A queda da taxa de juros e a relativa estabilidade da economia brasileira nos próximos anos deve criar não apenas oportunidades de investimentos no mercado imobiliário, mas também vai abrir caminhos para as gestoras e fundos reciclarem seu portfólio de imóveis nos próximos dois anos.

Essa é a visão de Gastão Valente, head da GIC Real Estate, braço de investimentos imobiliários do fundo Soberano de Cingapura (GIC), para o Brasil. Ele destaca que o cenário é positivo para a casa e seus pares começarem a vender ativos, caso de projetos greenfield em que o GIC tem alta exposição.

“Devemos ter um mercado líquido e com fundos ativos, prontos para comprar ativos novos e que já tem renda, se encaixando muito bem na nossa estratégia”, disse ele na segunda-feira, 29 de janeiro, durante painel no 11ª edição Latin America Investment Conference (LAIC), organizado pelo UBS. “No Brasil, temos algumas janelas de liquidez, o que é uma pena. Mas considerando a situação, nossa intenção é aproveitar esse momento.”

Sem entrar em detalhes sobre quais ativos pretende se desfazer, Valente também tratou de setores em que o GIC tem bastante interesse. Numa avaliação top down dos setores, ele destacou a parte de data centers, em que os investimentos ainda são baixos no País, comparado com os outros países em que atua – o GIC como um todo investe em ativos em mais de 40 países. O valor dos ativos sob gestão não foi informado.

Outro ponto de interesse é a parte de logística, diante da perspectiva da demanda por galpões e os altos custos necessários para investir em novos projetos, considerando o aumento das despesas para a construção de novos ativos.

“A conta para desenvolver um novo galpão não está fácil, ela está apertada”, disse Valente. “Devemos ver uma redução da oferta nos próximos anos.”

Para Rodrigo Abbud, sócio fundador da VBI Real Estate, que tem R$ 10 bilhões sob gestão, outro ponto que deve tornar os ativos logísticos interessantes é o aumento da exigência dos consumidores de e-commerce de que seus produtos sejam entregues no menor tempo possível.

“Começou a haver uma descentralização dos galpões e os ocupantes passaram a investir mais em tecnologia para atender os consumidores”, afirmou. “A perspectiva é de ocupação de longo prazo.”

Abbud também vê boas perspectivas para o segmento de escritórios. Depois do boom de construção de lajes corporativas e as limitações impostas pela pandemia, ele começa a ver o mercado se reequilibrando, principalmente com a retomada do trabalho presencial. “Temos uma perspectiva de valorização dos aluguéis e redução da taxa de vacância”, disse.

Quem deve manter o bom momento em 2024 é o segmento de shopping centers, segundo André Freitas, CEO e CIO da Hedge Investments, que tem R$ 9 bilhões em ativos sob gestão.

Segundo ele, mesmo com os fundos ligados ao segmento crescendo cerca de 31,5% em 2023 enquanto o Ifix avançou 15%, o desempenho deve continuar forte. Ele citou o crescimento dos salários em 2023 como um fator que deve atrair mais pessoas aos shoppings e também o fato de os empreendimentos não dependerem apenas do consumo para expandirem.

Além disso, considerando que dificilmente novos empreendimentos devem surgir, considerando as dificuldades para se conseguir licenciamento, os ativos atuais devem manter o desempenho positivo. “Como é um segmento em que as alterações são mais lentas, existe uma inércia que mantém esse movimento (de crescimento)”, disse.