A China, o maior mercado de jogos do mundo, anunciou nesta sexta-feira, 22 de dezembro, uma série de novas leis com o objetivo de restringir gastos e recompensas que incentivam jogos de vídeo games.

A medida causou pânico no mercado e fez sumir em poucas horas quase US$ 80 bilhões em valor de mercado das Tencent e NetEase, as duas maiores empresas de jogos da China.

Os jogos online agora serão proibidos de dar recompensas aos jogadores se eles fizerem login todos os dias, se gastarem no jogo pela primeira vez ou se gastarem várias vezes no jogo consecutivamente. Esses são incentivos comuns em jogos online para conseguir frequência dos jogadores.

A medida foi um ataque certeiro em uma indústria que teve 2022 como o ano mais difícil da sua história, com a receita total caindo pela primeira vez após uma série de repressões do governo em 2021, e que tinha voltado a crescer este ano, com 13% de aumento da receita, chegando a  US$ 42,6 bilhões.

As ações da Tencent Holdings, a maior empresa de jogos do mundo, caíram até 16% em determinado momento, enquanto as da sua principal concorrente, NetEase, despencaram até 25% após a imprensa nacional e o governo publicarem o novo projeto de regras.

Já as ações da investidora de tecnologia Prosus, que possui uma participação de 26% na Tencent, seguiram a queda da investida, perdendo 14,2% nas primeiras negociações desta sexta-feira e estavam entre as maiores quedas no índice de ações pan-europeu (.STOXX).

Segundo o diretor executivo de vendas institucionais da corretora UOB Kay Hian em Hong Kong, Steven Leung, ouvido pela Reuters, a magnitude da queda não é apenas pela regulamentação em si, mas pela intervenção política demasiada.

"As pessoas pensaram que esse tipo de risco tinha acabado e começaram a olhar para os fundamentos novamente. Isso prejudica muito a confiança", disse Leung.

Pequim tornou-se cada vez mais dura com os videogames ao longo dos anos. Em 2021, a China estabeleceu limites rígidos de tempo de jogo para menores de 18 anos e suspendeu as aprovações de novos videogames por cerca de oito meses, citando preocupações com o vício em jogos entre os jovens.

Embora a repressão tenha terminado formalmente no ano passado com a retomada das aprovações de novos jogos, os reguladores continuaram a impor restrições para reduzir os gastos durante o jogo.

No entanto, as novas regras desta sexta-feira são as mais explícitas até agora destinadas a reduzir os gastos no jogo. Além de proibir recursos de recompensa, os jogos também são obrigados a estabelecer limites sobre quanto os jogadores podem recarregar suas carteiras digitais para gastos no jogo.

Os jogos também estão proibidos de oferecer recursos de sorteio baseados em probabilidade para menores e de permitir a especulação e o leilão de itens de jogos virtuais.

As novas regras também refletem as preocupações de Pequim com os dados dos utilizadores, exigindo que os editores de jogos armazenem os seus servidores na China.

Para não dizer que tudo foi ruim para a indústria de jogos, as novas regras incluíam uma proposta exigindo que os reguladores processem as aprovações dos jogos no prazo de 60 dias.

E, no mesmo dia, os reguladores chineses anunciaram licenças para 40 novos jogos importados para lançamentos nacionais. O que foi visto como um sinal da vontade de Pequim de permitir mais jogos no país, apesar de querer reduzir os gastos com jogos.