O primeiro compromisso de Eduardo Malheiros na manhã de segunda-feira, 23 de janeiro, estava distante do escritório na Vila Olímpia. A agenda do CEO do Grupo Leceres indicava que ele viajaria para a região de Piracicaba, noroeste da capital paulista, onde o turismo de aventura predomina nas cidades do entorno, como Brotas e São Pedro.
O executivo visitaria um empreendimento que ele deseja somar aos 1.950 quartos de 10 hotéis e resorts das bandeiras Wish, Prodigy, Linx e Marupiara. No seu plano de expansão de 2023, a proposta é dobrar o número de hotéis.
Malheiros assumiu como CEO em outubro do ano passado após Fábio Mader ter deixado o cargo para retornar à CVC Corp. Mader havia contado ao NeoFeed, em junho de 2022, que o plano do Leceres era investir em 31 empreendimentos para encerrar 2023 com 40 hotéis e resorts.
“Hoje é mais seguro dobrar o crescimento e entregar bem feito. É factível falar sobre o que está mais próximo de acontecer e conseguir mais de 20 hotéis e resorts, se for o caso”, diz Malheiros, em entrevista ao NeoFeed. “Nossa prioridade é melhorar o resultado, a estrutura e estarmos prontos para assumir qualquer hotel com o nosso padrão.”
O executivo, que era o sócio-diretor responsável pelos setores de turismo e hotelaria da Hectare, uma gestora de investimentos alternativos especializada em ativos imobiliários, prefere a cautela e os pés no chão nos M&As.
A redução no ritmo do apetite para aquisições é a constatação de que o empresário que sustentou o negócio após os tempos difíceis da Covid-19 vai querer aproveitar a retomada do turismo. Ou vender o ativo mais caro, principalmente pela corrida de grupos concorrentes que também estão analisando o mercado.
“Hotel é uma aquisição muito diferente. Se você acelera demais pode acabar tropeçando. Em mão de obra não há ganho de escala, apenas no marketing há possibilidade de sinergias”, afirma ele.
A expansão com empreendimentos greenfield segue em ritmo mais lento. O terreno da Leceres na praia de Ipioca, em Maceió, por exemplo, está no período do project finance. A estratégia é que toda essa parte específica seja resolvida este ano para que negócio seja aberto entre dois e três anos.
Concluir as possíveis aquisições e integrá-las de forma eficiente é um desafio tão grande como manter a operação rentável, algo que a R Capital, que adquiriu a operação do antigo GJP Hotels & Resorts, que pertencia a Guilherme Paulus, em setembro de 2021, conseguiu no ano passado. O Leceres faz parte do fundo Maastrich da R Cap, que detém 13 fundos e faz a gestão de R$ 2,1 bilhões.
Em 2022, o Ebitda, a geração de caixa da companhia antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações, foi de R$ 42 milhões, revertendo o resultado negativo de 2021. Quando se pega 2019, o ano anterior ao início da pandemia da Covid-19, o crescimento foi de 70%. Já a receita total foi de R$ 396 milhões em 2022, uma expansão de 39% sobre os R$ 284 milhões o período pré-coronavírus.
“Neste ano, a comparação com o primeiro trimestre do ano passado vai ser mais fácil pois ainda havia muita insegurança com a onda da ômicron. A partir do segundo trimestre vai ser um jogo mais difícil de superar e crescer”, afirma o CEO.
Os primeiros dados do ano, porém, deixam Malheiros e o Leceres otimistas. A taxa de ocupação média para o mês está perto de 80%, já considerando as reservas feitas. Além disso, tem surpreendido o fechamento de estadias numa janela curta de tempo (a partir de quinta-feira para o fim de semana, por exemplo), o que indica uma entrada de receita não projetada.
Os bons números vêm desde o Réveillon, quando a taxa de ocupação nas 10 unidades atingiu 92%, uma expansão de 9,5% sobre o período pré-pandemia, com uma alta de 60% no faturamento e um tíquete médio 48% maior.
“O turismo não voltou ao normal, ele está crescendo de forma diferente”, afirma Marta Poggi, sócia da consultoria Strategia Turismo. “O turista mudou e está valorizando experiências, a sustentabilidade, os cuidados com a comunidade local e o envolvimento com as pessoas do destino.”
Malheiros faz jogo duro para revelar qual foi a saída da rodovia dos Bandeirantes que ele pegou na região de Piracicaba. Mas uma coisa é certa: ele está longe de buscar experiências, como restaurantes assinados por grandes chefs. Para ele, apenas hotéis específicos aceitam esse tipo de atração.
“Hoje mais de 15% da minha receita vem de alimentos e bebidas e é toda nossa. Algo nessa linha precisa alavancar o hotel e virar o destino para outros turistas”, diz o CEO do Grupo Leceres, que só pensa em dividir experiências com o turista e aumentar o faturamento para os seus cotistas.