, chefe de estratégia de ações e derivativos da Ásia-Pacífico do BNP Paribas, o IPO da CATL acabou se beneficiando da busca de investidores internacionais pelos bons resultados da indústria de baterias, já que a escalada da guerra comercial, desencadeada por Trump, prejudicou o apelo pelos ativos americanos do setor.
“Estamos nesse tipo de cenário único, onde você tem uma empresa conhecida emitindo novas ações, também em um momento em que você tem um fator macro em que os investidores querem diversificar os ativos relacionados ao dólar americano”, disse Lui.
Wang Shuguang, membro do comitê de gestão da corretora chinesa CICC, que assessorou a venda, disse que a estreia bem-sucedida da CATL encorajaria mais empresas chinesas a buscar a listagem em Hong Kong. “O mercado de ‘ações A’ oferece liquidez robusta e avaliações mais altas, enquanto o mercado de Hong Kong permite financiamento flexível”, afirmou.
A companhia chinesa controla atualmente 37% do mercado mundial de baterias para veículos elétricos, mas ainda segue muito dependente do mercado chinês, que, no ano passado, representou 70% de sua receita global. Em 2024, a CATL registrou faturamento de US$ 50 bilhões e lucro líquido de US$ 7 bilhões.
Além da Tesla e Volkswagen, a empresa fornece para Ford e Mercedes-Benz. Sua principal concorrente, a também chinesa BYD, detém 17% do mercado global de baterias.
Lista do Pentágono
A decisão de Zeng em realizar o IPO da CATL em Hong Kong ocorre logo após a Casa Branca lançar dúvidas sobre as ambições da empresa de baterias nos Estados Unidos. Em janeiro, a companhia foi adicionada a uma lista do Pentágono de empresas que se acredita terem laços com os militares chineses, embora tenha negado qualquer relação.
Em abril, uma comissão do Congresso americano pediu ao J.P. Morgan Chase e ao Bank of America que interrompessem o trabalho na listagem. Apesar dos bancos de Wall Street aconselharem sobre a listagem, muitos investidores americanos onshore não terão acesso às ações, uma vez que a listagem foi arquivada sob um regulamento “Reg S” em vez de “144A” sob a lei de valores mobiliários dos EUA.
Uma fonte a par do negócio, segundo o FT, afirmou que outros investidores dos Estados Unidos optaram por esperar para investir após o início da listagem, exatamente para diminuir os possíveis questionamentos do governo Trump.
A petrolífera chinesa Sinopec e o fundo asiático Hillhouse Investment estavam entre os chamados investidores âncoras do IPO, que adquiriram participações antes que o público em geral pudesse comprar ações.
Eles se juntaram à Oaktree Capital Management, bem como a unidades de dois grupos estatais chineses, o Postal Savings Bank of China e a seguradora Taikang Life.